Maio de 2010 - Nº 17   ISSN 1982-7733  
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O Continente Gelado


Elisabete S. Braga

Professora e pesquisadora do Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo

Foto: Elisabete S. Braga

Localizado abaixo do paralelo 60°S, a Antártica é o quinto continente em tamanho com seus 13,7 milhões  de quilômetros quadrados de área, correspondendo a cerca de 10% da área continental do Planeta. No período de inverno austral, a área do continente aumenta pela formação de gelo sobre o mar, estendendo a área “sólida” para até 22 milhões de quilômetros quadrados.

O polo norte difere do polo sul, pois este último é realmente um continente. No continente Antártico não há divisões políticas como as que encontramos nos demais continentes, que são compostos por vários países delimitados por divisões geográficas.

A Descoberta da Antártida

No século VI° a.C.,  Pythagoras  já imaginava que a Terra era redonda e os gregos, por razões relacionadas à simetria, imaginavam que deveriam existir terras no Hemisfério Sul para contrabalancear os continentes do Hemisfério Norte. O grego Ptolomeu desenhou um mapa no século II° d.C. onde uma terra incógnita ligava a África com a Península da Malásia fechando o Oceano Índico.

* Figura 1 - Mapa desenhado por Ptolomeu.
 

Esta concepção só foi abandonada muito tempo depois, mesmo com as lendas da Polinésia falando de um continente frio, ao sul, circundado por gelo que parava suas canoas. Um mapa feito por Orontus Finaeus e encontrado por Mercator anos mais tarde, mostra uma Terra Australis centrada no pólo Sul que se parecia com o continente atual. Também um mapa de 1513, feito pelo almirante turco Piri Reis mostrava um continente com semelhança à Antártica.

* Figura 2 -  Mapa desenhado por Piri Reis

 

A circunavegação do Hemisfério Sul foi feita por James Cook - a bordo do Resolution - que foi o primeiro homem a atravessar o círculo Antártico em 66°33, em 17 de janeiro de 1773, mas que não se aproximou do continente devido às banquises e icebergs, o que o levou a dizer que se existisse a Terra Australis ela seria fria e inóspita.

 

 

Caça predatória

Havia uma grande procura por focas e baleias para a caça e muitos barcos não passavam informações para evitar a concorrência pelos locais de captura. Desta forma, muitos indicam que o capitão inglês Edward Bransfield foi o primeiro a avistar o continente antártico, em 30 de janeiro de 1820 e muitos pensaram que era uma ilha, de modo que, a descoberta da Terra Australis foi atribuída ao americano Nathaniel Palmer, em 17 de novembro de 1820. John Davis, americano que  também marcou presença na Península Antártica após seguir as focas na Baía de Hughes, em fevereiro de 1821, coloca dúvida sobre qual teria sido o primeiro homem a pisar na região antártica. Na mesma época, duas corvetas,  “Vostok” e “Mirny”, comandadas pelo Barão Fabiean Gottlieb Von Bellingshausen navegaram em torno da Antártica enviadas pelo czar Alexandre I com a missão de atingir a região mais próxima possível ao polo sul. Bellinghausen foi talvez, o primeiro a visualizar o continente antártico em 1820. É difícil saber quem foi o primeiro a avistar!

A virada

O massacre das focas foi uma causa de aproximação, mas a curiosidade científica apareceu uns vinte anos depois com a busca do pólo magnético. Após a descoberta do polo magnético norte em 1831, pelo inglês James Clarke Ross, o matemático Karl Gauss previu a existência de um pólo homólogo ao sul, perto de 66° S e 146° E, este interesse estava ligado ao desenvolvimento das técnicas da marinha (construção em ferro, uso da bússola etc). Em 1840, três expedições foram organizadas para isto e nenhuma alcançou o polo magnético, o que foi feito pela expedição Shackleton, em 1909.

* Figura 4 - James Clark Ross bow

A Terra de Adélia, localizada próxima ao polo sul magnético, no setor antártico junto ao Oceano Índico, foi descoberta por Jules Sebastien César Dumont d’Urville em 20 de janeiro de 1840. O inglês James Clarke Ross foi com sua flotilha (conjunto de embarcações) o primeiro a forçar a travessia do gelo. A partir das descobertas de 1840, ele se dirigiu para leste e descobriu a impressionante cadeia de montanhas da Terra Vitória e, em 1841, o vulcão Erebus. Sua aventura rumo sul terminou em uma grande barreira que forma uma plataforma gelada que recebeu seu nome. Depois disto, a Antártica ficou esquecida por cerca de meio século, exceto pelos navios de caça às focas.

