Junho de 2006- Nº 02    ISSN 1982-7733
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Viva a Liberdade, Viva a Cidadania

 

Marcel de Lima
25 anos, ex-aluno do curso de Redação Jornalística Senac, 4° semestre de jornalismo e estagiário no The New York
São Paulo - capital

Entrevista para o Jornal Jovem

Entrevistado: Enio Moraes Júnior, 37, jornalista e professor de jornalismo, mestre em Ciências da Comunicação pela USP e especialista em Jornalismo Político e Econômico. Ele desenvolveu seu mestrado “A Formação Cidadã do Jornalista no Brasil” ao estudo das relações entre Cidadania, Educação e Imprensa.

“Ainda que possa ser fomentada no espaço familiar, nas relações sociais e pelos veículos de comunicação, a cidadania tem na escola um importante campo de discussão”.

Marcel - Qual é a importância dos jovens aprenderem cidadania?

Enio – Mais que aprender, mas “viver” cidadania é algo indispensável à liberdade e à realização de cada indivíduo. Além disso, ser cidadão é um caminho para respeitar o outro e o mundo em que vivemos. É um compromisso comigo, com o outro e com o planeta. Ser cidadão não é apenas preocupar-me com o meu trabalho, mas também com o desemprego do meu vizinho e com o desamparo e a fome do morador de rua e, a partir daí, questionar; propor; criar condições sociais para se resolver esse tipo de problema. Numa perspectiva mais ampla, é também me preocupar com a vida e a sobrevida deste planeta em que vivemos e que destruímos sistematicamente dia-a-dia poluindo rios, desmatando etc.

Marcel - Você acha que o ensino da cidadania realmente dá ao estudante uma base sólida?

Enio – Bom, em primeiro lugar poderíamos pensar o que, de fato, significa ensino. Ensinar é mais que cumprir um currículo, especialmente no caso da cidadania. É claro que o tema está nas grades curriculares das escolas, desde do nível fundamental até o superior e as pós-graduações. No entanto, cabe ao professor que pretende ensinar cidadania, de fato, começar respeitando o aluno como cidadão. Tendo, portanto, em sala de aula, uma postura cidadã.

Marcel - Como o perfil das universidades estimula os jovens no exercício da cidadania?

Enio – Talvez a principal colaboração que as universidades possam dar aos jovens nesse sentido seja a formação; a informação. Um indivíduo sem conhecimento dificilmente consegue ser cidadão. Aliás, como dizia Marshall, um inglês cujos estudos tornaram-se fundamentais para qualquer discussão que se pretenda fazer sobre o assunto, a educação está na base da cidadania. Além disso, quanto mais as universidades investirem na autonomia e na autoconfiança do estudante, mais elas estarão formando cidadãos.

Marcel - Qual é o papel do professor na formação da cidadania?

Enio – Nos anos 60, o americano Carl Rogers falava que no processo de ensino cabe ao professor investir no potencial do estudante, estimulá-lo a desenvolver o que ele é, e não vê-lo, prepotentemente, como um copo vazio a ser preenchido. Concordo plenamente com essa visão.

Marcel - Com a globalização, quais são os reflexos da cidadania quando aplicada localmente?

Enio – Boa pergunta! A cidadania, que na verdade nasce com um conceito local; nacional, foi ganhando ao longo da história um caráter global. É por isso que podemos entender que ser cidadão não é apenas comprometer-se com o país onde se vive, mas com o mundo. Neste sentido, as questões ecológicas ganham um espaço privilegiado nas discussões sobre cidadania e se fala, cada vez mais, numa ‘cidadania planetária’.

MarcelHá uma preocupação dos jovens com a cidadania?

Enio – Os jovens, os adultos e até mesmo as crianças, de modo geral, estão cada vez mais preocupados em apenas sobreviver. A cidadania tem sido uma preocupação de poucos, mas esses poucos são cada vez mais um número maior de pessoas. Parece que nessa virada de século as pessoas começaram a se dar conta de que viver não é apenas trabalhar e consumir num ritual umbilical e solitário. Estamos percebendo que viver é principalmente estar com as pessoas e sentir-se bem em sociedade, e por isso precisamos de uma sociedade e de um mundo melhores.

Marcel - Em seu ensaio “Quanto Custa Ser Jornalista?”, você diz: “Associo o jornalismo a um espaço de construção da cidadania em que os direitos e os deveres de cada indivíduo são preservados e defendidos. No meu entendimento, o jornalismo tem um aporte humano e ético indiscutíveis, mesmo que muito do que exista no mercado e se apresente como jornalismo tenha que ser jogado no lixo, abandonado, e pouco do que eu conceba e defenda seja efetivamente praticado”. Você acredita que “se” as escolas conseguirem ensinar para os estudantes cidadania, eles conseguiriam mudar a ética na vida real (no mercado, fora das escolas)?

Enio – Eu fiz esta observação a partir de uma pesquisa que fiz com estudantes de jornalismo da USP. Acredito que mudar a estrutura social e os ditames do mercado não é algo tão fácil, mas acho que quando as pessoas são colocadas em contato com a cidadania elas ficam mais inquietas e, acredito, dentro de algum tempo isso vai corroendo essa concepção ideológica de que o mercado existe independentemente de cada pessoa. Isso em si é uma mudança que situa a cidadania num novo patamar.

Marcel - Cidadania se aprende ou se conquista?

Enio – Nossa! Outra boa pergunta! Como profissional da educação, posso dizer que o aprendizado dentro de uma pedagogia cidadã, o que inclui respeito ao potencial do educando e uma relação democrática com a escola, são fundamentais para a conquista da cidadania. Acho que esses dois termos são indissociáveis. Como dizia Paulo Freire, a educação deve proporcionar ao estudante condições de participação social.


Marcel de Lima

SENAC
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