Shemilla Rossana de Oliveira Paiva
20 anos, 2º ano de Comunicação Social da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte-UERN
Mossoró-RN
A Massai Branca é uma produção alemã baseada na história real da escritora suíça Corinne Hofmann, que tem como diretor Hermine Huntgeburth. O filme foi lançado em 2005 e os atores principais são Nina Hoss e Jacky Ido. Tem duração de 131 minutos e o gênero é o drama.
Foto: Divulgação
Quando a história do filme tem início, temos acesso a um casal de suíços em visita ao Quênia, Stefen e Carola. Certo dia, eles conhecem dois guerreiros massai, e Carola imediatamente se encanta por um deles, Lemalian. O encantamento é tão intenso, aliás, que ela abandona o namorado e parte em direção à tribo do nativo, passando já de início por inúmeros problemas na locomoção. O segundo momento do filme é basicamente o início da relação Carola-Lemalian e Carola-tribo, ou seja, os desdobramentos começam quando Carola se insere no convívio com novos costumes, os exemplos são muitos, como a tristeza da moça ao ter a sua primeira noite de amor com seu guerreiro massai transformada em uma simples ação por busca de prazer por parte dele, algo quase animalesco, machista ou arrogante, ou então o estranhamento da suíça ao ver Lemalian bebendo leite com sangue de cabra e ao presenciar um ritual onde as mulheres mais velhas da tribo cortam o clitóris de uma menina que acaba de fazer quinze anos.
É de extrema importância termos a sensibilidade de perceber que dentro da história de Carola está embutida uma questão bem mais relevante que é a diferença de costumes. No parágrafo acima eu afirmei que a primeira transa de Carola e Lemalian foi algo animal, machista e até arrogante, mas com que propriedade eu afirmo isso? Baseada em que e em comparação a que eu exponho essa afirmação? O que eu disse no parágrafo anterior foi simplesmente o que minha visão de ser que se acha mais civilizado e mais desenvolvido concluiu, imerso em um sentimento de superioridade cultural. A verdade é que temos que assistir ao filme já sabendo que não existe uma cultura melhor ou mais digna que outra, mas sim que existem culturas diversas e com enormes diferenças e valores, e já que foi Carola quem procurou se infiltrar na tribo, nada mais justo do que ela se adaptar a eles, e não o contrário.
Outro ponto que mesmo o filme não instigando a reflexão nós devemos fazê-la, é nos indagarmos do motivo que gerou a atração súbita e avassaladora de Carola por Lemalian mostrado no início do filme. Será que não foi justamente a diferença e o exotismo dele que aguçou o interesse dela? Acredito que sim, e se tiver sido isso, ela deveria ter se preparado para encontrar pontos exóticos não só na “casca” e no âmbito superficial (físico), mas também em todos os outros quesitos. Enfim, durante todo o filme vemos situações de embates gerados por diferenças de valores, quando Carola abre uma lojinha e começa a apresentar uma noção embrionária do que seria o capitalismo. Lemalian dá crédito a todos que considerava como amigos e vizinhos, enquanto a suíça fica horrorizada ao ver uma mulher grávida gemendo de dor no chão, Lemalian ordena para que se afaste dela, pois se trata de feitiço. Quem é coerente, Lemalian ou Carola? Os dois são coerentes, pois ambos têm suas verdades e estas por sua vez estão fixadas em um embasamento de toda uma educação e condicionamento para os quais foram moldados desde seus primeiros dias de vida.
Com o passar do tempo Lemalian demonstra-se cada vez mais ciumento (isso tem uma explicação lógica já que ele sempre viveu numa sociedade tipicamente patriarcal), e Carola não está mais suportando a situação. É nesse momento que ela decide voltar para a Suíça levando o fruto da sua relação com o guerreiro, sua pequena filha. Analisemos agora outro ponto curioso, a filha de Carola com Lemalian sai da tribo ainda pequena, ou seja, uma garotinha que nasceu numa tribo vai crescer na Suíça, durante esse crescimento ela vai normalmente formando valores e constituindo uma personalidade. Se vinte ou mesmo dez anos (quando já se tem um entendimento considerável) ela voltasse a essa tribo, tudo ia lhe parecer estranho e todos aqueles costumes iam lhe soar absurdos e desumanos do mesmo jeito que transpareceu para Carola no seu primeiro contato com a tribo. Isso é uma prova de que não existem concepções melhores que outras, ou mesmo mais bem formuladas, mas existem apenas várias formas de ver e interpretar as coisas, e essas formas são ditadas pela ótica pela qual nos adaptamos a enxergar.
O filme tem como principal ponto positivo a idéia de abordar esse assunto de uma maneira tão caprichada com relação aos figurinos, fotografia, cenário, e a alguns aspectos próprios do texto, mas tem seus pontos negativos também, e eles estão presentes na maioria da narrativa que nos leva em alguns momentos a enxergarmos Carola como uma mulher que de início era bobinha, mas que depois se mostrou forte e lutadora, porém mesmo assim não suportou ficar ao lado de um homem descontrolado e violento, o que já mostrei não ser verdade. Por isso é bom que tenhamos um censo crítico em pleno desenvolvimento, pois nenhum filme e nenhuma outra coisa podem ser vista como uma verdade pronta e acabada.
Indico o filme a todas as pessoas que quiserem entender mais sobre outros costumes e a respeitá-los, mostrando que o preconceito como o próprio nome já diz pré conceitua algo ou alguém antes de tentar e buscar entender o que está por trás de algo que tem força o bastante para se perpetuar por gerações e gerações.
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