Março de 2008 - Nº 09     ISSN 1982-7733
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JJ Entrevista -Teresa Montero

Teresa Montero é doutora em Letras pela PUC/Rio e professora de literatura e de arte-educação, respectivamente na Unesa e na Unissalle. Além de ser autora de Eu sou uma pergunta – uma biografia de Clarice Lispector (Rocco, 1999), organizou também Correspondências – Clarice Lispector (Rocco, 2002) e Clarice Lispector – Outros escritos (Rocco, 2005).

 

Jornal Jovem - Clarice vivia numa constante inquietação permeada por dúvidas. Pode-se dizer que vem dessa grande – e eterna – carência, o motor propulsor de sua literatura?

Teresa Montero - O que me parece é que ela vivia intensamente. Estar viva exigia um permanente questionamento. Seu olhar sobre a vida era muito especial, as coisas mais banais ganhavam uma dimensão sobrenatural. Ela dizia que o sobrenatural é o natural.

JJ - Clarice diz não ter compreendido seu conto O Ovo e a Galinha. Quais seriam as possíveis interpretações para este texto?

TM - Este conto trata da criação, das origens. Clarice propõem uma maneira peculiar de olhar as coisas, ver o ovo não é um ato banal. Toda a narrativa parece dizer ao leitor que existe um modo novo de se estar no mundo, de viver as coisas.

JJ - Existe como precisar em qual de seus trabalhos Clarice se encontra melhor traduzida?

TM - Todos têm a marca da sua personalidade. Eu citaria a Joana, de Perto do Coração Selvagem. Uma menina questionadora, inquieta, completamente fascinada pelo mundo das palavras, que ao tornar-se adulta mantém-se nesta mesma trilha. É uma mulher em busca, em busca do coração selvagem da vida; ela está disposta a derrubar todos os obstáculos para viver livremente.

JJ - Em sua entrevista à TV Cultura, em 1977, Lispector comenta o papel do artista, para ela: o de falar cada vez menos. Em que medida os textos dela traziam essa marca da síntese para melhor se transmitirem?

TM - Os últimos livros buscam esta síntese: A Hora da Estrela, Água Viva, A Via Crucis do Corpo. Quando comparados com os romances iniciais vê-se que ela consegue expressar os seus deslumbramentos sobre a vida em poucas palavras.

JJ - Lispector se diz surpresa pela quantidade de jovens que lhe vinham falar sobre seus livros. Qual o contato que os jovens de hoje têm com sua literatura e, em que medida a escrita de Clarice pode ser definida, de fato, como hermética?

TM – O contato dos jovens é cada vez maior. No Orkut Clarice Lispector é um fenômeno. Mais de 100 mil pessoas fazem partes de diversas comunidades “Clarice Lispector”. Clarice é muito visceral, verdadeira, ela fala de coisas que os jovens têm necessidade de ouvir. Ela dizia que entender não é uma questão de inteligência, mas sim de sentir. “O que escrevo ou toca ou não toca”. Portanto, o hermetismo existe para o leitor que não se abre para receber este tipo de texto. É preciso deixar o canal do irracional disponível para “sentir” o texto de Clarice.

JJ - É falsa a impressão de que A Hora da Estrela foi um de seus trabalhos que ficou mais conhecido? A que se deve essa idéia?

TM - O filme projetou muito o livro. O livro mais lido é Laços de Família.

JJ – “Quando não escrevo, estou morta”, dizia a escritora. Como lidava com seu cotidiano?

TM - Ela era uma mulher comum. Sim, dona de casa, cuidava dos filhos, ia ao cinema, visitava os amigos. O escritor é antes de tudo uma pessoa e não um mito. Clarice dizia que queria que gostassem dela não porque ela era uma escritora, mas pelo o que ela era como ser humano.

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CLARICE LISPECTOR
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