Camilla Comolatti, Carolina Pareto, Gabriel Careli, Gabrielle Figueiredo e Leticia Lopez
Alunos do curso de Psicologia da PUC-SP*
São Paulo - SP
*Orientação: Mônica Helena Tieppo Alves Gianfaldoni, Doutora em Psicologia da Educação pela PUC-SP e professora da PUC-SP
Ricardo Roberto Plaza Teixeira Doutor em Ciências pela USP e professor da PUC-SP e do CEFET-SP
Ah, o amor! Mesmo sendo um sentimento discutido a séculos, sempre foi difícil definir objetivamente o amor. Muitos até questionam a possibilidade de uma definição única para o conceito.
Fato é que o amor e os relacionamentos amorosos sempre foram tema de estudo, e não são poucos os autores que tentam explicar o que está por trás do nosso comportamento neste âmbito.
Darwin e a Teoria da Evolução acreditam que na seleção natural passaram entre as gerações as qualidades consideradas preferenciais no comportamento sexual. Observaram também que na maioria das vezes, os machos eram o gênero competitivo e as fêmeas o gênero seletor.
Outro autor discute que o gênero seletor é aquele que faz maior investimento no cuidado e sobrevivência da prole, a Teoria de Investimento Parental, sendo no caso dos seres humanos as mulheres (por todo cuidado que elas devem ter com a gravidez, amamentação, etc.). Pesquisas nessa área chegaram a resultados que nós mesmos podemos perceber no dia-a-dia: mulheres procuram homens um pouco mais velhos por sua capacidade de compromisso, maturidade e recursos financeiros. Homens dão mais valor à mulheres mais bonitas e que sejam mais jovens para poderem ter mais filhos.
Os homens então se mostrariam mais propensos a engajar-se em relacionamentos de curto prazo pelo fato de que seu investimento não ser tão alto quanto o da mulher na criação da prole. Parece que disso a cultura soube se aproveitar muito bem. Ao longo da história as mulheres sempre foram mais difíceis do que os homens, menos liberadas sexualmente.
Pensando na idéia de investimento algumas pesquisas concluíram que as pessoas buscam parceiros para relacionamentos amorosos de longo prazo que sejam parecidas com elas. Portanto, se um indivíduo tem uma característica a qual dá muito valor, este indivíduo tende a ser exigente nesse quesito na seleção das pessoas do sexo oposto. Em uma pesquisa feita, muitas das pessoas que se julgavam parceiros para relacionamentos de longo prazo, escolheram parceiros que também apresentavam características de longo prazo, o que mostraria que as pessoas procuram pessoas com característica semelhantes a elas para um relacionamento.
Com isto em mente pensamos: Afinal, o que será as mulheres querem? Será que existem mesmo semelhanças entre o que a mulher percebe em si, e o que ela procura em um parceiro de curto e longo prazo e o que ela procura para parceiros de curto e longo prazo?
Para isso, estivemos em cinco universidades da cidade de São Paulo – quatro particulares e uma pública - e entrevistamos 52 mulheres entre 17 e 33 anos escolhidas aleatoriamente.
Como instrumento usamos um questionário aberto para descobrir o perfil dessa participante perguntando sua idade, suas experiências amorosas passadas, número de parceiros com quem já “ficou”, número de parceiros com quem namorou, número de vezes que já se apaixonou, número de vezes que já amou, e qual a definição ela daria para relacionamentos de curto e longo prazo. E uma segunda parte do questionário apresentava uma escala com valores de 1 a 5 para que a participante assinalasse o tipo de importância dada a determinadas características (personalidade interessante, fidelidade, devoção a um relacionamento, bondade e compreensão, religiosidade, beleza física, comprometimento familiar, perspectiva de ter filhos, inteligência, nível educacional, ambição, status social, recursos financeiros) com relação a si mesma, e a seus parceiros (de curto prazo e de longo prazo).
