Março de 2006- Nº 01    ISSN 1982-7733
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Ponto Final

Ensaio enviado por Carlos Messias
24 anos, São Paulo-capital

Nos créditos iniciais parece mais um típico filme do cineasta: aquele fundo preto com os nomes apresentados naquela tipografia que se tornou tão característica. Mas percebemos uma diferença. Ao invés do típico jazz soando no fundo, dessa vez temos ópera.

A primeira cena também é uma surpresa. Primeiro porque mostra uma quadra de tênis, enquanto esportes nunca foram tema em seus filmes. Segundo, porque tem um narrador. Terceiro, porque a tomada é feita em câmera lenta.
Nesta cena aparece uma bola de tênis que pega na rede de raspão e gera aquela expectativa de se ela chegará ao outro lado ou não. É quando o narrador apresenta a idéia central do filme: bem ou mal, a nossa vida é definida pela sorte, pelo acaso, sendo isso que determinará se chegaremos do outro lado, ao nos depararmos com obstáculos, ou não.

Logo se percebe o equívoco cometido pela distribuidora do filme no Brasil, ao lançá-lo com o título Ponto Final. Do original, Match Point (ponto decisivo) para ponto final há uma diferença sutil na tradução, se colocada em relação à história do filme ou ao esporte tênis. Ponto Final, por mais que seja um nome forte, é um recurso de pontuação e como tal causa uma impressão de acabamento, fechamento. Enquanto ponto decisivo diz respeito a um momento efêmero que foge ao controle daqueles envolvidos e cede espaço ao acaso. O que deixa em aberto.

O enredo é o seguinte: Chris (Jonathan Rhys Meyers) é um alpinista social que ao trabalhar como instrutor de tênis em um clube de elite enxerga uma oportunidade de se dar bem na vida. Logo se aproxima de Tom Hewett, um bon vivant de família nobre. É então que Chris se prepara para infiltrar na família: desenvolve um gosto por ópera (que é o que inicialmente os aproxima), estuda Dostoiévisky para poder fazer comentários enriquecedores e sempre que pode provém à família o ópio de gente rica: elogios, reconhecimento pelo sucesso, massagens no Ego.
Chris não demora em se aproximar da irmã de Tom, Chloe, que logo se apaixona por ele. Então ele a manipula conseguindo ser aceito na família, vendendo uma versão barata de jovem humilde e esforçado que consegue bater as possibilidades e ascender socialmente por mérito próprio.
Ele se torna um deles, freqüenta suas festas, participa de suas sessões de tiro ao alvo, interage em suas discussões. Quando se vê, Chris está casado com Chloe, trabalhando em uma das empresas do patriarca e vivendo em um luxuoso loft no centro de Londres.
Enfim, Chris parece estar com a vida feita, não fosse por um simples detalhe que parecia ter superado: Nola Rice (interpretada por Scarlett Johansson).
Nesse filme, a sempre estonteante Scarlett vive seu personagem mais sensual e provocativo, algo também raro nos filmes de Allen.
Chris conheceu Nola logo que começou a conviver com a família Hewett, quando ela era namorada de Tom. Flertaram um pouco, fizeram amor em um campo de centeio em baixo de chuva, mas logo Nola colocou o freio na relação, pois afinal eles seriam cunhados. E quando Tom terminou com Nola ela sumiu sem deixar rastros.
Mas quando retorna, ela e Chris vivem uma tórrida paixão que é retratada por Allen de uma maneira pura, sensível e, mais do que tudo, implacável.
Mas quando a moça engravida tudo foge de controle. Ela exige que ele largue sua esposa, caso contrário ela mesma irá contar a verdade. Mas Chris, não querendo abrir mão do estilo de vida que o matrimônio lhe proporcionou, hesita em terminar o seu casamento e resolve matar Nola.

Esse tema já fora visitado por Woody em Crimes e Pecados. Mas agora, em toda sua maturidade como cineasta e, acredito eu, como pensador, ele o aborda de uma maneira superlativa. Tem a filosofia do acaso como pano de fundo e nos mostra como um único instante regido pela sorte pode definir as vicissitudes de nossas ações.

Ponto Final é uma obra prima. Narrada com agilidade, nem uma cena perde o sentido no contexto geral da história. As tomadas são belamente orquestradas, chegam a insinuar vertigem, e alguns cortes são propositalmente bruscos, nos levando diretamente à contradição e ambivalência de cada personagem, ao nos jogar à cena seguinte.

