Navio Negreiro. Foto: Bel Bechara
A exposição “Em Torno de Zumbi” foi uma das atrações do Parque da Água Branca durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia. Realizada pela Estação Ciência e tendo como curadora Lilia Katri Moritz Schwarcz, a mostra reúne imagens do Brasil à época da escravidão, bem como fotos atuais sobre a herança da cultura negra no país.
Foto: Bel Bechara
Os painéis explicativos além de abordarem a escravidão como a mais cruel e irracional forma de dominação que o “mundo civilizado” impôs às regiões africanas ditas atrasadas, também contam a história desses homens que não só lutaram por sua sobrevivência como reinventaram sua própria existência.
A primeira parte da exposição, intitulada “Navio Negreiro”, mostra a sofrida trajetória pela qual os negros passavam até chegar ao Brasil. Para aqui, vieram negros de dois grandes grupos étnicos: os bantos, originários do Sudoeste e Sudeste africanos; e os sudaneses, procedentes do Noroeste do continente.
No navio negreiro, os africanos eram transportados em condições subumanas. Mal alimentados e vitimados por epidemias constantes, os negros morriam com facilidade e cerca de 20% deles não chegavam vivos ao Brasil.
Após chegarem ao Brasil, os negros eram vistos como peças e passavam por um tratamento especial a fim de que se tornassem mais valiosos. Visto como mercadoria, o escravo perdia sua origem e sua personalidade para se transformar em um “servus non habent personam”: um sujeito sem corpo, antepassados, nome ou bens próprios.
Nesse comércio infame, os critérios de compra – negros com dentes fortes e brancos, altos, com parte sexual bem desenvolvida, braços e ombros fortes eram mais caros – reforçavam a condição de “coisa” do negro.
No Brasil, o trabalho passou a ser tratado como coisa de escravo e não como um valor universal inerente a todas as etnias. Com a larga utilização da mão-de-obra escrava, houve uma inversão de conceitos: o trabalho era considerado, pelas pessoas livres, como desonroso.
Mesmo naquela época já sendo o Brasil um país mestiço, esta foi a última nação do mundo a abolir a escravidão. A explicação para a permanência tão longa dessa forma de dominação tão vexatória só pode ser uma: a escravidão só pôde existir em virtude da disseminação do medo.
por Cremilda Aguiar
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