Denise Mondejar Molino
Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica pelo Instituto Sedes Sapientiae. Atua na área de transtornos alimentares.
A obesidade, bulimia nervosa, anorexia nervosa, o transtorno da alimentação compulsiva periódica e o overtrainning, constituem hoje um problema de saúde importante pela freqüência e faixa etária atingidas e pelas consequências psicofísicas e sociais que determinam.
Suas causas são multifatoriais e de seu diagnóstico e tratamento participam médicos, psicólogos, nutricionistas e profissionais de Educação Física. Seus sinais e sintomas, de início, simples preocupações com a aparência e o peso corporal, vão tomando espaço na vida dos indivíduos e restringindo seus relacionamentos. Surge a recusa dos alimentos, os vômitos induzidos, os exercícios físicos excessivos, o uso de laxantes, a burla das dietas, tristeza ou euforia, perfeccionismo e isolamento social.
Com frequência encontramos nestes jovens um grau aumentado de preocupação com partes do corpo ou detalhes do mesmo, que supervalorizados passam a ocupar o foco de interesses e temores. É o que chamamos de dismorfofobia, uma distorção da imagem que se tem do próprio corpo, que desconsidera sua anatomia ou fisiologia, de caráter bastante perturbador.
A fome, comportamento instintivo ligado à preservação da espécie sofre com as alterações da saúde e percebe-la depende do grau de contato que temos com nosso corpo e com as sensações que dele proveem. A relação com a comida é constituída pela história pessoal, por experiências iniciais com figuras afetivas importantes, por hábitos e valores que o meio ambiente (entenda-se, família) pratica, ganhando assim status simbólico e refletindo a forma com o indivíduo se sente ou não alimentado pela vida.
Quando o alimento preenche necessidades emocionais ou frustrações e sentimentos mal interpretados, funciona com um sonífero a enterrar as questões cada vez mais no corpo dificultando sua compreensão. Os muitos jovens, meninos e meninas são atingidos por estes transtornos em momentos que necessitam fazer escolhas existenciais importantes, lograr autonomia da casa paterna e ter consciência de impulsos e necessidades. A tarefa não é pequena para quem precisa dar conta das pressões por escolha vocacional tão exagerada em nossa sociedade hiperativa, da emergência da sexualidade e da vida em grupo. Trata-se de um momento de intensa vulnerabilidade onde é preciso estar relativamente em ordem emocionalmente para enfrentar as exigências que pertencer à "tribo" demanda.
É a imagem corporal o elemento que se altera nos principais transtornos alimentares. Definida por Paul Schilder, em 1935, como o registro tridimensional que temos de nós mesmos, inclue a sensação e a imaginação do corpo tal como o experimentamos. Dito de outra forma, é o resultado de como fomos tocados, sustentados ou não, dos níveis de proximidade física e das doenças que tivemos. Tudo isso contribue para a forma como ME VEJO (e fui visto) e de como ME GOSTO. Nossas experiências contribuem para a formação de "buracos” (vazios, inconsciências) ou enrijecimentos dos órgãos/partes do corpo no processo de constituição da imagem corporal. O corpo se contrae ou se expande na base da nossa psicologia, fisiologia e das trocas sociais prazeirosas ou desprazeirosas que fizemos, se abrindo às milhares de possibilidades de movimentos, mas também a formas particulares de imobilidade.
Quando a comida, a aparência e o peso corporal tomam a vida de um indivíduo estamos diante de um transtorno da alimentação e é necessário tratá-lo através de medicamentos, dieta, atividades físicas adequadas e um cuidadoso e interessado processo psicoterápico que possa ajudar a traduzir o dilema vivido pelo indivíduo e pelos que o cercam. O grupo familiar, seu apoio e responsabilidade são fundamentais. Os valores que praticam, o grau de afetividade e o exame da suscetibilidade às aparências e preocupações com o consumo podem representar a base sobre a qual as transformações poderão ocorrer.
Questionar a desmesura da sociedade contemporânea que transforma o corpo em terminal a ser moldado, pintado, esvaziado ou enchido parece lugar comum. Então o que refletimos aos nossos filhos ao procurarem nosso olhar? O que espelhamos a eles, imploramos que façam ou a quem confiamos seu futuro?
Numa sociedade narcisista onde as pessoas dependem excessivamente umas das outras é fácil ser pego pela armadilha da interrogação ansiosa do espelho da Branca de Neve. Nossa habilidade e libertação talvez estejam em formular a ela uma outra questão, outra resposta e surpreendê-la.
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