André Cabette Fábio
18 anos, Jornalismo da ECA- USP
Equipe do Museu de Ciências da USP
São Paulo - SP
Entre uma tenda e outra, de estande em estande, o ritmo não diminui. Por todos os lados crianças e adolescentes pululam pela Praça do Relógio, que normalmente só vê tanta energia quando é cortada pelos vários corredores que a percorrem diariamente, no compasso ordeiro e disciplinado do exercício físico. Do lado oposto, colados à Torre do Relógio, na ponte que leva à sua entrada, mais adolescentes se aglomeram, ouvindo música pelos celulares e conversando animadamente.
Foto: Nivaldo Saraiva
Entrando em uma das tendas reservadas às oficinas, no entanto, o clima é bem diferente. Cerca de dez pessoas dispostas em cinco mesas trabalham, ou melhor, criam, silenciosamente. Semblantes concentrados, movimentos cuidadosos. Posicionam lentamente flores no que parecem ser vasos especiais. O silêncio só é quebrado quando as professoras fazem alguma observação sobre o trabalho dos alunos. É o Ikebana, arte japonesa de arranjos florais com mais de 500 anos que tem seu lugar no evento “USP na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia” de 2008.
“Ike” quer dizer água, “bana”, ou “hana”, quer dizer flor. A profª. Yae Inagaki que, junto com profª. Adenir Perini, é responsável pelas aulas de Ikebana diz que, quando vê pessoas roubando flores na rua, pede muitas vezes que elas a coloquem na água. “Tudo bem pegar, mas não para deixar a flor morrer”. Essa é uma preocupação do Ikebana, trazer harmonia e beleza para dentro de casa, mas sem agredir a natureza.
No centenário da imigração japonesa, O Museu de Ciências da USP fez questão de não deixar faltar lugar para as duas professoras ensinarem esta arte. De projetos sociais a colégios, já travaram contato com todo tipo de público. Agora têm a oportunidade de lidar com estudantes e até mesmo professores universitários, que fazem uma pausa em sua rotina para aprender algo diferente.
Caminhando entre as mesas, as profas. Perini e Inagaki fazem observações para seus alunos. Procuram sempre dar liberdade para que criem seus próprios arranjos, mas sempre dentro das técnicas do Ikebana. “Está muito entulhado”, diz Adenir enquanto retira algumas flores do vaso de uma aluna. “Viu? Agora as flores têm espaço para respirar”. Aos poucos vão saindo de cada mesa belos arranjos, sempre mais cheios embaixo, onde pequenas flores se concentram, do que em cima, para onde magras samambaias apontam. A maior parte das plantas são simples e sóbrias, o que dá ainda mais destaque a duas grandes e vivas gérberas – uma flor escolhida na intensa cor vermelha. Não se deve utilizar dois tipos de flores muito bonitas ao mesmo tempo, ensina a profa. Inagaki.
A oficina foi disponibilizada pela Associação de Ikebana Kado Ikenobo Tatibana da América Latina e com o apoio do Museu de Ciências da USP. Ao final da atividade, todos puderam levar seus arranjos para casa. A profª. Inagaki ressalta, no entanto, “a gente ganha mais do que quem recebe. Transmitir tranqüilidade é muito bom”.
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