Bruna
Panzarini
23 anos, formada em Comunicação Social-Metodista
2005
São Paulo-capital
Desde
que saí da empresa em que trabalhava, a minha vida
não tem sido a mesma. Retificando, sai da empresa
não! Foi um acordo: eu entrei com a bunda e eles
entraram com o pé. Não que tenha sido mandada
embora por incompetência. Eu era estagiária,
mão de obra barata e que pode ser recauchutada. Tudo
bem, agora não adianta mais chorar o que passou,
no meu planeta essa situação acontece muito.
Segundo
ponto. Desde que fiquei desempregada, a minha vida tem seguido
a mesma estúpida rotina. Acordar pela manhã,
ou muitas vezes pela tarde, abrir o jornal e rastrear anúncios
de empregos nos cadernos de classificados.
Minha primeira entrevista de emprego marcante foi de um
anúncio: empresa multinacional espanhola, contrata
para início imediato assessores comerciais.
Num primeiro instante fiquei muito apreensiva. Olha que
interessante uma empresa multinacional para o cargo de assessora
comercial! Nossa, o que será isso? Não importa,
vou ao local indicado e logo saberei mais sobre essa ótima
oportunidade.
Estava ansiosa para saber qual seria esse cargo. Na verdade,
a ansiedade passou e no mesmo momento veio a decepção:
a empresa multinacional espanhola era fabricante de uma
dessas enciclopédias famosas que todo mundo guarda
no fundo do porão.
Nada contra o fato de assessora comercial ser considerado
sinônimo de vendedora, mas, vender enciclopédias
de porta em porta, sabendo do fenômeno da internet
em que a informação vem de uma maneira rápida
e atualizada! Era como se eu fosse virar vendedora de areia
na praia!
Tudo bem. Voltamos a rotina. Uma hora aparece algo bom.
Nesse momento sua mãe já está fazendo
promessas e envolvendo todas as pessoas para fazer correntes
de fé. Não fiquem espantados, no planeta Brasil
isso acontece.
Logo
apareceu outro anúncio interessante: agência
de mídia procura moças para trabalhar em atendimento/web.
Nossa! Esse anúncio me deixou empolgada. Uma vaga
na minha área! Mandei um currículo e dias
depois me chamaram para entrevista.
Cheguei no prédio indicado para entrevista. De cara,
me encantei com o lugar. Que legal! Um prédio bonito
na zona sul da cidade. Com certeza, esse trabalho vai dar
certo!
Começa a entrevista, disseram-me que a vaga oferecida
era para o cargo de internet hostess. No mesmo instante,
com um pouco de receio, perguntei: Mas o que especificamente
é esse cargo? Explicaram-me com toda educação
o que seria o meu cargo, e da importância que ele
teria para a sociedade masculina norte americana. O salário
seria de um pequeno teto fixo e o restante era comissão
por tempo de visitas em minha sala de bate-papo.
Resumindo toda essa baboseira: o que queriam era uma prostituta
virtual, bilíngüe e que aceitasse um salário
comissionado. Naquele momento senti que estava dentro de
um prostíbulo empresarial virtual, com cafetões
ao meu redor.
Sabe o que ainda eu tive que ouvir desses rapazes quando
disse que não era do meu interesse esse tipo de vaga
e que me equivoquei talvez no anúncio: “Olha
mocinha, pensa bem, para que se preocupar? Quem no máximo
pode adquirir um vírus é o computador”.
Patético!!!!
Tudo
bem. Vou voltar aos anúncios dos classificados, estou
realmente precisando! E encontro uma nova oportunidade:
Coordenadora de Marketing de uma rede hoteleira. Bom, pelo
menos eu consigo mensurar o que significa o nome da vaga.
E vai a bocó novamente. Nem preciso adiantar que
foi um desastre! A equipe de RH só diria onde era
a vaga oferecida se eu fizesse uns testes psicológicos
e pagasse uma bela grana por eles. Como uma desempregada,
qualquer tostão furado já é muito!
Só num país chamado Brasil, um desempregado
precisa pagar para tentar entrar na empresa. É o
cúmulo!!!
Bom,
a verdade é uma só: eu ainda sou uma desempregada!
Mas já sei no que vou tentar trabalhar. Vou esquecer
minha formação e, se possível, fazer
algum curso nesta área que vou tentar me inserir:
vou ser uma investigadora comercial dos anúncios
de classificados de empregos!
Pois é, meus amigos. Vou fazer um bem enorme para
toda uma nação, não deixarei mais esse
negócio de meias palavras ou neologismos que ocorrem
por culpa do pequeno espaço editorial. Sim!
Vai ter que ser preto no branco. A vaga oferecida é
tal! Sem metáforas!
Somente assim, milhões de pessoas do planeta chamado
Brasil deixarão de ser humilhados em horas em que
a dignidade pode ser trocada por um prato de comida!
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