Setembro de 2008 - Nº 11     ISSN 1982-7733
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Bullying: Definição e critérios para identificação

Trechos do livro Bullying escolar – perguntas e respostas, recém-lançado pela editora Artmed e escrito pela pedagoga Cléo Fante e pelo psicólogo José Augusto Pedra.

*A autorização da reprodução foi dada pela editora Artmed, exclusivamente para compor o conteúdo online do Jornal Jovem.

Quais são os tipos de maus-tratos utilizados pelos autores de bullying e como ocorrem na prática as condutas bullying?

Nos estudos sobre bullying, os tipos de maus-tratos encontrados são: físico, verbal, moral, sexual, psicológico, material e virtual. Ocorre quando um ou mais alunos elegem uma vítima para “bode expiatório” do grupo e contra ele exercem força coercitiva, com atitudes agressivas, contra as quais as vítimas não conseguem se defender. Os autores mobilizam as opiniões dos colegas contra a vítima, através de boatos difamatórios ou apelidos que acentuam alguma característica física, psicológica ou trejeito considerado negativo, diferente ou esquisito. Outros perseguidos são estranhos, nerds, os que têm sotaque, jeito efeminado ou sensível, no caso dos meninos, ou masculinizados e grosseiros, no caso das meninas, ou aqueles que são diferentes da maioria dos alunos. Os agressores normalmente maltratam suas vítimas, constrangendo-as com zombarias, “zoações”, “sacanagens” ou valendo-se de gestos, expressões faciais, risadinhas irônicas ou olhares ameaçadores. Na maioria dos casos, a vítima sente-se isolada e excluída do convívio dos colegas, seja por ter o moral rebaixado, seja pela rejeição a ela que os grupos manifestam, uma vez que não querem entre eles alguém “tão fraco ou indefeso” ou temem que, ao apoiá-la, tenham que enfrentar os seus agressores e tornem-se as próximas vítimas.

(PERGUNTA 8, PÁGINA 37)

O que diferencia o bullying de outros tipos de violência?

A principal diferença é a propriedade de causar traumas irreparáveis ao psiquismo das vítimas, comprometendo sua saúde física e mental e seu desenvolvimento socioeducacional. Ao contrário de outras ações violentas, ocasionais e reativas, o bullying é caracterizado por ações deliberadas e repetitivas, pelo desequilíbrio de poder e pela sutileza com que ocorre, sem que os adultos percebam ou permitindo que estes finjam não perceber. O bullying é uma forma de violência que resulta em sérios prejuízos, não apenas ao ambiente escolar, mas a toda a sociedade, pelas atitudes de seus membros. As relações desestruturadas por meio de condutas abusivas e intimidatórias incidem na formação de valores e do caráter, o que refletirá na vida do indivíduo, no campo pessoal, profissional, familiar e social. O bullying  está diretamente relacionado à formação de gangues, ao uso de drogas e armas, à violência doméstica e sexual, aos crimes contra o patrimônio e, conseqüentemente, às necessidades de investimentos governamentais para atender à demanda da Justiça, dos programas sociais e da saúde (www.diganaoaobullying.com.br)

(PERGUNTA 9, PÁGINA 37)

Quais são os locais onde comumente ocorrem os ataques bullying?

São vários os locais onde ocorrem os ataques: pátios de recreio, playground, banheiros, corredores, salas de aula, bibliotecas, quadras esportivas, salas de informática, laboratórios e imediações das escolas. Também ocorrem em outros locais fora da escola, mas de convivência comum aos alunos, como condomínios, cibers, shoppings e outros locais onde se reúnem. Na maioria dos países, constatou-se que o pátio de recreio é o lugar de maior incidência dos ataques bullying. Entretanto, no Brasil, as pesquisas apontam para a sala de aula. Isso se justifica pelo fato de ser tema novo de discussão no meio educacional brasileiro, motivo pelo qual a maioria dos professores desconhece a relevância do fenômeno e não sabe como agir ao se deparar com a questão. Muitos agem de acordo com suas próprias experiências e acreditam ser o bullying necessário para o amadurecimento dos indivíduos. Outros não dão importância por acreditarem que são “brincadeiras próprias da idade”, sem maiores conseqüências. Há ainda aqueles que pensam que os próprios alunos devem resolver seus problemas, sem intromissão dos adultos. Porém, todo o professor treinado ou não para lidar com o bullying, é capaz de observar as relações interpessoais e perceber os sinais que são emitidos por aqueles que se sentem incomodados ou vitimizados.

(PERGUNTA 37, PÁGINAS 53 E 54)

Quais são os critérios usados para identificar o comportamento bullying?

