Março de 2006- Nº 01    ISSN 1982-7733
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5 Caras, 3 Acordes e 1 Sentimento

Texto enviado por Carlos Messias
23 anos, São Paulo-capital

Em uma época em que as bandas pregavam paz e amor, colocavam flores no cabelo e rumavam a São Francisco, eis que surgiu um grupo no próprio coração industrial de Detroit chamado MC5. Eles não eram fortes em melodia quanto eram em barulho, pois suas guitarras e vocais pareciam motores V8 em máxima potência, como aqueles produzidos pelas fábricas que os circuncidavam.

O MC5 não consistia em uma banda de estúdio ou estudantes de música, mas verdadeiros ratos de palco que, movidos por uma intensa pulsão, subiam lá e ofereciam sangue suor e lágrimas.

O MC5 não era nada mais que 5 caras, 3 acordes e 1 sentimento em sua forma mais pura. Estavam pouco se fodendo para a técnica musical ou para a produção de estúdio, justamente por isso suas músicas tinham uma qualidade crua, visceral e energética.

Antes do MC5 não existia nada como o Punk ou o Metal, e muito menos o Grunge. Eram cinco amigos, com os seus vinte e poucos anos que tocavam uma música que corria em suas veias, vinda direto do coração, feito uma mula desembestada galopando por uma mata virgem. Também se envolveram com a política da época, chegaram até a ser presos e torturados pela CIA.

Dentre as canções que compunham o seu setlist, uma se tornou um hit imediato entre os jovens locais: “Kick Out The Jams”, que se tornou um hit da juventude renegada, da contra-cultura norte-americana, o símbolo de tudo que o movimento Punk mais tarde representaria. Essa se tornou a faixa-título do primeiro álbum dos caras, lançado em 69: uma descarga abrupta de afeto que fora gravada ao vivo, comprovando a química absurda que permeava a performance de Robin Tyner, Fred “Sonic” Smith, Wayne Kramer, Michael Davis e Dennis Thompson.

Em 1970 eles lançaram Back in The USA, seu álbum mais eclético e completo, o primeiro de estúdio. High Time de 1971 foi seu disco mais elogiado pela crítica.

Os três álbuns constituem verdadeiros presentes à humanidade de uma banda que infelizmente não teve um futuro, entrando para a história em 1972.

Já em agosto de 2005, eles viriam ao Brasil em uma nova formação chamada DKT/ MC5 para tocar no Campari Rock. Essa formação era composta por Denis, Kramer e Thompsom, contando com o apoio de Mark Arm (vocalista do Green River e do Mudhoney) e de Marshall Crensaw, um músico de Nova York que estava fazendo a guitarra base. Infelizmente eles estavam desfalcados por Smith e Tyner (que não estão mais entre nós).

Finalmente o dia chegou e eles entraram no palco. Começaram mandando Ramblin’ Rose, canção com que eles antigamente abriam os shows. Na seqüência Mark Arm entrou, parecendo não querer ser notado, e assumiu o posto no microfone do canto direito. Com um tamborim em mãos, cantou Shaking Street. A energia começava a pegar. Wayne cantou a balada Miss X. Depois veio Sister Ann e não havia mais volta: eles eram donos do palco e da alma de qualquer um ali presente.

E então eles tocaram Over and Over, aquele que deveria ter sido o hino da década de 70 anti-Vietnam, um dos momentos chave do show. Eles saíram do palco. Quando voltaram, foi a vez de mais um hino. Esse, provavelmente da geração Punk: Kick Out The Jams, motherfucker! Puta que o pariu! Não havia espaço suficiente para cada um se jogar e se contorcer o suficiente. O sentimento de liberdade e confluência era tanto, que a platéia se fundiu em uma onda de agitação.

Depois eles tocaram Call Me Animal. E com I Want You Right Now atingiram o verdadeiro clímax do show. Como se não bastassem seus gritos, pulos e caras, Mark se atirou na platéia em um stage dive alucinado. E, como tudo que é bom tem que acabar, eles se foram, deixando para trás nada menos que saudade e boas lembranças.

Lembranças de um tempo em que o Rock era puro e se achava que ele poderia mudar o mundo. E mesmo com ele conseguindo expressar uma energia genuinamente pura, não influenciou a política e a cultura tanto quanto gostaria.

Por isso mesmo, deixemos que nos modifique, nos tornando mais sensíveis para aquilo que nos é mais verdadeiro. Deixemo-nos sentir como se tivéssemos dezesseis anos novamente e as coisas fossem tão simples como achávamos que elas fossem. Afinal de contas, quem tem esse tipo de sentimento e sente esse tipo de poder, se torna capaz de qualquer coisa.
Som é som! Mas cada um tem o seu, claro. Aqui tem pra todos!

Se você adora música, escolha uma história para nos contar. Se tiver uma banda, conte alguma coisa sobre ela.

Ah! Se você quiser comentar sobre algum grupo musical ou algum show que esteja rolando na cidade, pode também nos enviar. Vamos ouvir sua melodia.
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