Rondinelli
Suave e Claudia Sabadini
19 e 32 anos, 2º
Comunicação
Social -Centro Universitário São Camilo/ES
Cachoeira do Itapemirim- Espírito Santo
Reza
um ditado: "Política é uma arte de espetáculo.
A mídia costuma mostrar somente o palco a nós,
a platéia. Caso passe a cobrir os bastidores, detona
uma crise política". Lamentavelmente, nossa
imprensa continua influenciando as eleições
do país. Mais uma vez, agora no processo eleitoral
de 2006, o expediente da divulgação de pesquisas
de intenções de voto, por exemplo, repercute
e induz o eleitor na escolha de seus candidatos.
Uma das provas dessa intervenção deu-se em
1989, quando o "caçador de Marajás"
Fernando Collor de Mello alçou vôo do anonimato
rumo à Presidência da República graças
a mídia tê-lo consagrado como o Salvador da
Pátria recém-redemocratizada. A imprensa,
arrogante à época e querendo extravasar as
amarguras da censura, não refletiu os reais e óbvios
interesses da ascensão do "almofadinha poliglota"
Collor, que agora voltará triunfante ao Senado Federal.
Sua campanha fora arquitetada para desbancar os favoritos
ao pleito, Lula e Leonel Brizola, ali tidos como duas ameaças
à ordem nacional. Outro caso ocorreu na campanha
de Brizola para o Governo do Rio de Janeiro, quando pesquisas
manipuladas quase lhe tiraram a vitória.
"No momento em que a mídia passa a não
apenas relatar os acontecimentos como eles são, mas
sim manipular informações e dados que podem
influenciar o voto, passa a fugir do seu real propósito
existencial, que seria o de levar a informação
correta aos cidadãos", opina o analista político
Ilauro Oliveira, editor do jornal eletrônico Atenas
Notícias. Assim, essa mídia passa a exercer
um papel que foge às suas responsabilidades, sendo
que a maioria da população não está
consciente suficientemente para fazer essa leitura 'crítica'
e analisar com frieza a notícia consumida. "É
uma prática equivocada e que passa longe da ética",
complementa.
Para o professor de História, Adilson Santos, a mídia,
principalmente a televisiva, desempenha um papel fundamental
no processo de 'santificação' de uns e de
'satanização' de outros. "A influência
da mídia é decisiva em alguns momentos como,
por exemplo, no debate entre Lula e Collor, nas eleições
de 1989, na Rede Globo", lembra. As pesquisas de opinião,
para Adilson, são também instrumentos utilizados
pela mídia para favorecer determinados candidatos.
"A esmagadora maioria dos eleitores tem na TV o único
veículo de informação disponível,
não podendo confrontar seu discurso com outros meios,
e, mergulhados no senso comum, votam muita vezes inconscientemente",
explica.
Muito ao contrário do Brasil, jornais norte-americanos
veiculam suas bandeiras políticas nos editoriais,
deixando claro ao leitor que compra o periódico as
reais intenções de defender uma candidatura.
Aqui, isso não ocorre, pois, ao entrelaçar-se
a acordos obscuros com setores políticos, parte da
imprensa acaba minando a credibilidade do jornalismo e a
conscientização da sociedade. "A mídia
foge dos padrões éticos movida por interesses
próprios ou de grupos aliados que anseiam perpetuar-se
no poder", observa o radialista Parraro Sherrer, veterano
conhecedor da área política.
A população tem ojeriza à politicagem.
Daí, os meios de comunicação aproveitam
as brechas estratégicas na programação
e atiram os candidatos para dentro dos lares – e estes
deixam seu recado. Muitos candidatos usam verbas públicas
(legais ou surrupiadas, valendo-se inclusive da máquina
administrativa estatal) para promover campanhas veiculadas
por uma parcela da imprensa que sucumbe a quem paga mais.
Isso quando os próprios parlamentares, paradoxalmente
donos e fiscalizadores de concessões de rádio
e TV, não decolam suas campanhas nas próprias
emissoras que controlam.
Hoje a corrupção campeia no Congresso Nacional
e nas Assembléias Legislativas, e manda quem tem
dinheiro. Porém, esse é um retrato do povo
brasileiro, bem representado quando explodem escândalos,
uma vez que aqui muitos vendem o voto em troca de todo tipo
de mimo ou necessidade. "'Quem se vende por um tostão,
também o faz por um milhão'", enfatiza
Parraro Sherrer, da Rádio Diocesana de Cachoeiro
de Itapemirim, no Espírito Santo. "O cidadão
comum não tem representatividade no Congresso Nacional.
Embora haja exceções no poder regionalizado,
os parlamentares ora são empresários ora os
defendem. Aí não tem dinheiro para a agonizante
saúde publica, educação, salário
maior etc. " argumenta.
Quando a 'ideologia' da empresa influencia o voto
do funcionário
O poder econômico influencia o voto, sobretudo devido
ao fator emprego. No 'toma lá, dá cá',
o empresário financia as campanhas ativamente e exige
retorno. Ele tem representação no Congresso
para facilitar a aprovação de um projeto de
lei ou um pagamento de imposto que lhe facilite a vida.
Mas também pede ao funcionário para votar
na chapa que apóia, argumentando que sua vitória
garantirá emprego e prosperidade à corporação.
Profissionais podem ser contaminados (ou contagiados) pela
ideologia da empresa visando a preservar seu trabalho, que
está cada vez mais raro. Esse e outros fatores tornam
mais difícil a sociedade transformar seu voto em
instrumento de mudança. Todavia, "voto é
um direito do indivíduo e por ser secreto garante
aos cidadãos a liberdade de escolha", argumenta
Ilauro Oliveira.
Mídia,
Governo e Voto no Brasil
Parte
I -Rondinelli Suave
Debates
na mídia, candidatos e Terceiro Setor
Parte
II -Rondinelli Suave
Força
do Voto
Parte
III -Rondinelli Suave
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