Andrey Ivanov
Arquiteto e Professor do Departamento de Filosofia da UNESP Antiguidade
A beleza teve um lugar considerável na filosofia e na evolução histórica da noção de arte. Uma questão fundamental sobre seu tema consiste em perguntar se o belo está na coisa ou no sujeito que o contempla, de tal maneira que a história das concepções da beleza parece flutuar de uma a outra dessas posições.
Os gregos, na Antiguidade, introduziram a primeira tese, pressupondo que o belo é uma característica das coisas belas e que certas proporções são belas por si mesmas. Os pitagóricos (século VI ao IV a.C.) descobriram que em todas as coisas há uma relação matemática, e, portanto, numérica. Não usavam o termo “beleza”, mas antes aquele de “harmonia”, que estava ligado ao número, à medida e à proporção. A sua concepção influenciou a arte grega e atingiu particularmente a música. Um outro fato do conhecimento dos pitagóricos era a relação do número de ouro, uma proporcionalidade que é encontrada na natureza e que também garante a harmonia das obras plásticas, quando entre o todo e a maior parte há a mesma relação que entre a maior e a menor parte, correspondendo a 1,618. É certo que os arquitetos e os escultores gregos empregavam esta relação nas suas criações.
Platão (428-347 a.C.), no diálogo Hípias Maior, visa responder à questão sobre o que é o belo, qual a sua essência, e o texto examina diversas possibilidades de definir o belo, como harmonia, em função do bem, e em função do prazer, e ao final é preciso admitir que nenhuma definição é suficiente. Essa indecisão é reconhecida no dito: “as coisas belas são difíceis”, que fecha o diálogo. O texto do Filebo indica que a beleza consiste na medida e na proporção. Nos diálogos posteriores, o belo é apresentado por Platão como ideia, que forma uma tríade com o bem e o verdadeiro. As coisas não são belas por si mesmas, mas são somente uma apresentação (aparência) da ideia do belo. O Fedro encara a beleza como a única, entre todas as ideias, que tem afinidade com as coisas visíveis, pois ela mesma oferece-se à visão e mostra-se com mais clareza no que é visível e atrai por si mesma o nosso amor; as outras ideias, ao contrário, são compreendidas através do nosso esforço. De modo que a clareza e a atração estão na própria essência da beleza. A beleza visível nos convida a uma mudança do olhar sobre as coisas e o mundo, semelhante à mudança que a filosofia nos conduz da percepção das coisas para a compreensão das suas essências (ideias). O Banquete menciona que a contemplação das coisas belas torna possível e prepara a ascensão da mente, como em escada, passando dos belos corpos à beleza dos corpos universalmente, depois às belas ocupações, às belas ciências, ao belo supranatural e, enfim, à essência (ideia) do belo.
A posição de Aristóteles (384-322 a.C.) sobre a questão da beleza e da arte é oposta a de Platão. Este último havia elaborado uma crítica à imitação, tendo como fundo a questão da verdade na arte. Ele, de fato, considerava que a arte não implica o conhecimento. O artista não imita o ser verdadeiro (a ideia) de uma coisa, e sim a sua aparência. Não conhece aquilo que produz e imita; por exemplo: o pintor representa uma cama e ignora como se fabrica a cama; o poeta entoa uma canção à cura e ignora como se cura o doente. A arte contenta-se, portanto, com a aparência das coisas, e não com o que é verdadeiro. É incapaz de nos tornar melhores. Aristóteles, da sua parte, afirmou a legitimidade da imitação e da arte. O livro da Poética aponta duas tendências naturais do ser humano: a tendência a imitar, que nasce conosco e nos diferencia dos outros animais; e a tendência a ter prazer com as imitações. Na origem do belo e da arte, estão essas duas tendências naturais. A arte, em vez de ser inferior à natureza, como queria Platão, tem uma origem natural. O enunciado do livro da Física: “a arte imita a natureza”, não significa que ela reproduz a natureza, mas que ela produz como a natureza. Aristóteles cita como características do belo: a ordem, a proporção exata e a limitação, que são demonstradas especialmente nas matemáticas. Na Poética, exprime uma definição reduzida e indica que o belo, seja um ser vivo ou outra coisa constituída de partes, reside na ordem e no tamanho. Não poderia ser belo algo pequeníssimo, porque a visão confunde-se quando exercida em um tempo quase imperceptível, nem algo grandíssimo, porque a unidade e a totalidade da coisa escapariam ao olhar. Por isso, os seres vivos e os corpos devem ter um tamanho que a visão possa abranger facilmente. Da mesma forma, na tragédia, as histórias devem ter uma extensão que a memória possa reter com facilidade.
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