Existem alguns critérios básicos, que foram estabelecidos pelo pesquisador Dan Olweus, da Universidade de Bergen, na Noruega (1978 a 1993), para identificar as condutas bullyings e diferenciá-las de outras formar de violência e das brincadeiras próprias da idade. Os critérios estabelecidos são: ações repetitivas contra a mesma vítima num período prolongado de tempo; desequilíbrio de poder, o que dificulta a defesa da vítima; ausência de motivos que justifiquem os ataques. Acrescentamos ainda que se deve levar em consideração os sentimentos negativos mobilizados e as seqüelas emocionais, vivenciadas pela vítima do bullying.

(PERGUNTA 12, PÁGINA 39)

Como podemos caracterizar os atos repetitivos?

De acordo com Olweus (1999), o bullying é compreendido como um subconjunto de comportamentos agressivos, sendo caracterizado por sua natureza repetitiva e por desequilíbrio de poder. Ainda segundo o autor, considera-se que as ações são repetitivas quando os ataques são deferidos contras a mesma vítima num período de tempo, podendo variar de duas ou mais vezes no período letivo. Parece pouco, mas devemos levar em conta a desagradável e aversiva experiência emocional vivenciada pela vítima. Um fator que devemos levar em consideração é o medo, que se torna constante, principalmente de que o ataque volte a acontecer, por isso, a vítima mobiliza, inconscientemente, sentimentos como ansiedade, medo, insegurança, angústia, raiva, além de tensão, constrangimento, receio de fazer uma pergunta ao professor e ser alvo de “zoação”, etc. Para a vítima, é preferível calar-se  ou isolar-se dos demais na tentativa de minimizar o seu sentimento. Mesmo fora do ambiente escolar a vítima continua lembrando-se dos episódios e somatizando-os, como se de fato estivesse na presença de seus agressores. Imaginemos uma criança ou adolescente que passa por esse tipo de constrangimento, mobilizando medo, angústia, raiva e desejo de vingança. Após alguns anos, ela provavelmente se encontrará desestruturada, no limiar de suas forças e até mesmo de sua sanidade.

(PERGUNTA 13, PÁGINAS 39 E 40)

Quais são as emoções e os sentimentos mais comuns  despertados nas vítimas de bullying?

Dependendo da estrutura psicológica de cada indivíduo, o bullying poderá mobilizar ansiedade, tensão, medo, raiva reprimida, angústia, tristeza, desgosto, sensação de impotência e rejeição, mágoa, desejo de vingança e pensamento suicida, dentre outros. Porém, devemos pensar nos tipos de construções inconscientes de cadeias de pensamentos que estão sendo construídas na memória da vítima e suas implicações para o desenvolvimento da auto-estima, da socialização e do aprendizado. A experiência bullying é traumática ao psiquismo das vítimas, pois promove o superdimensionamento do registro em sua memória, por causa da forte carga emocional de constrangimento vivenciada. Daí por diante, seja de fonte extrapsíquica ou intrapsíquica, a cada novo estímulo aversivo, gerado pela presença ou lembrança do agressor, novas construções de cadeias de pensamentos se constroem, aprisionando a mente da vítima a emoções desagradáveis e geradoras de desequilíbrios biopsicossociais.

(PERGUNTA 16, PÁGINA 41)

Os professores podem ser alvos de bullying?

 

Muitos professores são assediados sexual e moralmente, humilhados, ameaçados, perseguidos, ridicularizados por seus alunos e até mesmo por seus colegas. É grande o número de profissionais que sofrem em seu ambiente de trabalho, sem saber o que fazer e às vezes a quem recorrer. Caso procurem a direção escolar em busca de auxílio, podem ser mal-interpretados e rotulados de incompetentes. Se chamarem os pais dos autores dos maus-tratos para uma conversa, a maioria não comparece. Se reclamarem aos próprios alunos, estes geralmente dizem que são brincadeiras inofensivas e que o professor é sensível demais. Tudo isso causa grande mal-estar aos profissionais, prejudica sua auto-estima e o desempenho de suas funções, gerando acentuado estresse, desânimo e fadiga, que se refletirão nas relações familiares e com os seus alunos e colegas de trabalho, além de aumentarem a propensão à Síndrome de Burnout*. Uma pesquisa realizada pelo sindicato de professores britânicos da União Nacional de Professores (NUT) concluiu que é crescente o envolvimento de professores, sobretudo mulheres, em bullying. Os professores são agredidos com palavras abusivas, piadinhas e comentários sexistas em sala de aula. O estudo mostrou que um quinto dos professores de ensino básico e dois terços dos professores de ensino médio já foram alvos de bullying. Ainda segundo o estudo, um em cada 20 docentes foi agredido pelo menos uma vez por semana. No Brasil, fizemos um levantamento de dados com cerca de 600 professores da rede pública e privada de ensino. Os resultados mostraram que 50% deles se envolveram em bullying quando escolares. A maioria ainda sofre as conseqüências do fenômeno ou são alvos de assédio moral.

