Fevereiro de 2011 - Nº 20   ISSN 1982-7733  
jovem128.php
Como participar
Fale conosco/cadastro
 Arquivo JJ
Todas as edições do JJ
 Tema da Hora
Memórias e História
Dicas de livros
 Perfis e Canções
Clara Nunes
Cida Moreira
 Gonzagão e Gonzaguinha
 Jayme Ovalle
 Luiz Carlos Paraná
Seção Livre
Palavra aberta
Ponto de vista
Desenho
Poesia
Crônica
Exceção
Presentation
Here you are the reporter
Open section
Contact us
Acompanhe
Escola
Como participar

Luiz Carlos Paraná: um boêmio abstêmio

Luiz Carlos Paraná foi um cantor e compositor paranaense fundador da principal casa noturna da noite paulistana na década de 1960, o bar O Jogral, além de autor de sucessos como a canção “Flor do cafezal”, nas vozes dos principais ícones da música caipira do país, como Cascatinha e Inhana, Inezita Barroso, Rolando Boldrin, Pena Branco e Xavantinho, dentre tantos outros.

Partitura de "Maria, carnaval e cinzas" interpretado por Roberto Carlos,

de autoria de Luiz Carlos Paraná. Foto do acervo pessoal de Amélia Carlos, irmã de Luiz Carlos Paraná

Luiz Carlos nasceu em 1932 numa pequena cidade ao norte do Paraná chamada Ribeirão Claro e teve uma infância humilde, trabalhando no campo com seu pai e seus irmãos até arranjar os primeiros empregos na cidade, pouco antes de decidir tentar a vida como cantor de boates, tocando seu violão em bares e rádios de Curitiba. Posteriormente, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde viveu o apogeu de bairros como Copacabana. Morou com João Gilberto num quarto de pensão, em pleno nascedouro da Bossa Nova e cantou em programas de grande visibilidade na histórica Rádio Nacional, ao lado de nomes como o então rei do rádio do Paraná, Léo Vaz e do apresentador Cesar Alencar.

Ao chegar em São Paulo, em outubro de 1959, Luiz finalmente pôde por em prática seus planos de fazer carreira num centro maior, já que nesta fase a capital paulista oferecia melhores condições profissionais para quem, como ele, visasse a projeção artística. Passou por casas históricas como o Beco e Ela, Cravo e Canela, foi diretor artístico do Juão Sebastião Bar, e já era considerado um dos melhores cantores da noite de São Paulo quando em 1965 abriu sua própria casa. O Jogral, inicialmente na profícua Galeria Metrópole e, posteriormente na Rua Avanhandava, funcionou como uma espécie de pólo de convergência de toda a intelectualidade nacional (e internacional, já que recebeu nomes como Oscar Peterson para citar apenas um). Artistas, políticos, filósofos e estudantes se reuniam nas poucas e apertadas mesas da casa para desfrutar sobretudo aquilo o que o bar sabia oferecer de melhor: música brasileira de alta qualidade, tocada ao vivo por um time de feras contratadas por Luiz.

Recontar a história do Jogral e de seu fundador-idealizador é o mesmo que reintegrar à história uma peça importante da noite paulistana que, por sua vez, se constitui num capítulo a parte da música popular brasileira. Numa época de festivais, em que Luiz Carlos Paraná teve por dois anos seguidos (1966 e 1967) canções classificadas (2º e 5º lugares respectivamente para as canções “De amor ou paz”, defendida por Elza Soares, e “Maria, carnaval e cinzas”, por Roberto Carlos), em que o Brasil gestava toda uma safra de ótimos compositores como Chico Buarque, um dos tantos freqüentadores ilustres do Jogral e que cantaria, inclusive, no primeiro disco produzido por Luiz Carlos Paraná para o amigo Paulo Vanzolini, o “Onze sambas e uma capoeira”.

Uma das tantas curiosidades que envolvem a figura de Luiz, diz respeito ao fato de ele ser um dos únicos – senão único – boêmio, impossibilitado de ingerir álcool. Muitos achavam graça e se perguntavam como nunca se havia pensado na possibilidade de existência de um boêmio abstêmio. Sim, Luiz só tomava leite e, embora abrisse raras exceções para uma irresistível tacinha de vinho, não podia de fato abusar. Tinha uma saúde frágil e um problema de varizes no esôfago que em dezembro de 1970 seria a causa de sua morte. Vale lembrar, o problema, conhecido também como cirrose, não adveio do excesso de bebida anterior, e sim de uma hepatite contraída pelo compositor, que desencadeou a doença. Pouco antes de morrer, Luiz havia feito o espetáculo musical “Os homens verdes da noite ou Jogral 69” no palco do TBC em São Paulo e iniciado as reformas do endereço que ele escolhera para abrigar pela terceira vez, o seu bar, dessa vez na rua Maceió, Higienópolis, onde ele teria todas as condições técnicas de registrar tudo o que ali se passasse. No entanto, Paraná não viu a inauguração do novo Jogral. Faleceu no Hospital Oswaldo Cruz a 3 de dezembro daquele ano, deixando uma viúva que, pouco antes, havia perdido o filho que o casal esperava, de modo a não ter herdeiros, senão ela própria e sua família, que ainda hoje reside na região de Ribeirão Claro.

Para ajudar o autor Thiago Sogayar Bechara a reconstituir essa história, não apenas jornais, revistas e bibliografia foram suficientes. Ele ouviu mais de cem pessoas que conheceram Luiz e fizeram parte de sua vida de alguma maneira, dando ao leitor uma narrativa bem humorada, emocionada e crítica sobre sua trajetória e sobre a época em que viveu este grande artista, morto há 40 anos e praticamente esquecido pelas novas gerações e pelos meios de comunicação. Um trabalho de documentação da memória cultural do país que muito pode oferecer aos estudiosos da área e àqueles que conheceram ou queiram conhecer mais de perto o gênio criativo de um compositor-artesão, capaz de fazer orbitar em torno de si, com sua simpatia, carisma, simplicidade, humor e inteligência, toda uma rede de admiradores que até hoje cantam os versos de “Queria” (gravada por Hebe Camargo e pelo seresteiro Carlos José), “Resignação”, “Você merece um tango”, “Canoa vazia” ou “Último canto”, em parceria com o grande violeiro Adauto Santos.

  

Envie esta notícia para um amigo

 

 

 

 

 
CONFIRA
VISITE
 
 Copyright © 2005-2011 Jornal Jovem - Aqui você é o repórter. Todos os direitos reservados.