Março de 2008 - Nº 09     ISSN 1982-7733
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Uma biografia de Clarice


Desenho: Fernanda Aragão

 

Embora não se tenha com precisão a data de seu nascimento, estima-se que tenha sido a 10 de dezembro de 1920 o dia em que o mundo ganhou um de seus maiores expoentes literários. O que talvez poucos saibam é que Clarice Lispector nascera em Tchetchelnik, na Ucrânia, já durante a viagem de emigração de sua família em direção à América Latina. Só em março 1922, entretanto, aportara em Maceió, Alagoas. Seu nome originalmente era Haia Lispector, tendo sido traduzido para Clarice posteriormente, assim como o de seus pais e irmãos.

Em 1925 mudam-se para Recife, Pernambuco, e em 1928 Clarice passa a freqüentar o Grupo Escolar João Barbalho onde aprende a ler. Durante sua infância a família passou por sérias crises financeiras.

Em 1930 morre Marieta, mãe de Clarice, que sofria de paralisia. Clarice vai estudar no Collegio Hebreo-Idisch-Brasileiro, onde termina o terceiro ano primário. Já nessa época começa a escrever pequenos textos e uma peça de teatro em três atos cujos originais se perdem. Dois anos mais tarde, Ingressa no tradicional Ginásio Pernambucano e passa a visitar a livraria do pai de uma amiga. Lê  "Reinações de Narizinho", de Monteiro Lobato, que pegou emprestado, já que não podia comprá-lo.

“Às vezes sentava-me na rede, balançando-me com o livro aberto no colo, sem tocá-lo, em êxtase puríssimo (...) Não era mais uma menina com um livro: era uma mulher com o seu amante” (conto “Felicidade Clandestina”, publicado em 1971).

Nos anos seguintes, Clarice muda-se para o Rio de Janeiro, termina o ginasial e começa a ler clássicos da literatura como Rachel de Queiroz, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Graciliano Ramos, Jorge Amado e Dostoievski. Passa a dar aulas de Português e Matemática e ingressa em 1939 na Faculdade Nacional de Direito, depois de passar em quarto lugar no vestibular. Trabalha como secretária de um escritório de advocacia.

Em 1940 publica o primeiro trabalho de ficção, o conto Triunfo no Semanário Pan, de Tasso da Silveira. Em agosto morre seu pai o que a motiva a escrever três contos reunidos postumamente em A Bela e a Fera. Muda-se para a casa de sua irmã Tânia Kaufmann e inicia sua carreira de jornalista trabalhando do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Em 1942 vai para o jornal A Noite (seu primeiro registro profissional após ter trabalhado em outros órgãos como “O Diário do Povo, de Campinas, e “A Época”, revista dos estudantes de sua faculdade). Começa a namorar o colega de Direito, Maury Gurgel Valente com quem se casa no ano seguinte e escreve seu primeiro romance: Perto do Coração Selvagem.

Em 1943 naturaliza-se brasileira e publica Perto do Coração Selvagem que recebe o prêmio Graça Aranha de melhor romance de 1943. Por conta do marido que segue a carreira diplomática, passam a partir daí, a viajar todo mundo, tendo morado inicialmente em Belém do Pará e na Itália após escalas em Portugal e Norte da África. Termina ainda nesse ano, seu segundo romance, O Lustre, que é publicado no Brasil no ano seguinte pela Livraria Agir Eiditora.

Em 1945 conhece personalidades como Rubem Braga, Fernando Sabino, Otto Lara Rezende, dentre outros, quando volta ao Brasil por três meses como correio diplomático do Ministério das Relações Exteriores. De volta à Europa, vai morar com a família em Berna, Suíça, para onde seu marido havia sido designado como segundo-secretário. Sua correspondência com amigos brasileiros a mantinha a par das novidades.

Em 1948, nasce Pedro, o primeiro filho de Clarice. No ano seguinte, o casal Gurgel Valente deixa Berna e passa uma temporada no Brasil, durante a qual Clarice aproveita para lançar seu terceiro livro, A Cidade Sitiada.

Nos dois primeiros anos da década de 1950, volta para a Europa morando na cidade de Torquay, na Inglaterra. Sofre um aborto espontâneo, é atendida por João Cabral de Melo Neto, vice-cônsul da capital inglesa e então volta ao Rio de Janeiro, onde assume a página Entre Mulheres do jornal Comício com o pseudônimo de Tereza Quadros. Cola grau na faculdade de direito, depois de muitos adiamentos e em setembro, já grávida, embarca para a capital americana, onde permanece por oito anos. Inicia o esboço do romance A veia no pulso, que viria a ser A Maçã no Escuro, livro publicado em 1961. É em Washington que Clarice se torna grande amiga do casal Mafalda e Érico Veríssimo que apadrinhariam mais tarde seus dois filhos. Nasce Paulo, a 10 de fevereiro de 1953.

Em 1959 separa-se do marido e vai morar no bairro do Leme, no Rio de Janeiro, onde assume a coluna Correio Feminino - Feira de Utilidades, no jornal carioca Correio da Manhã, sob o pseudônimo de Helen Palmer. Publica ainda uma série de contos na revista Senhor.