Tudo mudou após o Congresso Geográfico de 1895 que designou a exploração da Antártica como um dos maiores projetos a se desenvolver, mas além do interesse científico havia traços de interesse à caça da baleia antártica. Inicia-se a era da descoberta épica. Três embarcações dotadas de laboratórios vão forçar a passagem pelo gelo por um ano, de 1898 a 1899, passando o inverno pela primeira vez na Antártica. É a expedição de Adrien de Gerlache. No momento que o navio se livra do gelo, o norueguês Carstens Borhgrevink instala a primeira base sobre o continente, no Cabo Adare, onde os homens deveriam mostrar que é possível resistir ao terrível inverno do continente antártico.

No início do século XX, outras expedições passaram por momentos difíceis. O navio alemão Gauss ficou bloqueado por um ano entre outros acidentes sérios. Os escoceses estabeleceram um estação meteorológica na região sub-antártica - em torno dos 60°S - que depois foi tomada pelos argentinos. O Dr Jean Charcot, a bordo do navio Pourquoi-pas?, começou a construir os mapas cartográficos de uma boa parte do oeste Antártico, em duas campanhas em 1903-1905 e 1908-1910. Japoneses, australianos, alemães passaram a fazer mais expedições à Antártica.

A corrida ao polo já tinha se iniciado, porém quatro expedições foram marcantes, sendo três britânicas e uma norueguesa, por ordem a de Scott em 1901-1904 e depois em 1910 a 1913; a de Shakleton de 1907-1909 e a de Amudsen em 1910 a 1912. Sendo que Amudsen foi o primeiro a atingir o pólo em 14 de dezembro de 1911, quase um mês antes de Scott. Esta conquista terminou em tragédia com a morte dos conquistadores no caminho de volta do polo.

* Figura 6 - Roald Amundsen

Um dos feitos mais conhecidos na conquista do Pólo Sul ocorreu com Roald Amudsen (norueguês) e Robert Falcon Scott (britânico). Amudsen escreveu um telegrama a Scott dizendo que estava indo rumo ao Sul, e como Scott estava na Austrália, encontrava-se então mais próximo à Antártica. Amudsen havia treinado cachorros esquimós da Groenlândia para fazer o caminho no continente para atingir o polo sul. Ele partiu com mais quatro homens, cinqüenta e dois cachorros e quatro trenós. Scott, por sua vez, fez uma equipe contendo pôneis da Manchúria e cachorros. Em 14 de dezembro Amudsen atinge o pólo sul. Ele deixa uma tenda montada com um bilhete para Scott.

Desta forma, Amudsen foi o primeiro a atingir o polo Sul quase um mês antes de Scott, que atingiu o polo em 17 de janeiro de 1912. Scott encontrou a bandeira da Noruega e iniciou o caminho de volta. Teve dificuldades com os pôneis e os poucos cachorros, dividiu os quatro homens e ficou com dois. Scott e seus dois companheiros morreram alguns dias depois a quase 13 km de um posto de provisão: uma tragédia. Enquanto que o retorno de Amudsen ocorreu sem problemas pela Baia das Baleias em 25 de Janeiro de 1912, sendo que a expedição percorreu 3.000 km em 99 dias.

Bibliografia: Claude Lorius, 2004. Antarctique ? Desert de lace ? Les Quatres Élements. Hachette  Réalités. 158p.

 

* Fontes

Figura 1 -  re-fazerahistoria.blogspot.com/ 2008/05/mitolo...

Figura 2 - www.bibliotecapleyades.net/.../ PiriReis01.htm

Figura 3 - commons.wikimedia.org/ wiki/File:James_Cook_po...
Figura 4 - www.pbase.com/grahamg/ image/23741820

Figura 5 - www.enciclopedia.com.pt/ news.php?readmore=355

Figura 6 - http://lazerone.wordpress.com/2009/12/14/387/
 

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