Artigo enviado
por Bruno Konder Comparato
Numa
eleição normal votamos em um candidato, em
um plebiscito ou referendo, respondemos a uma pergunta proposta
pelo governo.Embora os termos plebiscito e referendo
sejam freqüentemente empregados como se fossem sinônimos,
trata-se de duas realidades diferentes.
O
termo plebiscito teve origem no direito romano,
no qual era empregado para designar uma lei adotada pelo
voto dos plebeus, ou seja, dos homens do povo, obedecendo
a uma solicitação dos magistrados da Roma
antiga.
O
termo referendo, por sua vez, surgiu nas antigas
Confederações Germânicas e Helvéticas,
no século XIX, nas quais todas as leis eram aprovadas
ad referendum do povo, ou seja, desde que obtivessem
como resposta o consentimento da população.
Portanto estes termos trazem desde a sua origem, a idéia
de consulta à opinião pública. Por
esta razão é que atualmente se diz que eles
fazem parte dos mecanismos de democracia direta. Com efeito,
por meio deles o povo pode participar, por via consultiva
ou deliberativa, no processo decisório.
A Suíça é a pátria dos referendos.
Desde 1848, ano em que formaram uma federação,
os cidadãos suíços já se manifestaram
em 521 consultas populares, a respeito da ratificação
de tratados internacionais, revisões constitucionais
ou aprovação de leis sobre os mais variados
assuntos, como a energia nuclear, o divórcio, a naturalização
de estrangeiros, a entrada do país na ONU. Trata-se,
contudo, de um caso particular. De uma maneira geral, os
referendos são raros na maioria dos países.
A
decisão da Noruega de se separar da Suécia
em 1905, por exemplo, foi aprovada num referendo em que
99,9% dos noruegueses votaram a favor da independência,
numa expressão forte de orgulho nacional. A
Islândia também se separou da Dinamarca em
seguida a um referendo.
O
processo de unificação da Itália incluiu
uma série de plebiscitos e a República Italiana
foi instituída por referendo em 1946. Pelo mesmo
mecanismo, os espanhóis aprovaram reformas democráticas
ao final dos anos setenta, após a morte do general
Franco.
No Brasil o regime de governo já foi objeto de dois
referendos: em 1963, quando o parlamentarismo adotado com
a renúncia de Jânio Quadros à presidência
da república foi revogado, e em 1993, quando o regime
presidencialista foi confirmado pela população.
Os EUA podem se orgulhar de terem patrocinado um grande
número de consultas populares locais.
A história mostra, também, que plebiscitos
ou referendos são utilizados, às vezes, para
testar o apoio dos eleitores ao governante no poder. É
o caso do plebiscito para manter Luis Napoleão na
chefia do estado francês, em 1851. O anschluss,
a anexação da Áustria pela Alemanha
nazista, em 1938, seguiu-se ao anúncio desastrado
de um plebiscito sobre a independência da Áustria.
O estadista francês de Gaulle fez amplo uso das consultas
populares para reafirmar o seu poder.
Um
episódio recente ilustra bem como estes mecanismos
podem ser deturpados quando são utilizados para legitimar
governantes no poder: em 2002, cidadãos iraquianos
assinalaram com sangue o seu desejo de que Saddam Hussein
permanecesse mais sete anos no poder.

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