Relato enviado por Cristhiane Helena Lopes Ferrero
24 anos, advogada
São Paulo - capital
Foto: Cristhiane H. Lopes Ferrero
Era para ser apenas o reencontro de dois amigos, mas aquela noite de bar acabou se tornando o pontapé inicial para realização de um sonho de vida: um mochilão pela Europa.
Tínhamos dois meses para organizar toda a viagem, programar as férias, reservar os hostels, comprar passagens, devorar os guias, contabilizar a grana, conseguir passaportes e, principalmente, resolver o roteiro.
Dentre tantas cidades históricas e sonhadas, como conciliar as vontades, o tempo e definir o roteiro? Bem, nada como horas e horas de discussão, pesquisa, compreensão e alguns cálculos, para que chegássemos ao seguinte trajeto: São Paulo – Madri (com um pulinho em Toledo) – Barcelona (com um pulinho em Montserrat) – Paris – Londres – Amsterdã – Berlim – Veneza – Florença - Pisa – Roma (com um pulinho em Pompéia) – São Paulo.
Com as mochilas nas costas, um frio enorme na barriga, passaporte na mão e uma despedida calorosa de nossos pais, havia chegado o momento tão esperado, 31 dias de férias, sem qualquer compromisso, pela Europa.
Não conseguiria mensurar o que esta viagem representou na minha vida, digo apenas que foi realmente a realização de um sonho. As experiências são tão intensas, maravilhosas e mágicas que temos a sensação de que o tempo triplica.
Impossível descrever em palavras o que se sente ao pisar no Coliseu, tocar o Muro de Berlim, entrar num Campo de Concentração, assistir uma tourada, sair em Barcelona, passear de gôndola, adentrar o Louvre ou ver a troca da guarda inglesa. Cada uma delas torna-se uma experiência única e inesquecível.
Dentre tantas histórias para contar desta viagem, meu coração bate mais forte pela visita ao Vesúvio, o vulcão que destruiu Pompéia.
Foto: Cristhiane H. Lopes Ferrero
Para que melhor compreendam a história, tenho que lhes contar que, quando pequena, fiz uma lista de 100 coisas que precisava fazer na vida, dentre elas, havia a seguinte: “41 - Subir na boca de um vulcão ativo”.
Enfim, era nosso penúltimo dia de viagem e eu estava mais ansiosa do que no primeiro. Revirei na cama a noite toda com medo de perder o horário e imaginando o quanto seria arrepiante chegar ao topo do vulcão, mal sabia que o arrepiante mesmo seria o caminho até o topo do vulcão.
O Vesúvio é um vulcão ativo, localizado em Nápoles, com uma altura de 1.281 metros. Ao entrar em erupção em 79 d.c., este vulcão provocou uma enorme tragédia, matando milhares de pessoas que moravam em Pompéia. Foto: Cristhiane H. Lopes Ferrero.
O dia estava lindo. Chegamos, após 3 horas de viagem, em Nápoles. Compramos um pacote na saída da estação de trem que incluía a visita ao Parque onde tinham as escavações, o translado até o Vesúvio e a entrada na reserva natural.
Sem pensar duas vezes, optamos, primeiramente, em ir até o Vesúvio. Sentei no primeiro banco e “saquei” a máquina fotográfica. Eufórica, conversava com meu amigo, quando, então, ele surgiu no horizonte: magnífico e estonteante. Finalmente, o Vesúvio.
Fotos e mais fotos na longa subida de ônibus até a entrada da reserva natural. Neste ponto, os ônibus estacionam. É hora de “arregaçar as mangas”, pegar um cajado e iniciar a longa caminhada ao topo do vulcão.
Foto: Cristhiane H. Lopes Ferrero
Meu amigo disparou na minha frente. Resolvi que aquele era um percurso que eu definitivamente queria fazer sozinha. Não sei se foi a vista maravilhosa do mar ou o ar rarefeito que me fizeram abstrair da dor e mergulhar em meus pensamentos.
Comecei a lembrar de tudo o que tinha se passado na minha vida para que eu conseguisse estar ali. Cada passo dado era um flash da minha vida: os longos anos de estudo, a dedicação incondicional dos meus pais, muito trabalho, muitos erros, algumas perdas e o apoio dos amigos.
Foto: Cristhiane H. Lopes Ferrero
A caminhada era longa, mas quando dei por mim, já estava, sem ar e com lágrimas nos olhos, no topo do Vesúvio. Apesar do cume do vulcão ser bem diferente do que eu imaginava, explodia de felicidade. Ao contrário do que haviam me informado, havia, sim, “fumacinha” e cheiro de enxofre.
Foto: Cristhiane H. Lopes Ferrero
Permaneci estática e calada, por minutos, recuperando o fôlego, admirando aquela vista maravilhosa e tentando sedimentar tudo o que aquele momento representava. Só então percebi que a viagem e, principalmente, o vulcão eram muito mais do que a realização de um sonho, era minha chance de, após anos vivendo na loucura do dia a dia, fazer uma retrospectiva de vida e amadurecer sentimentos, perdas e projetos futuros.
Demorei tanto na caminhada, que o tempo de permanência no Vesúvio havia se esgotado. Era hora de descer. Respirei profundamente, enxuguei as lágrimas e sorri. A descida era íngreme e, apesar do tempo escasso, me permiti brincar de “derrapar nas pedrinhas”.
Era o fim da viagem, o fim de um sonho, a volta da rotina e das obrigações, mas estava feliz. Sentia-me leve, renovada e, finalmente, pronta para uma nova etapa da minha vida.
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