Janeiro de 2009 - Nº 13   ISSN 1982-7733  
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"Calígula" escrito por Camus está no Teatro Paulo Autran do SESC Pinheiros-SP

Calígula é um dos maiores textos teatrais do século 20, peça clássica do escritor argelino/francês Albert Camus (1913-1960). Calígula foi o terceiro imperador romano, reinou entre 37 e 41, e ficou conhecido pela sua natureza extravagante e por vezes cruel. A peça está no Teatro Paulo Autran do SESC Pinheiros, para temporada até 21 de dezembro. O espetáculo volta em 2009, ficando em cartaz de 8 de janeiro a 22 de fevereiro.

Foto: João Caldas 

 

Com direção de Gabriel Vilela e tradução de Dib Carneiro Neto, a peça traz no elenco Thiago Lacerda (Calígula), Magali Biff (Cesônia), Pascoal da Conceição (Cherea), Jorge Emil (senador romano e Ruffius, o poeta), Rodrigo Fregnan (Hélicon), Pedro Henrique Moutinho (Scipião, poeta) e Ando Camargo (intendente do tesouro romano e Metellus, poeta).

 

Escrita por Albert Camus (Prêmio Nobel de Literatura por sua obra em 1957) em 1942, a peça é a história de Gaius Caesar Germanicus, conhecido por Calígula, filho mais novo de Germânico e Agripina, bisneto de César Augusto. Ele irrompe em cena após a morte de Drusilla, sua irmã e amante, para expressar seu desejo de impossível - a lua, ou a felicidade, ou a vida eterna -, seu novo programa de vida - é preciso ser lógico até o fim, a todo custo - e sua descoberta do que acarretará como sendo a verdade absoluta - os homens morrem e não são felizes.

 

Calígula constata o absurdo e decide levá-lo às últimas consequências, perdendo os limites do poder, da liberdade, da razão, negando todos os laços que o prendem ao gênero humano. Definida pelo próprio Camus como uma tragédia da inteligência, Calígula traz uma compreensão de que ninguém pode salvar-se sozinho, nem pode ser livre à custa dos outros. 

Camus escreveu uma peça que aborda as questões da Felicidade, da Liberdade e do Poder. Uma reflexão sobre o Homem e sobre aqueles que podem ser os seus extremos, sobre a Loucura, o Absurdo e o Destino. Ao espectador atento, o texto sintetiza com eficácia outros traços da figura do imperador: a lucidez, a tristeza, uma envergonhada ternura, o remorso pelo amor perdido, a espantosa solidão, o desencanto e a ferocidade, dos quais afloram a medida de uma grandeza humana que, por mais enlouquecida que seja, não pode deixar de nos maravilhar.

O que escreveu Camus sobre Calígula

 

Calígula foi escrita em 1938, depois que fiz uma leitura da obra Doze Césares, de Suetônio. Eu destinei esta peça a um pequeno teatro que criei em Argel e a minha intenção, desde o início, com toda simplicidade, era a de atuar eu mesmo no papel de Calígula. Os atores iniciantes têm dessas ingenuidades. E eu já tinha 25 anos, idade em que se duvida de tudo, menos de si próprio. A guerra me forçou à modéstia e Calígula estreou em 1946, no Théâtre Hébertot, em Paris. Calígula é, portanto, uma peça de ator e de diretor, mais do que de autor. Porém, que fique bem entendido: ela se inspira nas inquietações que eu tinha naquela época. A crítica francesa, que recebeu muito bem o espetáculo, freqüentemente escreve, para meu espanto, que se trata de uma peça filosófica. Mas será verdade?

