Janeiro de 2009 - Nº 13   ISSN 1982-7733  
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Orelhão da Sé

Guilherme George Fuoco

18 anos, Estudante de Jornalismo da Universidade Metodista

São Paulo – SP

 

Brasil. São Paulo. Praça da Sé. Exatamente 3 horas da tarde. O movimento é tão grande que nem a chuva que cai abala os largos passos das pessoas. A maioria delas está a trabalho e nem percebe o que está acontecendo dentro da praça. Um mendigo, grudado a um orelhão, grita chamando por qualquer mulher.

 

- Moça! Senhora! Vem aqui! Por favor! Preciso de sua ajuda!

 

Ninguém entende o mendigo e ninguém dá atenção. Uma mulher, vestida com seu terninho preto e carregando uma maleta, pensa que será roubada e apressa o passo. Dois garotos jovens xingam o pobre Zé e descem as escadas do metrô. O homem continua segurando o orelhão ferrenhamente e a chuva aumenta a intensidade.

 

Há cinco minutos atrás, Zé estava sentado embaixo de um toldo de uma banca de jornal. O que importava para ele era apenas se proteger da chuva que caía. Sentia frio e fome. Depois que decidiu vir a São Paulo e largar sua vida no Maranhão, Zé não sabia mais qual era o gosto de um bom almoço. Ele conhecia o churrasco de gato que sempre era acompanhado de dois sucos de laranja. Não eram tão ruins. Mas a comida que sua mãe fazia era, com toda a certeza do mundo, muito melhor. Olhando para as nuvens negras se dispersando no céu, Zé escutou o orelhão ao lado da banca de jornal tocar. Foi atender.

 

 - Alô.

- Quem fala?

- É o Zé. Quem é?

- Palmas para o Zé. Aqui quem fala é o Luciano Batman. Tudo bem?

- Minha Nossa Senhora! Tudo bem sim, Luciano.

- Por que o espanto meu caro Zé?

- É que, puxa, o senhor num vai acreditar, eu sonhei um dia desses, que tinha atendido o orelhão e que você tinha me dado muito dinheiro.

- Mas que coincidência, Zé! Você quer ganhar 5 mil reais? Topa um desafio?

- Topo. O que você quiser. Meu Deus! Antes posso mandar um beijo para minha mãe?

- Pode sim! 

- Beijo mãe, te amo muito!

- Ok, ok, meu caro Zé. O desafio é o seguinte: você tem que pedir para qualquer mulher falar, presta atenção, qualquer mulher falar para sua esposa que ela é uma piranha e que quer ficar com você para sempre.

- Só isso?

- Só.

- Fácil. Um minuto.

- Zé! Só não pode falar que você vai ganhar dinheiro, ok?

- Beleza!

 

O mendigo então começou a chamar as mulheres que passavam. Nenhuma lhe dava atenção. Até que duas garotas emos resolveram atender ao pedido do homem.

 

- Fala, cara! O que você quer?

- Faz um favor pra mim, moças? Fala aí para minha mulher que você quer ficar comigo e que ela é uma piranha.

- Eita! Está louco?

- Não! Por favor! Não agüento mais essa mulher!

- Tudo bem, então. Alô.

Uma voz masculina finge que é uma feminina.

- Alô. Quem é?

- Aqui quem fala é a Paula. Olha aqui, moça! Você é uma piranha e eu vou ficar com o cara aqui pra sempre!

- Nossa! Por que isso?

- Por que sim! Você deixa o cara aqui fedendo na rua, todo acabado, nessa chuva enorme que cai. Ele não tem nada pra comer. Nem roupas decentes. Pra que fazer isso com ele?

- Deixa eu falar com o Zé.

- É pra você, moço.

 

Zé, chorando de emoção, volta para o orelhão.

- Alô. Consegui? Estou rico! Rico! Estou né?

- Alô Zé! Se ferrou! Que Luciano que nada! É trote mané!

 

Muitas gargalhadas foram ouvidas e Zé desliga o orelhão. Volta para debaixo do toldo.    

 

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