Jefferson
Cabral Elias
23 anos, advogado
São Paulo- capital
Ultimamente tenho
me perguntado sobre a posição ocupada pelo
jovem brasileiro no cenário político contemporâneo.
Nossos pais são
de uma época em que lutar pela volta da democracia
era o programa que proporcionava a maior adrenalina. A repressão,
a ditadura, a censura eram a força motriz da juventude
nacional que cresceu acuada, mas que não se calou.
Saiu às ruas e bradou contra as imposições
de um regime opressor.
Resultados práticos?
Talvez não tenha causado efeito direto nas decisões
do país que culminaram com o declínio da ditadura,
pois isso foi uma onda também internacional em toda
a América Latina e na Península Ibérica,
e os ditames de tal política eram regidos pelo sempre
presente Estados Unidos da América.
Entretanto, o que
não se pode negar é que o resultado daquela
época se percebe nos dias de hoje. Para quem não
sabe, nosso Presidente foi preso político, os Josés,
Dirceu e Genoíno também, Brizola e tantos
outros. FHC foi exilado, e quantos outros? Isso sem contar
com os artistas, Caetano, e outros geniais. O resultado
a que me refiro atualmente não é sobre a política
econômica do governo ou pelos programas sociais implantados
ou o Plano Real do FHC.
Refiro-me, na verdade,
à formação polítizada dos jovens
do passado recente. A juventude de 60 não se compara
com a juventude hi-tech de hoje.
Naquela época
havia propósito, havia espírito político
nas discussões e debates. Quem se interessou pôde
experimentar a vivência de nossos pais assistindo
aos capítulos de JK, exibidos no início desse
ano.
O que houve conosco?
Sim, porque quem vos escreve é um jovem de apenas
23 anos de idade. Apesar de não pactuar da mesma
lacuna, insiro-me no mesmo grupo juvenil que não
se compromete com a política.
A quem interessa
esse descaso?
A quem pode ser
vantajoso manter longe dos debates o futuro do país?
Primeiramente, melhor
se feita uma análise da participação
política da juventude nos últimos tempos.
Com toda a repressão
do regime militar em 60 e 70, era assunto das rodas jovens
as últimas de Castelo Branco ou de Médici,
ou ainda, os discursos de Lacerda. Mais ainda, o voto não
era permitido aos maiores de 16 anos como hoje.
O que se percebe
é que o governo "sacou" que a juventude
brasileira era totalmente desinteressada por política,
e alvo fácil para a manipulação através
de qualquer discurso bem feito por marketeiros políticos.
Resumo da ópera,
foi, gentilmente e em nome da mais lídima democracia
nacional, concedido direito ao maior de 16 anos de votar.
Mas o que isso pode
significar para o jovem? Será que passa pela cabeça
deles que participam do processo político nacional?
Será que percebem que podem manobrar os rumos do
país?
A resposta infelizmente
não é afirmativa.
A preferência
do momento é o orkut, raves, baladas e micaretas.
Não sou contra. Pelo contrário, gosto muito
de festas e boa música, mas não dispenso o
debate político.
A leitura predileta é página do horóscopo
ou o resumo dos próximos capítulos da malhação.
Além de cultuar
o físico, é preciso cultuar o espírito,
estimular o censo crítico. Nas academias o que se
cultua não é a saúde, mas sim os músculos
com auxílio de anabolizantes.
O estereótipo
de homem parece ter mudado ou é impressão?
Parece ser dada preferência pelos corpos bem torneados
em vez da opinião e consciência política.
Creio que já
é hora de mudar o que se procura na cabeça
juvenil, de darmos preferência à cultura não
inútil.
Perdeu-se o fio da meada, o foco; ou quiseram que nós
perdêssemos? Como falei, foi mais fácil assim.
Alieno, autorizo-o
a votar, manipulo sua opinião com belas propagandas.
Associando minha campanha bem versada e a opinião
mal formada do jovem, que eu mesmo ajudei a alienar, tenho
garantida minha eleição. Esse é o pensamento
político atual.
Sair para o debate,
consumir informação em vez de drogas. Informação
de qualidade, voltada aos fatos que realmente importam em
nosso cotidiano faz bem, muito bem.
Melhor que tenhamos
um movimento jovem mais intenso que os caras pintadas de
92, com consciência política e comprometimento
com a causa social. Não precisamos de shows musicais
para atrair a juventude em torno de uma causa política,
mas sim de espírito cívico e político.
Quem sabe faz a
hora não espera acontecer.
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