Outubro de 2008 - Nº 12     ISSN 1982-7733
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O poeta com os pés no mar podia esperar

Susan Togashi

19 anos, 6º semestre de jornalismo - FIAM

São Paulo - SP

Caymmi era tudo isso. Sereno, simpático, sossegado. Seus passeios pelas praias, sejam as da Bahia, sua terra natal, ou as do Rio de Janeiro, onde morou desde 1938, sempre resultaram nas composições mais sensíveis da música brasileira. Desvendava o brasileiro e musicalizava o rebolado da morena. Quando compunha, lapidava palavras, inventava um novo português, combinava os sons. Ele costurava tudo: letra e música.

Foto: Agência A Tarde/Arquivo

Dorival Caymmi morreu em sua casa, no dia 16 de agosto, em razão de um câncer renal, doença descoberta em 1999, mas que ele nunca quis saber qual era. Abriu mão de tratamentos no ano passado, quando passou a ser assistido por um enfermeiro, e viveu o resto de seus dias de frente para o mar. A esposa, Stella Maris, tinha pavor de elevador, mas enfrentou o medo para morar no sexto andar, na praia de Copacabana, para que ele pudesse ver o mar da janela. Apesar de cantar em tantas músicas sua paixão pelas águas revoltas batendo na areia, ele admitia: “Tenho um defeito: eu não sei nadar, só cachorrinho”, falava o baiano de bigode branco.
 
Ele não era apenas um baiano sereno, simpático e sossegado. Começou na Rádio Clube da Bahia em 1930 e cinco anos mais tarde escreveu sua primeira canção, “No Sertão”, que nunca foi gravada. Demorava anos para compor uma música, porque não tinha pressa de torná-la certa, perfeita, exata. Uma pena... não deu tempo de ouvir sua primeira inspiração, talvez por medo de deixar transparecer a alma nua nesse primeiro desabafo. “Caymmi e Seu Violão” foi lançado em 1959, considerado seu trabalho mais belo e sensível. A neta Stella relembra as épocas de criação do avô. “Minha avó sabia quando ele estava compondo. Era quando ele se recolhia, ficava quieto. E ela nos dizia: ‘deixa o Dorival que ele está compondo’”.
 
Não gostava de intérpretes para suas músicas, de versões com arranjos diferentes, mas gostou do álbum gravado por seus filhos, Nana, Dori e Danilo, só com músicas suas. É que eles seguiram à risca, sem firula, a criação do pai. Eram todos frutos de Dorival Caymmi: Dori, “Roda Pião”, “Acalanto”, Nana, “O que é que a baiana tem?”, Danilo...
 
Ao saber de sua morte, a escola de samba Mangueira declarou luto. Tema vencedor do carnaval de 1986, com o enredo "Caymmi Mostra ao Mundo o Que a Bahia e a Mangueira Têm", o rosa, verde e branco da escola está mais apagado. "A relação dele com a Mangueira foi um casamento perfeito - dando a nós o primeiro lugar, em 1986. Não era só um compositor de canções, adorava o mar e as pessoas. Era um exemplo de vida", afirmou emocionado o ícone da Estação Primeira da Mangueira, Nelson Sargento, durante o velório de Caymmi, realizado na Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro.

 

Dorival Caymmi esteve corpo a corpo com o nascimento da Bossa Nova, quando João Gilberto lançou o LP “Chega de Saudade”, interpretando “Rosa Morena”, chamando todo mundo pra sambar, que o pessoal estava cansado de esperar... é... esperar... quem podia ter esperado era o sinhô, Sr. Dorival.

 

Em tempo: Stella Maris, esposa de Caymmi, foi viúva por apenas 11 dias. Ela não agüentou a saudade e resolveu voltar para o seu baiano, com quem viveu 68 anos. Stella faleceu no dia 27 de agosto, de encefalopatia e insuficiência respiratória aguda. Eles deixam três filhos, Nana, Dori e Danilo, também músicos, sete netos e cinco bisnetos.

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