Dezembro de 2006- Nº 04    ISSN 1982-7733
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27º Bienal de São Paulo: Como viver junto?


Cidade de açúcar - Foto: Luciana Qarra

Na sociedade em que vivemos, uma das características mais marcantes da Modernidade é o sentimento de individualismo que separa, cada vez mais, as pessoas umas das outras. É esse sentimento que norteia a lógica do homem moderno e que é, muitas vezes, o responsável pelas inúmeras distorções de valores que vêm permeando as relações humanas.

Um dos papéis da arte é o de denunciar, evidenciar as características e principalmente as contradições da sociedade em que é produzida. Esse retrato de seu tempo e, conseqüentemente, da História, é que atribui à arte, muitas vezes, a responsabilidade de quebrar paradigmas e cindir com sólidas estruturas sociais vigentes até então.

A 27ª Bienal de Arte exposta no Parque do Ibirapuera em São Paulo no ano de 2006 tem, parece, esse intuito: o de trazer à tona, já em seu título, uma das contradições sociais mais presentes de nosso tempo. A simples necessidade de se saber como se faz para viver junto, atualmente, nos obriga a uma reflexão aprofundada sobre o que seja a essência das relações humanas em nossa época e quais os efeitos disso para nossa vida cotidiana.


Uma das obras na Bienal- Foto: Luciana Qarra

Mais que isso, a pergunta “ como viver juntos?” já parte do pressuposto de que em pleno século XXI, em que os meios tecnológicos de comunicação estão notadamente desenvolvidos, o processo de convívio entre as pessoas está comprometido por uma lógica contraditória que mostra ser insuficiente todo esse aparato de tecnologias voltadas para uma pretensa facilidade comunicativa.


Na Bienal - Foto: Luciana Qarra

Na Bienal, as obras de arte que, muitas vezes causam estranhamento nas pessoas por seu freqüente caráter pós-moderno, trazem sempre em si, ou nos desdobramentos de suas interpretações, o tema que nos obriga a refletir sobre a distância a que estão submetidos os homens no sentido de viverem juntos fisicamente e, no entanto, estarem, cada vez mais, voltados para si, de modo a esquecer as mazelas do mundo, as necessidades alheias, as ações de cunho social e a possibilidade de se relacionarem de modo a resgatar um pouco as memórias comuns de uma história pregressa, elementos esses, próprios de uma estrutura social de base comunitária.

Obras como a bolha, metaforizam, de maneira eficaz, esse isolamento do ser humano. Reavê nas pessoas a consciência de que estão isoladas justamente pelo fato de estarem todas presas dentro de uma mesma estrutura que as priva do mundo real das relações.


Chuva de guarda-chuvas - Foto: Luciana Qarra

Outras como a “chuva de guarda-chuvas” ou mesmo “ sala branca e vazia” , ainda que sujeitas a inúmeras leituras diferentes, nos direcionam para lugares semelhantes em sua essência. Enquanto os guarda-chuvas podem suscitar a percepção de como um objeto feito para outros fins, acaba por tornar viável um tipo de relação entre as pessoas, inédito para quando o tempo não esteja chuvoso, no caso, a idéia de se ter uma sala toda branca e vazia, ao contrário, não passa pelo propósito da solidão. Se analisada cautelosamente, nota-se no chão, marcas de pés e nas paredes, sinais de agressão, o que leva a crer numa possível e imaginária briga ocorrida ali minutos antes de ela ser flagrada solitária. Daí a pergunta: é nisso que resulta a aproximação efetiva das pessoas dentro de um cômodo fechado?

A incapacidade de se viver harmoniosamente levada ao extremo, gera o caos no imaginário das pessoas, que, ao verem suas realidades estereotipadas de maneira, muitas vezes, tragicômica, faz com que elas repensem se o que elas vivem não é a mesma coisa, em menores proporções.

A idéia de chocar por meio do aumento está presente em algumas obras e instalações da Bienal, como por exemplo, a bolha, mais uma vez, que ocupa os três andares do salão, ou mesmo o vídeo do gato comendo o rato em proporções exorbitantes, o que causa um repúdio nas pessoas, não esperado caso a mesma cena fosse vista em tamanho real. Denuncia o horror que se pode ter da relação entre dois seres vivos cuja essência é a mais natural possível, uma vez que, até para o equilíbrio ecológico, é necessário que haja no mundo os que são predadores e presas. No entanto, acham normais muitos dos absurdos impostos culturalmente pela lógica do mercado, por exemplo, e que, por não serem pensados em sua verdadeira significância, ficam de lado nas discussões humanas.

É nesse sentido que a Bienal propõe a seus espectadores que reajam de alguma maneira ao nosso cômodo modo de encarar as inter-relações do homem e, mais que isso, seus desdobramentos na relação do homem para com o mundo em que vive, por meio de trabalhos dinâmicos, interativos e, em vários casos, com uma proposta tátil, o que também remete a uma forma de relacionamento, uma vez que o ato de tocar está incluso no leque de ações que caracterizam as diversas maneiras de os seres vivos, em termos gerais, se relacionarem entre si e com o meio ambiente.

Thiago Sogayar Bechara

23/11/2006

27º Bienal de São Paulo

Período: De 07 de outubro a 17 de dezembro de 2006
Local: Pavilhão Ciccillo Matarazzo – Parque do Ibirapuera –Portão 03 – São Paulo - Brasil
Horários: de terça a sexta, 9h às 21h; sábado, domingo e feriados, das 10h às 22 h Tel.: (11) 5576-7600
Entrada gratuita
Estacionamento gratuito no local

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