Retomada da arte tradicional e sua mescla com a contemporânea
Com o intenso processo de Globalização já em andamento - e seus avanços tecnológicos - e com o fim do período ditatorial que manchou de negro a história do Brasil de 1964 a 1985, os anos 1980, para a arte brasileira, funcionaram como uma maneira de resgatar antigos valores estéticos quase que num gesto saudosista, ávido do país que nos fora roubado durante vinte e um anos e de sua identidade.

Herdeira do silêncio, essa nova geração sonhava com muito som, muito rock and roll. Nas artes perpassava o desejo em todos de pintar a vida com cores fortes vibrantes, valorizando alguns aspectos críticos e afetivos da arte pop brasileira dos anos 60 que a ditadura brasileira transformara em contundência e denúncia.
Ao mesmo tempo, não se deixou de lado a produção de arte conceitual nem do abstracionismo; ao contrário, se fortaleceram paralelamente a uma pintura híbrida que passava a ser produzida mesclando elementos de grandes formatos, temáticas cotidianas, e uso abusivo de cores com técnicas tradicionais da História da Arte como o Expressionismo.
Nesse período, também decorrente do revolucionário processo de Globalização, o que houve foi a chamada “desterritorialização” da arte, termo aplicado justamente para enfatizar o sentido de um movimento que opera a arte além das fronteiras. Tanto é, que se percebe em inúmeros países do mundo, movimentos artísticos similares ao que ocorria no Brasil nesse mesmo período.
Cognominadas, por exemplo, como “Neo-Expressionismo” na Alemanha, Holanda e Bélgica, “Pattern” ou “Bad-Paiting” nos EUA e “Transvanguardia” na Itália – no manifesto da qual, escrito por Achille Bonito Oliva, fica bastante evidente o espírito de retomada da pintura nos anos 80 – essas tendências todas se ligam entre si pela internacionalização das artes, a qual pode ampliar os limites de seu circuito, dando a ela um caráter mais universal.
Entre o barroco e o pop, entre o drama e a comédia, os artistas dos anos 80 sonham com o público, com a rua, com o sucesso. Sonham ser livres e felizes, ironizando ao inverter significados já padronizados, citando o passado, representando imagens desconexas, extrapolando os limites da moldura do quadro com grandes formatos e cores atrativas.

A intenção é aproximar a arte da cultura de massa, tornando-a menos intelectualizada do que fora na Semana de Arte Moderna de 1922, por exemplo. Nesse sentido, a sua aproximação do espaço público faz com que ela se torne mais acessível dando margem a uma intervenção urbana: a chamada “arte pública”.
São importantes artistas Neo-Expressionistas: Guto Lacaz, Cildo Meireles, Tunga, Carmela Gross, Dudi Maia Rosa, Rafael França, Ivald Granato, Marcelo Nitsche, Mário Ramiro, Hudnilson Junior, Daniel Senise e Alex Flemming.
Thiago Sogayar Bechara
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