Fevereiro de 2011 - Nº 20   ISSN 1982-7733  
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O brasileiro e a sua memória


Por Walewska Bailoni Andreoni

Professora de História na rede particular de ensino em São Paulo, nos Ensinos Fundamental e Médio. Formada em História na PUC-SP

 

Reza uma lenda, que ouço desde criança, segundo a qual o brasileiro não tem memória. Isso me soava no mínimo estranho pois, nessa época, minha memória era maravilhosa. Mais tarde, na adolescência, descobri o “poder” da minha memória fotográfica. Poxa, como ela me foi útil na hora das provas ou quando precisava dar detalhes de cenas vividas para poder argumentar com adultos que queriam me “enrolar” com conversa mole.

Só que ao crescer, percebi que a lenda não só é real, como também, a meu ver, com o passar dos anos, ela está se tornando uma “doença crônica” na nossa sociedade. Ao que parece, o brasileiro não quer ter memória. Não quer desenvolver essa habilidade que é intrínseca ao ser humano, tão natural na nossa espécie. Então, só me resta a velha e boa pergunta retórica: por quê? 

Ao parar para pensar nas possibilidades, surgem outras perguntas. Perguntas que podem ser fruto de minhas memórias ou, talvez, da necessidade eterna que os seres humanos possuem de indagar o por quê de tudo que acontece ao seu redor? Seja lá qual for a resposta, que em minha opinião, seria a somatória das duas possibilidades, eu resolvi anotar ideia por ideia, imagem por imagem, para não correr o risco de me perder ou esquecer todo o “caminho” percorrido mentalmente. Vamos a algumas delas:

Em primeiro lugar, todo e qualquer animal, tem consciência do presente, do aqui e agora, do que lhe é necessário para sua sobrevivência naquele momento exato. Mas o que diferencia o ser humano dos outros animais na questão aqui tratada é a sua noção do conceito de tempo. Temos plena consciência do presente e de que o mesmo tem conexão com o tempo já vivido e com o tempo que virá. Somos a única espécie dotada de consciência temporal.

Sendo assim, passo para a segunda ideia: a relação existente entre História e Memória é tão antiga quanto o homem. Através da memória houve a transmissão dos conhecimentos e das descobertas dos homens primitivos; das histórias; dos costumes; das lendas; do fazer cotidiano etc. Ter memória é fundamental, pois lembrar nos possibilita conhecimento, força para ultrapassar limites, acreditar que somos capazes.

Observando a natureza, inventamos o calendário, por pura necessidade de sobrevivência. Para organizarmos nossas tarefas e obrigações, inventamos o relógio. Para controlar o trabalho nas fábricas, esses mesmos relógios foram aperfeiçoados. Todas as nossas ações começam a ser controladas minuto a minuto.

Mas, a premissa que caminha junto com a invenção do relógio, seu aperfeiçoamento e, depois, seu uso no controle das atividades nas fábricas, é a de que devemos ser felizes aqui e agora. É o hedonismo sendo incorporado como um valor na sociedade moderna.

A Revolução Industrial acelera... O tempo urge! Corram, a locomotiva vai partir! Acelera! Você precisa ser feliz já! Precisa realizar seus sonhos agora! Consumir é a máxima para ser feliz. Compre! Compre! Compre e será feliz! Então paro novamente e me surge a seguinte imagem veiculada maciçamente na TV em eleições passadas: a confirmação da eleição de certo candidato político com uma ficha prá lá de suja. Pode? O povo brasileiro não lê? Nós não ouvimos? Nós não temos memória?

Está tudo muito rápido! Não deu tempo de absorver! Não consegui observar! Não vi nada com mais profundidade! É assim que vejo as pessoas ao meu redor se expressarem quando são cobradas de suas responsabilidades. Será que o sistema conseguiu os seus objetivos: alienar o povo em prol de sua manutenção? A resposta não pode ser tão simplista assim. Isso me parece obvio!  A resposta (se é que existe apenas uma) seria resultado de um amplo estudo nas áreas de História, Psicologia, Sociologia, Antropologia entre outras.

Afinal, temos todo um arsenal de fatos históricos e todo um aparato de dados para serem contemplados, analisados, como por exemplo: Como fomos colonizados? Que tipo de relações econômicas nos foi imposto por nossa metrópole? Esses dados nos permitiram aprendermos a “andar com nossas próprias pernas” ou a sermos dependentes? Quando livres da dominação, vamos superar esses entraves ou vamos adotar, na santa inocência, outros domínios? O brasileiro soube ou sabe se impor? Só assim, acredito eu, depois de um estudo mais aprofundado, poderíamos começar a traçar um esboço explicativo para essa questão.

Porém, não basta a resposta, a explicação. O que nos vale um dado se não sabemos o que fazer com ele? A importância de descobrirmos a resposta é que com ela podemos saltar para a solução: o brasileiro redescobrir sua história, retomar sua memória e se descobrir um povo capaz. A partir do momento que temos os dados, precisamos, imediatamente, traçar soluções para reverter o quadro e, quem sabe assim, construirmos um novo pensar, um novo olhar. O brasileiro ter plena consciência que é através da sabedoria, do discernimento, de uma visão de futuro que ele pode construir uma sociedade mais participativa, capacitada, humana, justa e responsável.

 

“Penso que estamos cegos,

Cegos que vêem,

Cegos que, vendo, não vêem.

 

Se podes olhar, vê.

Se podes ver, repara”.

(texto retirado da epígrafe do livro “Ensaio sobre a Cegueira”)

 

 

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