Depoimento enviado
por Gustavo Prouvot Ortiz
23 anos, Instituto Oceanográfico da USP
São Paulo
- capital
Inverno
no Alaska
Nascer
do sol - Foto: Gustavo P. Ortiz
Assim
como a maioria das pessoas, eu achava que o Alaska fosse
habitado somente por eskimos e animais selvagens. Um lugar
inacessível, conhecido apenas por documentários
e livros de aventura no ártico. Mas, como adoro viajar,
sempre foi um lugar que me chamou a atenção.
Foi numa agência de intercâmbio onde vi que
este amor platônico poderia ser consumado.
Eu já conhecia o programa de intercâmbio Work
& Travel, que leva universitários estrangeiros,
nas férias, para trabalhar no USA e quis aliar este
programa com um estágio em uma universidade americana.
Listei as melhores faculdades de oceanografia (meu curso)
e nesta lista, aparecerem diversos estados, incluindo o
Alaska! Mas no Alaska não tinha somente eskimos?!?
Pesquisei um pouco na internet e vi que estava redondamente
enganado...
Fiquei, então, muito entusiasmado com a idéia
de ir morar perto do Círculo Polar Ártico.
Eu iria morar num lugar completamente diferente de tudo
o que conhecia. Isso é muito importante: nossa vida
é a soma de nossas diferentes ações.
Quanto mais inovamos, mais aprendemos! Certamente aprendi
muito lá!
Meu suor congelado
- Foto: Gustavo P. Ortiz
Já
sabia que o frio no inverno seria absurdo, mas “minha
ficha só caiu” quando cheguei em Fairbanks.
Fazia -12°C e disseram que a temperatura estava amena
devido a uma frente de ar quente. Caramba! Se -12°C
é warm (como me disseram) o que seria o
cold deles???
Porém o que mais estranhei, no início, foi
a falta de Sol. Cheguei lá no dia 10 de dezembro,
faltando apenas 11 dias para o solstício de inverno
e os dias já estavam durando menos de 5 horas. Em
janeiro, o frio de verdade chegou: fez abaixo de -40°C
durante 2 semanas, sendo que uns 5 dias fez abaixo de -50°C.
Num frio tão intenso assim, tudo é diferente:
não existe água líquida! É verdade,
o ar é tão seco como de um deserto. O céu
fica azulzinho e a umidade congelada flutua como umas purpurinas
prateadas. Outra coisa interessante é que quando
saia para passear andando, tinha sempre que comprar garrafas
d'água novas, pois as que eu levava na mochila congelavam
em uns 2 min.
A cidade onde morei, Fairbanks, é bem peculiar. Apesar
de ser minúscula (35 mil habitantes), tem uma excelente
infra-estrutura. Diversas lojas de departamento, hipermercados
e redes de fast-food, mostram que o “pacote”
de serviços americano está presente. Além
isso, boates, pubs e cinemas esquentam as geladas noites
do ártico. Sem esquecer da UAF, universidade com
mais de 10 mil estudantes.
Piscina Vulcânica
- Foto: Gustavo P. Ortiz
Aproveitei
cada segundo meu. Quando não estava trabalhando ou
na faculdade, passeava pela cidade e arredores. Lugares
e fatos inesquecíveis: aurora boreal, bar de gelo,
piscinas vulcânicas, corrida de trenó de cachorro,
campeonato de arte no gelo, ski pelas trilhas da UAF, jogos
de hockey, casa do papai noel... ah! São tantas coisas...
Fui para lá com mais 4 brasileiros. Foi perfeito,
pois um grupo pequeno favorece a interação
com os anfitriões, afinal este é um dos propósitos
do intercâmbio. Então, fomos muito bem acolhidos
pela sociedade. E tenho certeza que ficaram com uma excelente
impressão dos brasileiros.
Já no final, quando já estava bem integrado
ao cotidiano de Fairbanks, percebi o quanto verdadeiras
eram as palavras que um cara me disse no avião, indo
para lá : “Alaska has no fences.” A sensação
de liberdade lá é inimaginável! A cidade
é cercada por florestas.
Eu, brasileiro e tropical, achei que conhecesse florestas.
Descobri que o que conhecemos no Brasil, indo para o interior,
são campos cultivados. A quase totalidade da área
rural brasileira são fazendas. No sudeste temos umas
manchas de floresta nas serras e na região norte
temos a floresta amazônica. Fora isso, só temos
fazenda! Até o pantanal está quase inteiramente
loteado!
Então, a imensidão selvagem do Alaska me cativou!
Lá, você pode morar no meio da floresta e ter
uma Sears a 10 min de distância. Você
agrega a qualidade da vida natural, com o pacote de serviços
do primeiro mundo. Com esta excelente qualidade de vida,
as pessoas que moram lá, são diferentes dos
americanos que vivem no lower 48 (expressão
que usam para designar os 48 estados ao sul do
Canadá). Não são frios, preconceituosos
e nem psicóticos, como o americano médio.
Como já disse, me senti muito bem acolhido entre
a população. Foi uma experiência incrível,
pois conheci uma região maravilhosa que me mostrou
que ainda vale a pena lutar pelo mundo.
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