 

 Calígula, príncipe até então relativamente amável, acaba por perceber, com a morte de Drusilla, sua irmã e amante, que o mundo, tal como está, não lhe é satisfatório. A partir daí, obcecado pelo impossível, envenado de maldade e horror, ele tenta exercer, por meio do assassinato e da perversão sistemática de todos os valores, uma liberdade tamanha que não demorará para descobrir que não é uma liberdade boa. Ele recusa a amizade e o amor, a simples solidariedade humana, o bem e o mal. Ele enreda com palavras todos os que estão à sua volta, ele os força a encontrar uma lógica, ele nivela tudo ao seu redor pela força de suas recusas e por uma raiva destruidora. É onde reside sua paixão de viver.

 

Mas se sua verdade era se revoltar contra o destino, seu erro foi o de negar o humano. Não se pode a tudo destruir, sem destruir a si próprio. Calígula arrasa com o mundo ao seu redor e, fiel à sua lógica de vida, faz o que pode para voltarem-se contra ele todos os que terminarão por assassiná-lo. Calígula, a peça, é a história de um suicídio superior. É uma história sobre a forma mais humana e mais trágica de errar. Infiel ao homem, por fidelidade a si mesmo, Calígula consente em morrer, por haver compreendido que nenhuma criatura pode se salvar sozinha e, ainda, que não se pode ser livre à custa dos outros.

 

Trata-se, portanto, de uma tragédia da inteligência. É de onde se pode concluir, naturalmente, que o drama de Calígula foi totalmente de cunho intelectual. Pessoalmente, eu acho que conheço bem os defeitos desta obra. Mas procuro em vão a filosofia nesses quatro atos que escrevi. Ou, se ela existir ali, ela se encontra no nível da seguinte afirmação do herói: Os homens morrem e eles não são felizes. É uma ideologia bem modesta, pode-se notar, e eu até tenho a impressão de dividi-la com Monsieur de La Palice (1470-1525) e com a humanidade inteira. Não, minha ambição não era a filosofia, era outra. A paixão pelo impossível é, para o dramaturgo, um objeto de estudo tão valoroso quanto a sede de amar ou o adultério. Mostrar essa paixão em toda a sua fúria, justificando estragos e desencadeando confrontos – eis o que era o meu projeto. E é sobre esse aspecto que deve ser julgada a minha peça.

 

Uma última palavra. Alguns acham que minha peça é provocante e são os mesmos que, no entanto, consideram natural que Édipo mate o pai para se casar com a mãe ou os mesmos que aceitam fazer ‘ménage à trois’, desde que nos limites, é claro, de quatro sólidas paredes e em alta sociedade. Eu tenho pouca admiração por certo tipo de arte que só escolhe chocar por falta de saber convencer de outra forma. E se, por uma infelicidade, eu me pegasse realmente sendo escandaloso, seria apenas por causa desse gosto desmesurado que os artistas têm pela verdade ­– e um verdadeiro artista não consegue abrir mão da verdade, porque isso significaria renunciar à sua arte.”

 

Albert Camus, no prefácio à edição americana do livro ‘Théâtre’ (1958), antologia de suas peças pela editora Pléiade (tradução de Dib Carneiro Neto).


Calígula

Teatro Paulo Autran do SESC Pinheiros.

Temporada - de 28/11 a 21/12 (sexta a domingo) e de 8/01 a 22/02/ 2009. Sextas e sábados, às 21h. Domingos, às 18h.

Texto: Albert Camus. Tradução: Dib Carneiro Neto. Direção e figurinos: Gabriel Villela. Cenografia: J C Serroni. Sonoplastia: Daniel Maia. Elenco: Thiago Lacerda, Pascoal da Conceição, Magali Biff,  Rodrigo Fregnan, Pedro Henrique Moutinho, Jorge Emil e Ando Camargo.

Ingressos: 20,00 (inteira), R$ 10,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, + de 60 anos, estudantes e professores a rede púbklica de ensino.) e R$ 5,00 (trabalhadores no comércio e serviços matriculados no SESC e dependentes).

Capacidade – 700 lugares.

Duração – 100 minutos.

Classificação etária: 14 anos.   

 

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