Cabe aqui falar que o grupo optou por não dar às participantes a definição de “ficar”, e nem de qualquer outro termo citado no questionário já que concluímos que o “ficar” é um termo de uso corriqueiro entre os jovens e que as outras definições são muito subjetivas às experiências individuais para serem generalizadas.
Através do que as mulheres nos contaram descobrirmos que ao serem questionadas sobre critérios para a definição de relacionamentos de curto prazo e longo prazo obteve-se o seguinte resultado: a maioria diz ter vontade de ter relacionamentos a longo prazo; 20,4 % consideram que a diferença entre os dois tipos de relacionamentos é apenas o tempo cronológico. Uma parcela um pouco menor apresenta a confiança entre os parceiros como o critério mais adequado e 12,9% definiram curto prazo como “ficada” e longo prazo como namoro. É interessante dizer que 18,5% das mulheres não responderam estas questões, talvez confirmando a idéia de que existe sim uma dificuldade em definir situações amorosas.
As participantes afirmaram ter namorado 2,5 vezes em média, se apaixonado 4 vezes e amado 2,7 vezes, em média, durante sua vida, o que significa que, curiosamente, as mulheres se apaixonam mais do que namoram ou amam. Além disso, quase a metade delas (48,1%) relatou já ter “ficado” de onze a trinta vezes em suas vidas.
Os dados também indicaram que existem diferenças entre os critérios usados pelas mulheres na escolha dos parceiros de curto e longo prazo. Os resultados mostraram que as mulheres se mostram menos exigentes quanto a parceiros de curto prazo, atribuindo menores valores numéricos do que elas julgaram possuir.
Reparamos também que as mulheres não buscam homens com mais recursos financeiros que elas. Isso tanto em relacionamentos de curto prazo quanto no de longo prazo. O que vai contra o que geralmente ouvimos falar por aí. Mas é importante perceber que essa pesquisa foi feita com universitárias e que algumas já tem uma situação financeira satisfatória e todas devem estar buscando segurança financeira através do seu próprio trabalho. Isto indica que variáveis e contextos culturais e históricos podem ser tão importantes na escolha de parceiros quanto características associadas à herança biológica dos seres humanos, visto que a emancipação financeira de muitas mulheres é um acontecimento histórico recente.
Comparando os dados é possível perceber que as mulheres buscam parceiros que sejam tão comprometidos com a família quanto elas, tão religiosos, tal instruídos, socialmente posicionados e com os mesmos sonhos em ter filhos que elas nos relacionamentos a longo prazo. Sobre personalidade interessante, fidelidade, devoção a um relacionamento, bondade e compreensão e inteligência as mulheres são mais exigentes para a escolha de parceiros de longo prazo do que com elas próprias.
As mulheres mostraram que estão realmente preocupadas com a própria beleza, sendo que a beleza do parceiro não é tão importante quanto a dela. Provavelmente porque os homens preferem mulheres mais bonitas e por isso elas têm que passar mais tempo se preocupando com esse aspecto.
As universitárias paulistas querem mais comprometimento do homem no relacionamento de longo prazo, mas o que parece fazer uma real diferença no nível dessa exigência é a visão que a mulher tem de si mesma. Tudo depende então da sua visão de si. E você, como você se vê?
** Este trabalho foi realizado com mulheres universitárias da cidade de São Paulo no ano de 2007 para determinar quais os critérios que estas utilizam quando selecionam parceiros para relacionamentos amorosos de curto e longo prazo. A partir de um questionário e de uma escala do tipo Lickert no qual elas deveriam atribuir valores a características específicas em relação à sua auto-imagem e às expectativas para um relacionamento a curto e longo prazo, obtivemos resultados numéricos que nos permitiram uma análise estatística dos dados. Comparando a auto-imagem com parceiros de curto e de longo prazo as mulheres tendem a escolher parceiros diferentes delas mesmas para relacionamentos de curto prazo e semelhantes a elas para relacionamentos de longo prazo.
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