Outubro de 2007 - Nº 07    ISSN 1982-7733
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Um dia de abril de 2009

Selma Tronco

21 anos, 5º semestre de Jornalismo da FIAM FAAM

São Paulo-SP

São Paulo, 17 de abril de 2009.

          

  -  “Mamãe, o que é essa tal de ‘reforma agrária’?”

  - “Ai meu fio, é o que o país precisa há tempos. É porque ela num existe que nóis veio pra cidade.”

   -  “Ah...hoje a fessora nos pidiu como dever de casa uma redação sobre qualquer tema e como a sinhora fala muito desse troço eu vô iscreve sobre isso. Jájá eu venho lê pro cê!”

Estamos em um dia de abril de 2009. A cidade é São Paulo e o local... bem, o local é onde Patrick Silva, 10 anos, mora com sua mãe e mais três irmãos. O endereço é comprido: Favela Beco Torto, quarta viela, sobe uma escada, dobra a direita e o barraco é um branco com um pássaro na gaiola ao lado da porta.

 

Josefa, mãe de Patrick, trabalhou no campo até o término do ano de 2007 na região Sudeste. Ela ganhava pouco e a maioria da sua família já havia se mudado para grandes centros urbanos devido à falta de emprego. Josefa Silva tinha consciência de que se fosse para a cidade iria viver em um barraco, com condições de vida péssimas. Só que em 2007 a situação piorou, como conta a atual desempregada: “Foi nesse ano aí, o Brushe veio aqui é quis plantá umas coisa que dá dinhero”, declara Josefa.

A desempregada se refere ao plantio desenfreado de cana de açúcar na região para produzir o etanol, uma alternativa ao petróleo. Em 2007, quando o então presidente dos EUA, George Bush, veio ao país, o preço do barril chegava a 50 dólares. Como o governo brasileiro não tomou providências para defender os interesses nacionais, o desemprego e o subemprego aumentaram ainda mais no campo. O Brasil fez praticamente um retrocesso até a era colonial, onde éramos exportadores de matéria-prima: ficávamos cada vez mais pobres em benefício dos outros que vendiam os produtos e aplicavam os lucros no exterior.

Pois bem, voltamos ao dever de casa de Patrick Silva. Antes de escrever ele liga a televisão e acompanha a notícia sobre os 13 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, quando cerca de 1.000 trabalhadores reivindicavam a desapropriação de uma fazenda de 50 mil hectares e a distribuição de cestas básicas. Patrick não entendeu bem a história, mas resolveu incluí-la na redação também.

Algum tempo depois:- “Mãe, tá pronta, vo lê. O título é ‘Reforma Agrária’”, diz o garoto.

 -  “A Reforma Agrária é uma coisa compricada. É por causa dela que eu tô em São Paulo morando nu meu barraco com minha mãe e meus irmão. Minha mãe é que diz isso e eu concordo cum ela, nóis poderíamos estar vivendo no campo ainda. Teve a uns anos atrás, um presidente que era trabalhadô também e nem assim ele feiz a tal reforma. Eu tenho uns conhecido que trabalha como escravo no campo. Eles plantam um negócio lá que eu esqueci o nome, mas faz os carros funcionarem e os USA gostam bastante. O meu tio Zézão chego esses dia aqui. Ele falo que chegou uns cara onde ele morava e começaram a planta cana aos monte, aí num tinha mais lugar pra ele vivê e quem continua lá trabalha mal. Por isso que eu apóio a notícia da TV sobre os trabalhadores do Carámar que morreram lutando num lugar muito, muito longe daqui que eu também não lembro o nome. Mas o governo disse que daqui a pouco em uns dois anos vai tá tudo resolvido”, conclui Patrick.

  -   “Nossa fio, cê sempre mi faiz feliz, ficô muito boa, só num vo lê pra vê si tem algum erro de portugueis porque ce sabe que a mãe num le”, diz Josefa.

Patrick ficou extremamente satisfeito com o comentário da mãe. Ele, assim como milhões de brasileiros, aceitam a visão otimista do governo. Bem, vamos ver como será uma crônica sobre esse assunto em algum dia de abril de 2011. Ou será que poderemos publicar essa mesma?  

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