E Londres, cidade nunca antes visitada pelo diretor, que quase sempre filma em Nova Iorque ou, mais especificamente, em Manhattan, é mostrada em tomadas de tirar o fôlego.

Um suspense noir. Um drama amoroso. Uma comédia de humor negro. Um thriller cheio de reviravoltas. Uma tragédia tipicamente grega. Uma intensa história movida pelos mais básicos sentimentos humanos como amor e ódio, inveja e vingança.

Ponto Final não apenas é tudo isso, como se torna uma ópera contemporânea, uma teia de personagens e situações que só se tornam dramáticas pelo seu encadeamento orquestral, pelo fluxo da narrativa, pelas reviravoltas da trama, pela forma como o expectador se envolve na história.
Nos tornamos marionetes conduzidas por um mosaico de aspectos genuinamente humanos. Nos contradizemos, somos provocados. Recebemos um convite a nos identificar com o “vilão”, que é um sujeito perfeitamente passível de identificação. Torcemos por ele, compartilhamos sua amoralidade. Somos constantemente estimulados e provocados. E quando vemos estamos do outro lado, transitando pelos aspectos mais obscuros da psique humana.
Aqui, Allen abre mão da neurose e do Complexo de Édipo, se permitindo flertar com a luxúria. Seu foco não interpõe julgamentos. E o resultado não é nada menos que tentador.

O “segredo” de Brokeback Mountain>>>

E o título Woody Allen vai para... >>>

O olhar de Capote >>>

O Jardineiro Fiel >>>

 

CURIOSIDADES SOBRE O OSCAR

A Academia de Artes e Ciências Cinematográficas foi fundada em 11 de janeiro de 1927, quando 36 pessoas se reuniram no Ambassador Hotel, em Los Angeles, para formar a primeira organização do mundo dedicada exclusivamente a filmes.

Diz a lenda que o prêmio foi batizado de Oscar quando uma funcionária da Academia viu a estatueta e disse que ele se parecia muito com um tio dela, chamado Oscar. O apelido foi oficialmente usado a partir de 1939.

Durante a Segunda Guerra Mundial, as estatuetas do Oscar foram feitas em gesso, devido à escassez de metal na época. Após o fim do conflito, os ganhadores puderam trocá-las pela versão mais nobre, em ouro.

Vale observar que o troféu representa um cavaleiro apoiado numa espada. A figura está de pé sobre um rolo de filme, que apresenta cinco degraus – cada um deles simboliza uma das cinco categorias originais da Academia (atores, diretores, produtores, técnicos e escritores).

A primeira transmissão da festa de entrega dos prêmios da Academia pela TV ocorreu em 1953.

O Brasil concorreu ao Oscar de Melhor Filme em Língua Estrangeira 4 vezes: em 1962, com O Pagador de Promessas, em 1996, com O Quatrilho, em 1997, com O Que É Isso, Companheiro?, em 1998, com Central do Brasil, Cidade de Deus, muito premiado, não chegou a concorrer.

Os recordistas de Oscar: Ben-Hur, Titanic, SDA: O Retorno do Rei (11), Amor, Sublime Amor,..., E o Vento Levou (2 especiais) (10), Gigi, O último Imperador e O Paciente Inglês (9).

Walt Disney foi o homem mais premiado na história da festa: recebeu 26 estatuetas.

Titanic foi o único filme a levar os quatro oscar de “som" (trilha, canção, som e edição de som).

Os Beatles foram a primeira banda pop famosa a ganhar o Oscar de canção original. Eles receberam a estatueta em 1971 pela música Let it be do filme Deixe Estar, documentário sobre o quarteto de Liverpool.

A mais jovem atriz a receber o prêmio, no caso honorário, foi a então criança Shirley Temple. Tinha 6 anos.

O comediante Bob Hope foi o mais constante anfitrião de cerimônias Oscar. Ele apresentou a festa nada menos que 18 vezes.

As atrizes mais indicadas são Katharine Hepburn e Meryl Streep: 12 vezes. O diretor William Wyler também concorreu por uma dúzia de filmes.

A Itália é o país que mais recebeu prêmios na categoria de filme estrangeiro: foram dez, contra nove da segunda colocada ( França).

Quem comenta essas curiosidades é Edivânia Silva, 25 anos, jornalista.

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