Março de 2006- Nº 01    ISSN 1982-7733
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Televisão: o que ela liga em você?

O Jornal Jovem encaminhou as perguntas para Ana Cristina Olmos. Veja aqui a entrevista completa.

Ana Cristina Olmos
Psicanalista infantil. Presidente da ONG TVer e membro do Conselho de Acompanhamento da Programação de Rádio e TV da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal.




1) O que a Sra acha da programação de televisão dirigida aos jovens?

O jovem, assim como qualquer outro telespectador, fornece o seu olhar, que forma a "audiência". Esse índice de audiência é vendido pela emissora para anunciantes e patrocinadores. Quanto maior esse número, num determinado horário, maior o valor cobrado pelo tempo do anúncio. Esta noção é básica para se compreender o porquê da baixa qualidade da programação televisiva. Trata-se de observar que ela não é dirigida à adolescência enquanto uma faixa etária em formação, com necessidades próprias para seu desenvolvimento, mas à adolescência enquanto mercado consumidor de produtos em potencial.

A grade da programação das emissoras comerciais é montada, então, segundo critérios comerciais, e não critérios de desenvolvimento. O jovem é considerado bàsicamente como público-alvo a ser atingido e formado para o consumo. Nesse sentido, o grande cliente da TV comercial é o anunciante, que é quem compra o "produto" dessas empresas: o tempo dos intervalos entre os programas, ou o "merchandising", ou seja, a propaganda inserida dentro dos próprios programas. Vale dizer que a prática do "merchandising" é proibida na legislação de programação televisiva, para a proteção à infância e adolescência, em países de democracias consolidadas. Isto porque não fica claro e transparente para o jovem que aquela "informação" é na verdade a veiculação de uma peça publicitária.

2) Como se explica o magnetismo que a televisão exerce sobre as pessoas?

Se você lê um texto de propaganda, por exemplo, o efeito de convencimento é um. Se você ouve esse mesmo texto simultâneo a imagens, música, efeitos áudio-visuais, sua atenção é outra. Assim é para uma aula com um filminho sobre o tema. A função "neuropsicológica" ATENÇÃO, pré - requisito para a função MEMÓRIA, fica mais fácil de ser realizada pelo cérebro, diante do conjunto de estímulos áudiovisuais.

A TV trabalha com esse eficiente conjunto de estímulos, que propiciam esse magnetismo, essa adesão emocional, dado que essa classe de estímulos é processada privilegiando processos sensoriais e não dedutivos, racionais do cérebro.

3) A televisão pode estimular a violência?

Sim, vai depende de seu uso. O veículo de comunicação TV pode participar da construção dos caminhos da sociedade, tanto para a civilização quanto para a barbárie. Para o primeiro destino, quando imprime valores éticos em seus conteúdos, estimula o respeito às diferenças, à responsabilidade social, reconhece o direito de todos ao acesso aos bens da Civilização. Para o segundo, quando TV estimula o uso da violência como forma de resolver conflitos, a discriminação, o preconceito e o abuso sob qualquer forma de dominação e submetimento.

4) O hábito de ficar muitas horas diante da TV pode mesmo ser prejudicial?

O sociólogo italiano Giovanni Sartori reflete que a cultura da imagem empobreceu o pensamento abstrato.De fato, do ponto de vista neuropsicológico, os estímulos áudiovisuais e a hiperestimulação sensorial favorecem outras áreas do cérebro que não as mais envolvidas na capacidade de pensar, de deduzir, de estabelecer relações e de refletir.

5) Qual o processo que faz com que as pessoas se sintam tão estimuladas a comprar o que vêem na TV?

A adesão às idéias e conteúdos da TV são predominantemente de natureza emocional. Por exemplo: os mecanismos psíquicos de identificação e imitação de modelos veiculados na TV são a base para a indução ao consumo de um produto pelo telespectador. O jovem acaba por querer se vestir igual, usar a mesma grife, copiar estilos. Crianças e jovens estão mais vulneráveis à propaganda e ao risco de manipulação de suas atitude e idéias. A peça publicitária é montada em cima de pesquisas sobre o universo consciente e o inconsciente de cada grupo de consumidores que é eleito como público-alvo. O "marketing infantil" conhece cada vez mais os processos psíquicos envolvidos na relação das crianças com os produtos e as marcas. Cada vez mais, se investiga como "capturar" seu desejo para o consumo.

6) Por que é tão difícil equilibrar hábito de leitura com hábito de TV?

A TV está facilmente ao alcance dos dedos: com um simples clique, o mundo de imagens e sons é trazido à casa do telespectador e assistir televisão fica uma atividade quase que automática. Passiva e sem a exigência de um esforço em contrapartida. Às vezes, até , com a função de preencher um "buraco" emocional: vira uma dependência. Na leitura, o sujeito é ativo: ela dá trabalho e conta com o uso da capacidade de pensar. Em compensação, o treino de funções cognitivas mais elaboradas favorece um ganho de percepção e o hábito de criar em cada contexto novo, soluções próprias e mais eficientes.

José Francisco Conte de Sacadura Cabral
3º E.M. Colégio São Luís
José Francisco Conte de Sacadura Cabral
3º E.M. Colégio São Luís
Pedro França
8º série E.F.Escola Santo Inácio
Gaby Midori Hosokawa
8º série E.F.Escola Santo Inácio
Renata Preturlan
3º E.M.Colégio São Luís
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