Agosto de 2009 - Nº 15   ISSN 1982-7733  
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Adolescência e transtornos alimentares

Luciana Kopelman Thalenberg

Membro do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae; Membro do Projeto Anorexia e Bulimia  inserido na Clínica do Instituto Sedes Sapientiae e no Departamento de Psicanálise.

Quando falamos em transtornos alimentares, e o mais conhecido ou citado é a anorexia nervosa, é comum a pergunta: “Porque isso está acontecendo agora?”. É fato que a anorexia é um fenômeno reconhecido e descrito há muito tempo, o que difere é a sua compreensão. Na atualidade ela está muito associada ao modelo vigente de beleza. Quero, com isso, ressaltar que os corpos sempre foram vigiados. A anorexia é uma forma bem atual de fazê-lo. 

Pretendo com este texto pensar a anorexia nervosa por um outro caminho, qual seja: a tarefa de todo ser humano tornar-se um indivíduo, portador de uma subjetividade forjada ao longo de sua existência, tendo a adolescência o ápice deste trabalho. 

Os fenômenos anoréxicos muitas vezes surgem neste momento. Como qualquer sintoma, antes de sua expressão há toda uma história anterior ao seu aparecimento. Quando se torna visível é uma tentativa de dizer que algo não vai bem. 

As mudanças tanto físicas como psíquicas que o adolescente tem que suportar e elaborar não são poucas e, muitas vezes, elas não caminham juntas.

 

Temos visto que as mudanças corporais têm iniciado cada vez mais cedo. Penso, por exemplo, nas meninas que têm menstruado cada vez mais jovens, gerando um descompasso entre o psíquico e o corpo. Aliás, podemos pensar este período da vida como um tempo onde os opostos estão em constante confronto: dentro/fora, autonomia/dependência, reconhecimento/estranhamento, segurança/insegurança. 

Se por um lado a difícil tarefa é a de lidar com os extremos, por outro, é justamente o momento de buscar uma síntese ou um lugar menos extremado. Internamente, o adolescente precisa encontrar um lugar para as expectativas nele depositadas e as suas próprias aspirações. Em outras palavras, a idéia é a de que há todo um trabalho interno que busca reconhecer os traços de identificação com seus pais e as diferenças também. Posso adiantar que o caminho é composto por contradições, angústias, idas e vindas, enfim, é bem trabalhoso. 

Sem dúvida trata-se de um momento de crise. A palavra “crise” carrega em si a noção de oportunidade e de crescimento e, portanto nem tudo é desprazer. Há também muitas descobertas prazerosas. Porém, neste percurso alguns sintomas podem surgir de maneira transitória ou até mesmo como algo mais duradouro. 

Pensando a anorexia nervosa como um sintoma possível nestes momentos, gostaria de lançar algumas hipóteses para seu surgimento. Antes gostaria de abordar algumas questões que podem incrementar esta discussão. Para tanto, partiremos da idéia de que a alimentação faz parte dos dogmas de diferentes religiões, além do fato de que hoje em dia a alimentação tem um papel fundamental na política mundial e porque não dizer na política do corpo? Sendo até possível dizer: ”Digas o que comes que te direis com quem andas”. 

Se tomarmos a questão da autonomia como o fio condutor, daqui por diante teremos o corpo como um possível palco de expressão do caminho de individuação. 

Como já foi dito anteriormente, este é um período de extremos onde muitas vezes a autonomia confunde-se com auto-suficiência: ”Não preciso comer nada, não preciso de nada que venha do outro, eu me basto”. O outro lado desta mesma moeda é o desamparo tantas vezes vivido nesta época. Neste exemplo que dei também é possível reconhecer um gesto político, na medida em que o corpo transforma-se numa peça-chave de barganha. 

Esta “negociação” acontece com maior intensidade no âmbito familiar e, principalmente com a mãe por ser esta a figura que condensa as marcas das primeiras experiências de satisfação, apesar de não inscritas na lembrança possível de se recuperar e, justamente a figura da qual devemos nos separar sob o risco de perpetuar uma relação fusional. 

Vale lembrar que o pano de fundo desta discussão é a própria sexualidade. Os dogmas relativos à alimentação têm suas raízes na própria sexualidade, daí podemos inferir que muitas vezes o nojo associado aos fenômenos anoréxicos é uma maneira defensiva de evitar certas aproximações incestuosas. 

A anorexia nervosa é descrita desde o século XV. Jejuar era visto frequentemente como um gesto que promovia a santificação, uma vez que assegurava ao jejuador a sua capacidade de suportar qualquer tentação. Outra interpretação para as jejuadoras desta época é a política. Mal nasciam já tinham seus casamentos encaminhados. Numa época, bem diferente da atual, onde o ideal de beleza era o estilo rechonchudo, não havia maior afronta que um corpo descarnado. 

Estas mesmas idéias seguem sendo trabalhadas pelo psiquismo, afinal religiosidade, auto-suficiência, confrontação, o jogo de identificações, sempre estarão presentes. Neste sentido são literalmente atemporais. 

 

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