Em 1960, publica o livro de contos Laços de Família e em 1962 recebe o prêmio Carmen Dolores Barbosa de melhor livro pelo A Maçã no Escuro. Em 1964 publica A Legião Estrangeira, também de contos e o romance A Paixão Segundo G.H.. Dia 14 de setembro de 1966 sofre um grave acidente. Dorme com um cigarro aceso, tendo seu quarto todo destruído pelo fogo. Passa dois meses no hospital e os três primeiros dias correndo risco de vida. O acidente mudara em definitivo a vida de Clarice.

“Perdi alguma coisa que me era essencial, e que já não me é mais. Não me é necessária, assim como se eu tivesse perdido uma terceira perna que até então me impossibilitava de andar mas que fazia de mim um tripé estável. Essa terceira perna eu perdi. E voltei a ser uma pessoa que nunca fui. Voltei a ter o que nunca tive: apenas duas pernas. Sei que somente com duas pernas é que posso caminhar. Mas a ausência inútil da terceira me faz falta e me assusta, era ela que fazia de mim uma coisa encontrável por mim mesma, e sem sequer precisar me procurar” (romance “A Paixão Segundo G.H.”, 1964).

Em 1967 lança o livro infantil O Mistério do Coelho Pensante que é agraciado no ano seguinte com a "Ordem do Calunga", concedido pela Campanha Nacional da Criança. Em 1968 entrevista personalidades para a revista "Manchete" na seção "Diálogos possíveis com Clarice Lispector" e participa da manifestação contra a ditadura militar, em junho, chamada "Passeata dos 100 mil". Publica seu segundo livro infantil: A Mulher que matou os Peixes.

Em 1969 publica Uma Aprendizagem ou o Livro dos Prazeres premiado com o Golfinho de Ouro do Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro. Em 1970 Começa a escrever um novo romance, com o título provisório de Atrás do pensamento: monólogo com a vida. Mais adiante, é chamado Objeto gritante. Foi lançado com o título definitivo de Água viva. Conhece Olga Borelli, de que se tornaria grande amiga.

Em 1971 publica seu quarto livro de contos, Felicidade Clandestina e, dois anos depois, em 1973, publica, enfim, Água Viva e o sexto livro de contos, A Imitação da Rosa. Deixa de colaborar com o “Jornal do Brasil” e viaja para a Europa com Olga Borelli. Em 1974 Clarice publica mais dois livros de conto, A Via Crucis do Corpo e Onde Estivestes de Noite, além de além de mais um livro infantil, A Vida Íntima de Laura. Em 1975 participa de congressos, dentre eles, um de bruxaria em Bogotá, na Colômbia e passa a se dedicar mais intensamente a tradução de outros autores, além de iniciar-se na pintura.

Um ano antes de sua morte, Clarice grava depoimento para o Museu da Imagem e do Som (MIS), entrevistada por Affonso Romano de Sant´Anna, Maria Colasanti e João Salgueiro. Em dezembro, é contratada pela revista Fatos & Fotos para fazer uma série de entrevistas nos moldes daquelas que efetuara para a revista Manchete, atividade que manteria até outubro do ano seguinte.

Em fevereiro de 1977 é contratada pelo jornal Última Hora para assinar uma crônica semanal. Nesse mesmo mês,Clarice concede entrevista a Júlio Lerner, Da TV Cultura da São Paulo, que só seria veiculada no dia 28 de dezembro.

Publica, em outubro, seu último livro, a novela A Hora da Estrela.

“É que ela sentia falta de encontrar-se consigo mesma e sofrer um pouco é um encontro” (romance “A Hora da Estrela”, 1977).

Em 9 de dezembro, morre de câncer, às vésperas de completar 57 anos, sendo sepultada no Cemitério Comunal Israelita do Caju. Postumamente são lançados em 1978 o romance Um Sopro de Vida, o infantil Quase de Verdade e a coletânea de crônicas Para não Esquecer. A Hora da Estrela ganha o prêmio Jabuti de melhor romance. O conto Feliz Aniversário é levado ao ar pela Rede Globo de Televisão, com roteiro de Antônio Carlos Fontoura, direção de Paulo José e interpretação de Iracema de Alencar.

Em 1979 é publicado A Bela e a Fera (também de contos) e o romance Um sopro de vida é encenado por José Possi Neto no Teatro Ruth Escobar, com interpretação de Marilena Ansaldi. Dentre inúmeras novas edições e traduções de seus livros, ainda foram lançados A Descoberta do Mundo (seleção de crônicas, 1984) e Como Nasceram as Estrelas (infantil de 1987). Seu último livro, A Hora da Estrela, talvez um de seus mais famosos virou filme dirigido por Suzana Amaral em 1985 e serviu de base para o show homônimo de Maria Bethânia em 1984.

Thiago Sogayar Bechara

 

Fontes

- www.claricelispector.com.br

- http://www.releituras.com/clispector_bio.asp

- Seleção de trechos a partir da leitura dos livros: Felicidade Clandestina; A Hora da Estrela; A Paixão Segundo G.H.;  Clarice – Entrevistas; Laços de Família e Água Viva.

 

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