Marcel
de Lima
25 anos, ex-aluno do curso de Redação
Jornalística Senac, 4° semestre de jornalismo
e estagiário no The New York
São Paulo - capital
Entrevista
para o Jornal Jovem
Entrevistado:
Enio Moraes Júnior, 37, jornalista e professor de
jornalismo, mestre em Ciências da Comunicação
pela USP e especialista em Jornalismo Político e
Econômico. Ele desenvolveu seu mestrado “A Formação
Cidadã do Jornalista no Brasil” ao estudo das
relações entre Cidadania, Educação
e Imprensa.
“Ainda
que possa ser fomentada no espaço familiar, nas relações
sociais e pelos veículos de comunicação,
a cidadania tem na escola um importante campo de discussão”.
Marcel
- Qual é a importância dos jovens aprenderem
cidadania?
Enio
– Mais que aprender, mas “viver” cidadania
é algo indispensável à liberdade e
à realização de cada indivíduo.
Além disso, ser cidadão é um caminho
para respeitar o outro e o mundo em que vivemos. É
um compromisso comigo, com o outro e com o planeta. Ser
cidadão não é apenas preocupar-me com
o meu trabalho, mas também com o desemprego do meu
vizinho e com o desamparo e a fome do morador de rua e,
a partir daí, questionar; propor; criar condições
sociais para se resolver esse tipo de problema. Numa perspectiva
mais ampla, é também me preocupar com a vida
e a sobrevida deste planeta em que vivemos e que destruímos
sistematicamente dia-a-dia poluindo rios, desmatando etc.
Marcel
- Você acha que o ensino da cidadania realmente dá
ao estudante uma base sólida?
Enio – Bom, em primeiro lugar poderíamos
pensar o que, de fato, significa ensino. Ensinar é
mais que cumprir um currículo, especialmente no caso
da cidadania. É claro que o tema está nas
grades curriculares das escolas, desde do nível fundamental
até o superior e as pós-graduações.
No entanto, cabe ao professor que pretende ensinar cidadania,
de fato, começar respeitando o aluno como cidadão.
Tendo, portanto, em sala de aula, uma postura cidadã.
Marcel
- Como o perfil das universidades estimula os jovens
no exercício da cidadania?
Enio – Talvez a principal colaboração
que as universidades possam dar aos jovens nesse sentido
seja a formação; a informação.
Um indivíduo sem conhecimento dificilmente consegue
ser cidadão. Aliás, como dizia Marshall, um
inglês cujos estudos tornaram-se fundamentais para
qualquer discussão que se pretenda fazer sobre o
assunto, a educação está na base da
cidadania. Além disso, quanto mais as universidades
investirem na autonomia e na autoconfiança do estudante,
mais elas estarão formando cidadãos.
Marcel
- Qual é o papel do professor na formação
da cidadania?
Enio – Nos anos 60, o americano Carl
Rogers falava que no processo de ensino cabe ao professor
investir no potencial do estudante, estimulá-lo a
desenvolver o que ele é, e não vê-lo,
prepotentemente, como um copo vazio a ser preenchido. Concordo
plenamente com essa visão.
Marcel
- Com a globalização, quais são
os reflexos da cidadania quando aplicada localmente?
Enio – Boa pergunta! A cidadania,
que na verdade nasce com um conceito local; nacional, foi
ganhando ao longo da história um caráter global.
É por isso que podemos entender que ser cidadão
não é apenas comprometer-se com o país
onde se vive, mas com o mundo. Neste sentido, as questões
ecológicas ganham um espaço privilegiado nas
discussões sobre cidadania e se fala, cada vez mais,
numa ‘cidadania planetária’.
Marcel–
Há uma preocupação dos jovens
com a cidadania?
Enio – Os jovens, os adultos e até
mesmo as crianças, de modo geral, estão cada
vez mais preocupados em apenas sobreviver. A cidadania tem
sido uma preocupação de poucos, mas esses
poucos são cada vez mais um número maior de
pessoas. Parece que nessa virada de século as pessoas
começaram a se dar conta de que viver não
é apenas trabalhar e consumir num ritual umbilical
e solitário. Estamos percebendo que viver é
principalmente estar com as pessoas e sentir-se bem em sociedade,
e por isso precisamos de uma sociedade e de um mundo melhores.
Marcel
- Em seu ensaio “Quanto Custa
Ser Jornalista?”, você diz: “Associo o
jornalismo a um espaço de construção
da cidadania em que os direitos e os deveres de cada indivíduo
são preservados e defendidos. No meu entendimento,
o jornalismo tem um aporte humano e ético indiscutíveis,
mesmo que muito do que exista no mercado e se apresente
como jornalismo tenha que ser jogado no lixo, abandonado,
e pouco do que eu conceba e defenda seja efetivamente praticado”.
Você acredita que “se” as escolas conseguirem
ensinar para os estudantes cidadania, eles conseguiriam
mudar a ética na vida real (no mercado, fora das
escolas)?
Enio – Eu fiz esta observação
a partir de uma pesquisa que fiz com estudantes de jornalismo
da USP. Acredito que mudar a estrutura social e os ditames
do mercado não é algo tão fácil,
mas acho que quando as pessoas são colocadas em contato
com a cidadania elas ficam mais inquietas e, acredito, dentro
de algum tempo isso vai corroendo essa concepção
ideológica de que o mercado existe independentemente
de cada pessoa. Isso em si é uma mudança que
situa a cidadania num novo patamar.
Marcel
- Cidadania se aprende ou se conquista?
Enio – Nossa! Outra boa pergunta! Como profissional
da educação, posso dizer que o aprendizado
dentro de uma pedagogia cidadã, o que inclui respeito
ao potencial do educando e uma relação democrática
com a escola, são fundamentais para a conquista da
cidadania. Acho que esses dois termos são indissociáveis.
Como dizia Paulo Freire, a educação deve proporcionar
ao estudante condições de participação
social.
Marcel de Lima
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