A exposição dos chilenos José Balmes e Gracia Barrios no Museu Afrobrasil reforça o desejo de restabelecimento de uma troca artística mais fluente entre Brasil e Chile, interceptada durante os regimes militares e renovada apenas em 1997, com a Bienal do Mercosul. Até 22 de julho de 2007.
Cabeças sobre papel. Gracias Barrios 2004
Selecionaram-se obras que dialogam com a travessia crítica e criativa dos artistas. Gracia Barrios trabalha a partir de pinturas realizadas em 1971/72. Balmes trabalha em cima de serigrafias de protesto que havia feito em 1973 e 86, na ocasião do assassinato do jovem José Ahumada Vasquez por um grupo fascista semanas antes do Golpe Militar no Chile; mostrando a contemporaneidade do ocorrido e a necessidade de um processo de desconstrução histórica e memória.
A hora técnica mista. José Balmes. 2006
.Este lugar destinado às vítimas de combates emblemáticos é contínuo na produção do artista. Se em 1967, a pintura Homenagem a Lumumba é a expressão clara do protesto frente à organização opressora das superpotências, responsável pelo assassinato do líder africano e anos de ditadura no Congo; hoje a obra atenta também ao paternalismo generalizado do cenário artístico, mantendo sua contundência política.
Já Gracia Barrios, partindo desta mesma inquietação política, parece encontrar um lugar pictórico para os corpos das vítimas; debatendo-se entre a figura e uma abstração comedida.
Este realismo crítico de ambos estabelece-se em um constante diálogo com a fotografia. “Se a foto é um corte abrupto na temporalidade, a pintura só retém; até que o corte se estire e recorde sua condição para refrear a dor da imagem fragmentada”, como sugere Justo Pastor Mellado.
Diferente da arte brasileira, não existe no Chile uma distinção tão clara entre o momento moderno e a fricção contemporânea; a própria política universitária, desde a incorporação da pintura pós-impressionista, instaurou-se como um ensino que dilatava “a produção de um momento moderno mediante a prolongação institucional de um olhar depressivo”, segundo escreve Mellado. Neste contexto, o casal de artistas, que compartilha vida desde o início dos anos cinqüenta, é revelador na afirmação da contemporaneidade da pintura chilena.
Além desta exposição, a relação estreita do Museu Afrobrasil com Museu da Solidariedade, de Santiago, possibilitou ainda trazer um conjunto de tapeçarias desenvolvidas por mulheres de exilados políticos chilenos que moraram na Suécia: as mulheres da resistência, assim como Violeta Parra. Em Estocolmo, elas se reuniam para bordar estes “patchworks” e lembrar da terra natal. Completa ainda este vínculo com o museu chileno, uma série de 33 fotografias do período Allende.
Exposição: José Balmes e Gracias Barrios
Até 22 de julho de 2007, de terça a domingo, das 10h às 17h – entrada franca
Museu Afrobrasil
Pav. Pe. Manoel da Nóbrega, Portão 10. Parque Ibirapuera.
Fone:11.5579-0593
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