Março de 2007 - Nº 05    ISSN 1982-7733
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Austrália com muita coragem!


Relato enviado por Rafael Giosa Sanino
24 anos, formado em Direito pela FMU/2004
São Paulo - capital


Eu e o crocodilo em Darwin no norte da Austrália

Caros leitores,

Antes de contar minhas aventuras pela Austrália, gostaria de enfatizar o verdadeiro intuito deste artigo que é o de ressaltar a diferença de viajar pelo mundo com um passaporte europeu em relação ao brasileiro.

As informações sobre isso infelizmente ainda são muito poucas. Eu mesmo muito pouco sabia sobre isso antes de sair do país. Mas, uma vez fora daqui, com um passaporte italiano na mão, vi como as coisas poderiam ser bem mais fáceis.

O que gostaria de alertar aqui é que a maioria dos cidadãos brasileiros que viajam pelo mundo é descendente de europeus e muitos deles têm o direito de conseguir um desses passaportes. Mas muitas vezes, por falta de informação ou de tempo, acabam desistindo e resolvem viajar com o passaporte brasileiro.

Sinto-me na obrigação de transmitir essa informação porque, vivendo os dois lados da moeda, pude sentir a diferença entre as dificuldades derivadas das limitações impostas ao nosso passaporte e o gostinho de saborear os privilégios da liberdade atribuída ao passaporte europeu. Sei que a retirada do passaporte é um processo demorado. Contudo, após lerem esse artigo, verão que vale a pena.

Ao organizar minha viagem em março do ano passado, não sabendo ainda nem o básico da língua inglesa, procurei uma agência de intercâmbio e achei por bem pagar um curso por três meses em uma das escolas que me indicaram. A escola que escolhi estava localizada em Perth na costa oeste do país. Segundo a agência, nessa cidade ainda não havia muitos brasileiros. Sendo assim, o inglês se tornaria a única opção de comunicação, fazendo com que o aprendizado se tornasse mais dinâmico e eficaz.

Opera House em Sydney- Austrália

Então cheguei à Austrália. Adorei tudo aquilo! Era incrível ter a oportunidade de ver um país de primeiro mundo onde tudo é limpo, ônibus com horário certo para passar nos pontos, trens para todos os lugares, ninguém passando necessidade, índice de violência baixíssimo, tudo quase que perfeito! Mas algumas coisas eram diferentes do que eu tinha ouvido sobre certos aspectos.

Em primeiro lugar em relação aos brasileiros. Disseram-me que lá não havia muitos, mas no colégio em que estudava, metade da minha classe era de brasileiros e a outra metade de japoneses. Por mais que eu não quisesse falar português, isso ficou quase impossível porque apesar de os japoneses serem pessoas muito amáveis (adorei todos os que conheci e tenho contato com muitos até hoje) eles têm uma cultura totalmente diferente da nossa e isso dificultava muito o relacionamento.

O segundo aspecto que me desagradava é que eu estava numa vida de acordar cedo, ir ao colégio, onde permanecia o dia todo (falando mais português do que inglês). E logo após o colégio tinha que ir direto para o restaurante onde trabalhava lavando louças, porque, se pretendesse ficar na Austrália mais do que esses três meses, tinha que juntar dinheiro para pagar o próximo curso.

Além disso, nos finais de semana, quando pensava em dar uma descansada, o restaurante onde trabalhava estava sempre lotado e com isso não podia nem pensar em pedir uma folguinha.

Comecei a ficar meio decepcionado com essas coisas. Percebi que estava todo amarrado, sem tempo e dinheiro para conhecer o país, pois estava sempre trabalhando ou estudando num colégio praticamente brasileiro. É claro que eu queria aprender inglês, mas tinha em minha mente viajar por lá, conhecer os lugares turísticos e os não turísticos, morar nos vilarejos, ir às praias, ter contato com os animais, conhecer os australianos e saber como eles vivem, ver os aborígenas em suas comunidades etc.

Resolvi então ir ao Departamento de Imigração Australiano para pegar algumas informações sobre a possibilidade de conseguir algum tipo diferente de visto uma vez que me apresentasse como italiano. Foi aí então que veio a melhor notícia! Eu tinha um enorme privilégio em minhas mãos e ainda não sabia.

Fui informado de que a Austrália possui um tipo de acordo com alguns países no mundo em que permitia um visto diferente, o que eles chamam de “Working Holliday Visa”.

O “Working Holliday Visa” é um visto que dá liberdade de fazer quase tudo, com apenas algumas restrições. Com ele eu tinha a permissão de estudar (até no máximo três meses), mas não era obrigado a fazê-lo se não quisesse. Mas podia também trabalhar sem nenhum limite semanal de horas. Sendo assim, eu não precisava mais ficar nas grandes cidades só porque tinha que estudar, uma vez que as cidades menores não possuíam escolas de inglês. Poderia então sair viajando pela Austrália toda e aprender o inglês com o pessoal nativo, sem gastar o dinheiro do meu trabalho em escolas cheias de brasileiros. Ou seja, era exatamente o que estava procurando.

Foi então que minha viagem pela Austrália começou!

Comprei uma Van adaptada tipo trailer, joguei todas as minhas tralhas lá dentro e, no período de aproximadamente um ano, dei a volta na Austrália morando dentro de meu carro.

Durante essa minha viagem tive a oportunidade de desfrutar uma Austrália diferente e cheia de surpresas.

Eu na ilha de Rottnest - Costa Oeste da Austrália

Viajei por toda a costa e também pelos desertos, prestando atenção em cada detalhe daquele paraíso. A fauna e a flora australiana são umas das mais diferentes do mundo. Além de milhões de cangurus vistos a toda hora nas estradas, é muito normal ver também emas atravessado as rodovias, coalas pelas árvores, crocodilos no norte da Austrália, além de toda a diversidade de aves que aquele país tem, desde pássaros pequenos com um cabelo engraçado fazendo o estilo “punk” até águias imensas e maravilhosas sobrevoando os desertos.

Presenciei ainda desde cachoeiras transparentes onde se viam peixes coloridos no fundo dos rios até árvores de mais de sessenta metros de altura. Sem contar ainda algumas piscinas térmicas naturais e centenas de trilhas a pé no meio das florestas ainda bem pouco visitadas pelos turistas.

Lógico que para sustentar uma viagem como essa eu tive que fazer o meu próprio dinheiro pelo caminho, o que era, na verdade, muito fácil.

Nas cidades menores os australianos sempre precisam de gente para trabalhar nas fazendas. Era ali então que eu ficava por meses até juntar dinheiro suficiente para chegar ao próximo destino.

Além disso, era nessas fazendas que eu encontrava europeus que faziam o mesmo que eu e também onde eu mantinha o contato com o pessoal nativo. Assim, a cada dia que passava eu aprendia algo diferente, conhecia gente diferente, histórias interessantes, muita curiosidade a respeito de todas as outras culturas e amizades que, com certeza, ficarão para sempre.

Assim, ao final de minha viagem, cheguei à conclusão de que, por causa de meu passaporte, conquistei o melhor ano de minha vida. Desfrutei e aproveitei cada momento de independência e liberdade, trazendo comigo ainda uma enorme bagagem de aprendizado e lição de vida que definitivamente nunca terão preço!

 
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