Março de 2008 - Nº 09     ISSN 1982-7733
Aqui você é o repórter
Sobre o escrever
Sua vez, sua voz
Fale conosco
Clarice Lispector
A Hora de Clarice
Uma biografia
JJ Entrevista
Clarice e Millôr
Crônica
Alguns livros
Seção Livre
Palavra aberta
HQ e charge
Humor
Poesia
Crônica
Cinema
Dicas Livros/CDs/DVDs
Acompanhe
Abroad/ Mundo Afora
Exceção
Participe da enquete
Edições anteriores
Escola
Como participar
Divulgação de eventos

Breve instante de delírio

por Thiago S. Bechara

Clarice Lispector. Foto: Divulgação

Abri o livro já na cama como quem só vai olhar as páginas pelo prazer de abrir um livro. Mas quando eu vi, já estava agarrado a uma velhinha desamparada. Fui até seu fim. Atônito. Foi o mesmo que uma felicidade clandestina, tê-lo feita às altas da madrugada, quando é dever de todos descansar.

Mas eu sei que abri Clarice no intuito mesmo de lê-la. Como o sono me impedia as forças, fingi não querer, pra me trair logo depois. E foi assim que me engoliu mais um conto encantado pra reverberar minha alma.

E outro. Mais outro, como se, a cada história, algo de novo se edificasse sobre minha vida. Algo de que eu não poderia prescindir por nem um minuto sequer. Exatamente como a paixão de um primeiro beijo. Urgente e revelador. Capaz de saciar a sede num jorro de retalhos afetivos.

Era algo como saber-se vivo diante de um livro vivo. Dois organismos se defrontando. E mais que isso, se decifrando um ao outro. Devorando-se da mesma maneira que fizera a menina numa de suas histórias de tanto amor, ao comer a galinha de estimação certa de que, assim, teria-a plenamente incorporado. Tão simples quanto fazer Clarice ao molho pardo.

Por tanto amor, teria eu fugido com o livro para uma paragem distante, não estivesse já dentro de mim, que foi o lugar mais longínquo que pude encontrar. Lá, nesse interior, foi que guardei suas páginas, como uma Flor de Liz. Na prateleira do meu peito, quando voltei ao primeiro conto e me espantei ao deparar-me com a descrição perfeita do momento que eu vivia.

Tomo aqui a liberdade de reproduzi-lo. Afinal, foi também de minha autoria, naquele instante.

Não era mais um menino com um livro: era um homem com sua amante!

Fechei-o às duas horas sem saber se minha tontura vinha do sono ou da morte que se anunciara ao fim da história da velhinha. Mas dormi.

          

Envie esta notícia para um amigo

CLARICE LISPECTOR
ALGUNS LIVROS DE CLARICE
 Copyright © 2005-2011 Jornal Jovem - Aqui você é o repórter. Todos os direitos reservados.