Junho de 2006- Nº 02    ISSN 1982-7733
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Confissões de uma menina do planeta que se chamava Brasil

Bruna Panzarini
23 anos, formada em Comunicação Social-Metodista 2005

São Paulo-capital


Desde que saí da empresa em que trabalhava, a minha vida não tem sido a mesma. Retificando, sai da empresa não! Foi um acordo: eu entrei com a bunda e eles entraram com o pé. Não que tenha sido mandada embora por incompetência. Eu era estagiária, mão de obra barata e que pode ser recauchutada. Tudo bem, agora não adianta mais chorar o que passou, no meu planeta essa situação acontece muito.

Segundo ponto. Desde que fiquei desempregada, a minha vida tem seguido a mesma estúpida rotina. Acordar pela manhã, ou muitas vezes pela tarde, abrir o jornal e rastrear anúncios de empregos nos cadernos de classificados.

Minha primeira entrevista de emprego marcante foi de um anúncio: empresa multinacional espanhola, contrata para início imediato assessores comerciais.

Num primeiro instante fiquei muito apreensiva. Olha que interessante uma empresa multinacional para o cargo de assessora comercial! Nossa, o que será isso? Não importa, vou ao local indicado e logo saberei mais sobre essa ótima oportunidade.

Estava ansiosa para saber qual seria esse cargo. Na verdade, a ansiedade passou e no mesmo momento veio a decepção: a empresa multinacional espanhola era fabricante de uma dessas enciclopédias famosas que todo mundo guarda no fundo do porão.

Nada contra o fato de assessora comercial ser considerado sinônimo de vendedora, mas, vender enciclopédias de porta em porta, sabendo do fenômeno da internet em que a informação vem de uma maneira rápida e atualizada! Era como se eu fosse virar vendedora de areia na praia!

Tudo bem. Voltamos a rotina. Uma hora aparece algo bom. Nesse momento sua mãe já está fazendo promessas e envolvendo todas as pessoas para fazer correntes de fé. Não fiquem espantados, no planeta Brasil isso acontece.

Logo apareceu outro anúncio interessante: agência de mídia procura moças para trabalhar em atendimento/web. Nossa! Esse anúncio me deixou empolgada. Uma vaga na minha área! Mandei um currículo e dias depois me chamaram para entrevista.

Cheguei no prédio indicado para entrevista. De cara, me encantei com o lugar. Que legal! Um prédio bonito na zona sul da cidade. Com certeza, esse trabalho vai dar certo!

Começa a entrevista, disseram-me que a vaga oferecida era para o cargo de internet hostess. No mesmo instante, com um pouco de receio, perguntei: Mas o que especificamente é esse cargo? Explicaram-me com toda educação o que seria o meu cargo, e da importância que ele teria para a sociedade masculina norte americana. O salário seria de um pequeno teto fixo e o restante era comissão por tempo de visitas em minha sala de bate-papo.

Resumindo toda essa baboseira: o que queriam era uma prostituta virtual, bilíngüe e que aceitasse um salário comissionado. Naquele momento senti que estava dentro de um prostíbulo empresarial virtual, com cafetões ao meu redor.

Sabe o que ainda eu tive que ouvir desses rapazes quando disse que não era do meu interesse esse tipo de vaga e que me equivoquei talvez no anúncio: “Olha mocinha, pensa bem, para que se preocupar? Quem no máximo pode adquirir um vírus é o computador”. Patético!!!!

Tudo bem. Vou voltar aos anúncios dos classificados, estou realmente precisando! E encontro uma nova oportunidade: Coordenadora de Marketing de uma rede hoteleira. Bom, pelo menos eu consigo mensurar o que significa o nome da vaga.

E vai a bocó novamente. Nem preciso adiantar que foi um desastre! A equipe de RH só diria onde era a vaga oferecida se eu fizesse uns testes psicológicos e pagasse uma bela grana por eles. Como uma desempregada, qualquer tostão furado já é muito! Só num país chamado Brasil, um desempregado precisa pagar para tentar entrar na empresa. É o cúmulo!!!

Bom, a verdade é uma só: eu ainda sou uma desempregada! Mas já sei no que vou tentar trabalhar. Vou esquecer minha formação e, se possível, fazer algum curso nesta área que vou tentar me inserir: vou ser uma investigadora comercial dos anúncios de classificados de empregos!

Pois é, meus amigos. Vou fazer um bem enorme para toda uma nação, não deixarei mais esse negócio de meias palavras ou neologismos que ocorrem por culpa do pequeno espaço editorial. Sim! Vai ter que ser preto no branco. A vaga oferecida é tal! Sem metáforas!

Somente assim, milhões de pessoas do planeta chamado Brasil deixarão de ser humilhados em horas em que a dignidade pode ser trocada por um prato de comida!

 
Espaço dedicado a crônicas e depoimentos.

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