(professores-teachers.blogspot.com/2006_12_03_archive.html)

(PERGUNTA 23, PÁGINAS 43 E 44)

*Síndrome de Burnout: síndrome caracterizada pelo esgotamento físico, psíquico e emocional, em decorrência de trabalho estressante e excessivo. Baixa auto-estima, fadiga emocional física e mental e sentimento de impotência e inutilidade aflingem o portador da doença.

Os professores também praticam bullying contra seus alunos?

Isso ocorre bem mais do que supomos. Não somente os professores, mas outros profissionais que trabalham na escola. Alguns estudiosos vêm se dedicando a pesquisar o bullying na relação professor-aluno, dentre eles o norueguês Dan Olweus. Muitos alunos são perseguidos, intimidados, ridicularizados, coagidos e acusados. Esses autores comparam, constrangem, criticam, chamam a atenção publicamente, menosprezam, mostram preferência a determinados alunos em detrimento de outros, humilham. Rebaixam a auto-estima e a capacidade cognitiva, agridem verbal e moralmente, fazem comentários depreciativos, preconceituosos e indecorosos. Portanto, a vítima de um professor sofre terrivelmente na escola, pois esse fato gera inúmeros sentimentos negativos, cujos resultados geram sensação de impotência, prejudicando o rendimento escolar e promovendo a desmotivação para os estudos.

(PERGUNTA 24, PÁGINAS 44 E 45)

Existem estudos que demonstraram a média de idade em que mais ocorre o bullying?

O bullying se propaga cada vez mais na educação infantil e no ensino fundamental. A maioria dos casos ocorre nos primeiros anos escolares, porém sua intensidade e o agravamento dos episódios aumentam conforme aumenta o grau de escolaridade. Estudiosos apontam que nos próximos anos haverá aumento do bullying nas escolas e da violência entre jovens e na sociedade em geral. Alertam para o aspecto epidêmico do bullying, por se tratar de comportamento psicossocial expansivo, uma vez que 80% das vítimas tendem a reproduzir os maus-tratos sofridos. Na adolescência, diminui a freqüência e o registro de bullying, mas aumentam a gravidade, a intensidade e a qualidade e a qualidade dos ataques. Devido ao grau de maturidade a ampliação das relações interpessoais e enamoramentos, no ensino médio os ataques se transformam em atos de vandalismo e delinqüência. São ataques mais coletivos e genéricos. Em alguns países, pesquisas demonstraram que a média de idade de maior incidência entre os agressores situa-se na casa dos 13 aos 14 anos, enquanto as vítimas possuem em média 11 anos, fato que comprova a teoria de que os papéis dos protagonistas se intensificam conforme aumenta o grau de escolaridade. (Costantini, 2006)

(PERGUNTA 29, PÁGINAS 46 E 47)

O trote universitário pode ser considerado bullying?

Culturalmente, o trote universitário não é considerado bullying, e sim um rito de passagem esperado pelo calouro e seus familiares. Hoje em dia é encarado como uma prática inadequada e combatida, por ser geradora de constrangimento e violência, em muitos casos. Trata-se de uma prática antiga, permitida e ainda tolerada pela sociedade. Entretanto o trote pode dar origem ao bullying na medida em que as ações negativas se tornem persistentes. Temos conhecimento de inúmeros calouros que são subjugados pelos veteranos ao longo do período universitário. São constrangidos, apelidados pejorativamente, ridicularizados, ameaçados, perseguidos, humilhados. Muitos são obrigados a prestar serviços, pagar festas, fotocópias, fazer trabalhos escolares ou servir de diversão para os autores, que, na maioria dos casos, reproduzem suas experiências com o trote. Através de “brincadeiras” e justificativas hierárquicas, demonstram em suas atitudes o desrespeito, o preconceito, a intolerância e a dificuldade de empatia e solidariedade humana.

(PERGUNTA 30, PÁGINA 47)

 

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EDITORIAL

          Bullying           Como enfrentá-lo?

CONVIDADOS

Cleo Fante

Trechos do livro Bullying escolar:Perguntas e Repostas, Ed. Artmed

Dr. Lélio Braga Calhau

Dr. Lauro Monteiro

Dra. Juliana Gonçalves Pedreira e Dra. Paula Velloso Baptista Lemos

Daniele Vuoto

 
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