Setembro de 2008 - Nº 11     ISSN 1982-7733
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Os sonhos que tivemos

Alexandre J. Nobre

19 anos, 1° ano Letras,Universidade Federal de Alagoas

Maceió - AL

“Ao primeiro sonho perdido, reservo esse texto”.

Correntemente, pego-me pensando em minhas quimeras. Confesso, até, que algumas já se arrefeceram. E, com cada uma, foi um pouco de minha alegria diante de certas situações da vida. Ponho-me, diante disso, a perguntar se todos os esforços disponíveis para as realizações pessoais e materiais são dignos de tais recusas. Não que essas (realizações pessoais) estejam fora dos sonhos. Isso não me vem ao caso, nessa parte da escrita – nem sei se virá à luz por entre as linhas; caso o leitor perceba que isso eu fiz, foi desvio do atento à escrita. É certo que, no nosso percurso pela Terra, façamos incontáveis olhares desviados, em face de determinados momentos. No entanto, com a vista nos nossos desejos, vem-me a lume o oposto: as recusas pouco importam! Quanto nós temos de perder, de deixar aos secos ares, de enterrar por lama para darmos as verdadeiras designações e os merecidos valores aos mínimos instantes de cada respirar?

Há os que passem minimamente num eterno sonho. Talvez isso seja bom! Não opino! Dizer sobre algo não vivido é como estar no descampado. Controlar tais desejos, no entanto, assemelha-se ao traçar de uma linha-única-reta para vida – isso posso afirmar com veemência! Linha, essa, frágil e muito vulnerável aos pedregulhos dos verões. Nada é exatamente como no mundo ideológico. Recusá-los é, muitas vezes, pôr erro no correto, almejar enxergar na ausência de luz. Nessa acepção, carregamos nossas idéias de dúvidas acerca do que realmente seja importante para a construção concreta da felicidade, ou seja, para nos tornarmos verdadeiros humanos. Só apenas com algumas centenas de frustrações é que ativamos a luz do refazer. Raras são as ocasiões em que podemos configurar nossos olhos. Brás Cubas explicita: “Não tive filhos, não transmitir a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” Seja pelo fato de ser um personagem esbanjador de dotes disponíveis, ou seja apenas uma passagem onde fica firmada a existência de uma obra sem muita história valorosa para as discussões de fins de tarde – isso pouco importa; meu objetivo não é dissecar o livro. O fato é que Brás Cubas – seja ou não a intenção de Machado em demonstrar arrependimento do personagem diante de uma vida sem nenhum proveito – não pôde mais consertar nem mesmo uma sombra de seus cílios.

Assim como o tempo, os sonhos não voltam mais. Os chamamos apenas por “Os sonhos que tivemos”. Os quais já foram carga para Raimundo Correia, em seu poema “As pombas”: “Mas aos pombais as pombas voltam,/E eles (os sonhos) aos corações não voltam mais...” Não voltam porque não podem! Uma vez queimada, a pólvora termina em cinzas. Uma vez cinza, jamais pólvora outra vez. O tempo trota – salvo engano, isso já foi dito antes; não é necessário, porém, sermos sensíveis aos fatos para notar tal obviedade. E, assim, nos encontramos situados numa poltrona que não dispõe nenhuma segurança, senão a fina crina do Tempo. Sem a qual flutuamos feito pena no ar.

Júnior Almeida, cantor e compositor alagoano, sugere algo em sua bela canção, “Algodão”: “Ao Tempo, perdão pelos sonhos perdidos.” Entendo, até, a preocupação. Mas, outra ótica me vem aos olhos: não há tempo para perdão. O Tempo é arrasador e, em alguns casos, cruel. No entanto, para as devastações do Tempo “teremos o amor e o gesto bonito”. Aos sonhos que tivemos, frustrações. O arrebol nos faz iluminar as pupilas e enriquecer nossos lábios do doce sabor dos desejos; o crepúsculo, ver por terra as idéias transformadas em ilusões, apenas.

 

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