Maio de 2010 - Nº 17   ISSN 1982-7733  
Como participar
Fale conosco
A Antártida e o Planeta
Convidados da Hora
Conhecendo a Antártida
O IO-USP no Proantar
A Antártida e o Clima
Pesquisas do IO-USP
Seção Livre
Palavra aberta
Som na caixa
Poesia
Crônica
Presentation
Here you are the reporter
Open section
Contact us
Dicas de Livros
Acompanhe
Todas as edições do JJ
Escola
Como participar
Participante desta edição
IO - Instituto Oceanográfico da USP

Mais do que uma geração jeans e Coca-Cola

Letícia  Cislinschi e Juliana Thomé

17 anos, Colégio Regina Mundi

São Paulo - SP  

* Destaque para a professora Tatiana Yano pelo incentivo e apoio dado à Letícia e Juliana para que escrevessem este texto e participassem do Jornal Jovem.

Nós somos os únicos com energia para mudar, os que têm força para lutar, criatividade para surpreender. Nós na verdade somos os filhos daqueles que pararam de falar para ouvir gritos desesperados de homens inocentes que apanharam da polícia e que foram humilhados por falar a verdade sobre o mundo. Filhos daqueles que saíram às ruas e levantaram a placa gritando por liberdade, dos que falavam de política normalmente e que além de se indignarem faziam a mudança. Enfrentaram o governo e instituições com armas na mão, apenas por defenderem um ideal. Somos filhos daqueles que enxergavam as trapaças mesmo com a censura instalada em todos os lugares. Era proibido, eles falavam. Era perigoso, eles enfrentavam. Era injusto, eles fizeram justiça.

 

O Sangue de muitos inocentes ficou derramado em alguma esquina do Brasil, a voz de muitos cantores e poetas foi calada através do exílio e o número de desaparecidos era absurdo. As propagandas mostravam um mundo cor-de-rosa, quando na verdade ele era negro manchado de gritos, sonhos e desejos de colocar sua vontade em uma urna.

 

A mídia era controlada minuciosamente, e como dizia Carlos Drummond esse era o “tempo de meio silêncio, de boca gelada e murmúrio, palavras indiretas, aviso na esquina”, e mesmo assim 100 mil estudantes saíram às ruas, pedindo por algo que hoje nós temos sem esforço algum: Liberdade, direitos, justiça.

 

Somos a outra geração, descendentes daqueles que ousaram, que fizeram do medo a coragem. Em uma realidade de ditadura, aquele que fala é o herói, aquele que ouve se revolta. Somos muito mais do que a geração jeans e coca – cola. Nós sucedemos os que apanharam em praça pública, os que tiveram suas casas invadidas por soldados, os que tiveram que aprender a ser críticos na rua e não na escola, os que foram os inimigos de sua própria pátria.

 

Corre em nosso sangue a vontade da mudança, a esperança de construir um mundo diferente do que vivemos. Antes, a organização dos estudantes teve seu prédio incendiado, foram reprimidos e o serviço nacional de informação vigiava a vida de todos para prender aqueles que “falavam demais”. Os atos institucionais traziam uma realidade ainda mais cruel, e nossos pais, aqueles que chegam cansados do trabalho, já chegaram aliviados por não terem sido mortos injustamente. Eles que lutaram com a voz, com a massa, com o povo deixaram o exemplo que nós insistimos em não seguir, o exemplo da união pela justiça.

Será que foi tanto esforço para nada?! Muitos deram suas vidas para que nós conseguíssemos o direito de votar, e o que fazemos nas eleições?! Votamos sem consciência e sem senso crítico algum, no máximo assistimos por um dia a propaganda eleitoral e escolhemos o deputado e o vereador que teve maior humor ou criatividade na hora de escrever seu discurso político, fazendo disso uma piada.

 

 É vergonhoso ver a palhaçada que a nossa política virou. Um desrespeito enorme com a população, mas pior do que isso é saber que depois de tanta luta e sangue derramado, nós deixamos isso acontecer. Ao invés de ficarmos indignados ao vermos essas propagandas, damos risada.

 

 Nossa situação está muito cômoda, ao ouvirmos notícia de corrupção, dólar na cueca, desvio de verbas, criação de cargos para familiares e muitos outros escândalos cruzamos o braço ou mudamos de canal. Simples, não é?! Mesmo sem censura e com as trapaças na nossa cara não fazemos nada!

Pena que pensamos e agimos assim. Como seria bom se os jovens e os estudantes corressem atrás da mudança, como já fizeram uma vez.

Mudança, é disso que precisamos, e não só na política, precisamos mudar o mundo. Não podemos nos conformar ao saber que milhares de africanos morrem ao serem cobaias humanas. Ao saber que muitas crianças e jovens entram na criminalidade por serem marginalizados pela sociedade. Ao saber que enquanto estamos aquecidos em nossas casas milhares de pessoas tremem de frio em um beco qualquer.

 

 Justiça, segundo o dicionário é: 1.Prática e exercício do que é de direito 2.Conformidade com o direito. E fazer justiça é: obrar ou julgar segundo o que é justo.

Folha de SP, “mulher é presa por roubar manteiga, para matar a fome de seus filhos”, notícia justa e tão injusta ao mesmo tempo. Justa, pois fizeram justiça, ou seja, julgaram segundo o que é justo, está na lei, roubar é crime. E injusto, pois nenhuma mãe deveria estar naquela situação, ver seus filhos morrendo de fome e saber que a única alternativa é o furto.

 

“Fome, miséria e incompreensão o Brasil é tetra campeão” trecho da letra de uma música dos Mamonas Assassinas e que revela a atitude de muita gente, que perante todos os problemas e injustiças se preocupam mais com coisas fúteis e banais, afinal é muito mais simples sentar no seu sofá macio e na sua casa quente do que ir as ruas para manifestar e exigir justiças.

 

Há tantas coisas erradas no mundo, mas nossa conformidade e egocentrismo não nos deixam concertá-las. Os estudantes unidos por um ideal possuem uma força extrema. O jovem estudante perseverando na mudança, é disso que mundo precisa. Só a partir dessa união e busca por mudança e justiça, conseguiremos algo. Saibam que é possível sim mudar o mundo, só não podemos ter medo e nem sermos levados pelo egoísmo. Levante e se una com aqueles, que como você tem força, muita coragem e um ideal. Dessa forma, honraremos todo o sangue que foi derramado e , assim como eles, doaremos um mundo mais justo onde não haverá fome, miséria e injustiça.

 

 

Envie esta notícia para um amigo

 

Texto livre:

Você escolhe o assunto sobre o qual quer escrever. Depois é só enviar pra gente e aguardar nosso contato. Se quiser, envie também foto e/ou ilustração.

Veja as dicas na seção Como participar.

Clique aqui
para enviar seu texto para esta seção. Aguarde nosso contato.
 
 Copyright © 2005-2011 Jornal Jovem - Aqui você é o repórter. Todos os direitos reservados.