Março de 2007 - Nº 05    ISSN 1982-7733
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Museu da Língua Portuguesa - comentário

Beco das Palavras - Foto: Luciana Qarra

 

A língua para um povo, seja ele qual for, é mais do que um simples código estabelecido por meio de convenção para que esse povo se comunique, ainda que, por si só, tal convenção já conferiria ao ato da fala humana uma importância sem igual. No entanto, “língua” abrange em seu conceito, uma complexidade enorme de tramas que, analisadas cuidadosamente, revelam com precisão, características específicas de um determinado país ou cultura.

É bonito observar a grandeza dessa palavra quando pensamos na identidade cultural da nossa nação; uma das poucas coisas que ainda nos une e faz pertencentes ao mesmo universo, principalmente nos tempos de hoje.

Essa percepção é um dos maiores aprendizados que podemos tirar da visita ao museu que, ao fugir das estruturas já estipuladas do que seja um museu, nos obriga a um olhar, por vezes menos acadêmico e, no entanto, mais revelador daquilo o que pretende dizer, devido ao seu dinamismo.

A coerência da utilização espacial por meio de tecnologia, com a sociedade em que vivemos, nos revela ainda mais a consciência dos idealizadores desse belo projeto. Nos mostra a noção de que, quanto mais adequado se estiver à “linguagem” contemporânea, mais eficaz será o resultado de qualquer trabalho no sentido da apreensão intelectual de seu conteúdo.

Isto posto, não vejo nada mais coerente com a proposta de se fazer um museu dedicado a um idioma específico, do que envolver em sua construção elementos das variadas formas de expressão artística pertencentes a esse universo. Ouvir as vozes de Maria Bethânia, Chico Buarque e mesmo de grandes poetas como Drummond, declamando seus textos, é mais do que ouvir somente aquilo o que dizem: é notar o sabor com que dizem; perceber que, naquele momento, eles são a língua.

Apropriar-se da língua é algo muito menos erudito e complexo do que o que possa parecer. Nós o fazemos a todo instante sem nem darmos por isso. É o próprio cotidiano, e daí a genial presença nos telões e vídeos que são exibidos no museu, de palavras que talvez não constem na norma culta do português e que, não por isso, deixam de ser língua. Em absoluto. Às vezes chego mesmo a pensar que isso sim é a língua. Aquilo o que nos regionaliza, nos torna particulares, nos torna nós mesmos. Nos torna outros em relação até mesmo a pessoas que também vivem no Brasil. Haja vista nossos tantos sotaques. Será mesmo que falamos todos a mesma língua? A multiplicidade e a capacidade de mutação são tão grandes que às vezes se torna impossível medi-las. E, no entanto, somos todos capazes de nos compreender dentro dessas fronteiras.

É por isso que, para mim, esse museu não apenas é: um museu. Ele representa: a minha nação. E me enche de orgulho por isso; por eu me ver retratado em cada uma das telas, paredes, áudios, engenhocas e apresentações.

Uma vez aprendi que a língua é o retrato do que somos, a tal ponto que, quanto mais palavras apreendermos em nossa mente, mais capazes de fazer associações intelectivas nós seremos. Mais noções abstratas, absorveremos para dentro de nós mesmos. E o que é a língua, senão um emaranhado de abstrações?

Por isso o aplauso de todo a país é mais do que justo. É necessário para o merecido reconhecimento de um lugar que consegue conter em si, as mais variadas e dinâmicas pluralidades da língua, de modo a personificá-la.

Relação com o Jornalismo:

Como tudo aquilo que diga respeito ao universo humano, a língua, mais do que nunca se relaciona intimamente com a profissão para a qual nos estamos formando.

Impossível pensarmos um jornalista que não possua pleno domínio de seu idioma, de sua língua e da linguagem de que deve se valer para tal ofício. Mais que isso, deve dominar as técnicas de produção de sentido, o que se remete diretamente às nuances e subjetividades do nosso português.

Um jornalista deve, sobretudo, conhecer as variantes lingüísticas de um povo, de modo a não olhar o mundo externamente e sim consciente de que faz parte de todo esse contexto. Nada mais rico para estudantes de jornalismo, portanto, uma visita ao museu que abriga em si, os “segredos” de sua maior matéria prima.

    

Thiago Sogayar Bechara
02/10/2006 São Paulo – SP

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