Por Thiago Sogayar Bechara
Com o apoio da FNAC Paulista JJ abre espaço para reflexão sobre como a cidadania está presente no mundo dos esportes.
O debate marca a semana em que acontece na cidade de São Paulo a Virada Esportiva, 21 de setembro e o Dia Mundial Sem Carro, 22 de setembro, dias em que os paulistanos terão a oportunidade de participar de várias atividades esportivas e culturais.
Rafaella Kreimer, Robson Careca, Branca Siva, Estela Suganuma, Odir Cunha, Hélio Alcântara e Guilherme Fuoco. Foto: Luciana Qarra
O Jornal Jovem realizou nesta quarta-feira, dia 19 de setembro de 2007, mais um Roda Jovem. Dessa vez, com com o apoio da Fnac da Avenida Paulista, nossos jovens e convidados entraram de cabeça no tema “Esporte e Cidadania” e discutiram como esses dois assuntos, aparentemente desconexos, podem estar – e certamente estão – bastante relacionados.
Fizeram parte do evento o jornalista e diretor de esportes da TV Cultura, Hélio Alcântara, o escritor e também jornalista esportivo Odir Cunha, Branca Silva, técnica e jogadora de basquete (além de irmã da jogadora Paula) e Robson de Souza, mais conhecido como “Careca”, da ONG Surf Especial, voltada para os praticantes do esporte que sejam portadores de alguma deficiência física (como ele que ficou paraplégico após um acidente automobilístico).
Além deles, participaram três estudantes colaboradores do JJ nas editorias esportivas: Guilherme, responsável pela cobertura histórica dos Jogos Panamericanos, Estela e Rafaela (respectivamente no terceiro e segundo ano do ensino médio do Colégio Bandeirantes que colaborou com esta edição por meio do Programa Cidadania e Jovens e cujos coordenadores também estiveram presentes no evento).
Quem abre a roda é Branca, contando um pouco sobre o Instituto Passe de Mágica, criado por ela há três anos em parceria com sua irmã, Paula. “Tudo parte do desejo de fazer o bem associando o esporte às oportunidades de vida”, explica a técnica. O Instituto não tem fins lucrativos e, mais do que apenas ensinar o esporte específico de suas criadoras, promove passeios, incentiva a leitura, produz festas juninas, dentre outros eventos culturais. Isto é, pretende contribuir de alguma maneira com a formação de suas crianças cuja renda familiar e o critério de estar ou não numa escola, é que servem de condição para elas serem aceitas no projeto.
Branca complementa: “O Passe de Mágica não visa detectar talentos mas sim abrir as portas para tudo o que sirva de crescimento para o indivíduo. O encaminhamento de alguns para se tornarem profissionais até é feito, mas como uma conseqüência de algo maior. Fazemos discussões sobre política, sexualidade, etc.”. O projeto, que conta ainda com a parceria de Rubens Barrichello e Tony Canaã, é uma iniciativa lúcida de não pretender atingir milhares de crianças, mas fazer bem feito aquilo a que se propõe.
Após o exemplo prático que, logo de saída, temos sobre como cidadania e esportes devem viver intimamente relacionados, vamos aos conceitos teóricos. Odir Cunha é quem prossegue a discussão: “Esporte todos nós sabemos o que é, mas e cidadania? Fui pesquisar e encontrei cidadania como a qualidade daquele que exerce seus direitos e deveres dentro de uma nação”. O jornalista lamenta que no Brasil não se tenha o exercício pleno da cidadania ainda, mas evidencia a contribuição do esporte na abertura desse espaço, principalmente no que se refere às classes “marginalizadas”, quase sempre alvo de preconceitos. “O esporte representa à muitos deles, sejam eles negros ou pobres, a possibilidade de se ter dignidade; de se ter alguma importância social”, reflete a partir da idéia de respeito que permeia toda a discussão.
Hélio Alcântara complementa Odir, estabelecendo uma correlação entre o que somos no esporte e o que somos na vida: “O esporte traduz os valores que devemos carregar. Ele é o reflexo da sociedade”. Para o jornalista, a maneira como se age numa quadra certamente está ligada à forma como conduzimos nossas vidas e relações. Daí, talvez, a importância de se ter no esporte um dos meios de educação e transmissão de valores.
Sobre isso, o estudante Guilherme faz uma metáfora bastante útil sobre como esse reflexo se dá: “É a mesma coisa que um cartão amarelo ou vermelho. Assim como no esporte, a vida também tem suas regras e aprender a obedecê-las em ambos os casos, é um exercício importante. Se fazemos algo errado em casa, levamos um cartão amarelo de nossa mãe. Se continuamos descumprindo, a punição pode se equivaler a um vermelho”, brinca.
É e vez de Robson “Careca” emocionar a todos com seu depoimento que mais do que uma aula de cidadania, serviu como uma lição de vida a ser seguida indiscriminadamente. Ex-surfista profissional, sofreu um acidente automobilístico ficando paraplégico e, conseqüentemente, com algumas limitações. Entretanto, é com bom humor que se auto denomina um surfista especial quando diz que “a limitação está na própria mente”. Para ele, o esporte é uma ferramenta de inclusão social tanto para portadores de deficiências físicas quanto para os não portadores. E conta da criação da ONG Surf Especial relacionando o esporte e sua perseverança em continuar vivo, à amizade, ao companheirismo, amor ao próximo e à natureza (sua grande paixão). É comovente perceber como o esporte serviu para Robson como uma mola propulsora, devolvendo a ele a alegria de encontrar colegas, após sair do coma.
É então que os jovens estudantes dão suas preciosas contribuições ao debate que tem grande participação da platéia, composta, entre outras pessoas, por duas animadas professoras de educação física. Além de outros comentários bastante relevantes de Guilherme, temos a participação de Estela e Rafaela que mostram a que vieram em poucas palavras falando sobre a importância do esporte no desenvolvimento inclusive motor do ser humano além dos trabalhos por elas realizados no Colégio Bandeirantes sobre aspectos positivos e negativos do esporte.
Rafaela cita apenas para ilustrar sua pesquisa, o doping e a briga entre torcidas como dois dos principais aspectos negativos que o esporte pode assumir, sem, entanto, deixar de realçar a consciência que tem sobre a importância de se associar práticas esportivas ao exercício pleno não só da cidadania como do amor ao próximo, e de outras formas de convívio permeadas pela prática de alguma modalidade, em alusão indireta à fala do jornalista Hélio Alcântara.
O evento contou ainda com o sorteio de um dos livros de Odir Cunha e com uma prazerosa troca de e-mails ao final, entre convidados e platéia que se uniram efusivamente em torno dessas reflexões, tão relevantes para a sociedade como um todo. Senão uma solução para todos os males, ao menos uma proposta bastante interessante de um caminho viável rumo a uma sociedade mais consciente de seus direitos e de seus deveres.
Sites dos nossos convidados:
www.passedemagica.org.br
www.surfespecial.com.br
REALIZAÇÃO
www.jornaljovem.com.br
APOIO
FNAC Paulista
SIEEESP
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