Julho de 2007 - Nº 06    ISSN 1982-7733
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Iracema

Autor: José de Alencar
Editora:
Paulus


 

“Verdes mares bravios de minha terra natal, onde canta a jandaia nas fontes da carnaúba;

Verdes mares, que brilhais como líquida esmeralda aos raios de Sol nascente, perlongando as alvas praias ensombradas de coqueiros;

Serenai, verdes mares, e alisai docemente a vaga impetuosa, para que o barco aventureiro manso resvale à flor das águas”

Iracema, de José de Alencar, é um dos romances indianistas de maior expressividade da Literatura nacional. O livro, escrito em 1865 – período que corresponde à 1ª fase do Romantismo – conta a trágica história de amor da índia Iracema, a virgem dos lábios de mel, e Martim, um português que por força das circunstâncias vem parar em terras brasileiras.

Logo na dedicatória do livro, José de Alencar deixa evidentes as suas intenções em relação à narrativa: “À terra natal/ um filho ausente”. O autor retorna às origens, já que Iracema metaforiza a lenda da criação do Ceará, estado onde nascera em 1829.

O enredo do romance é relativamente simples. Iracema é a índia que guarda o segredo da jurema e que, portanto, deve fidelidade à tribo tabajara e precisa, também, manter sua virgindade resguardada. Contudo, ao conhecer o branco Martim, a índia se apaixona e entrega-se a esse amor, o que acaba provocando a revolta de alguns integrantes de sua tribo e reforçando a rivalidade entre tribos vizinhas. Há que se notar a característica de efemeridade dos amores do Romantismo. A relação entre Martim e Iracema começa a perder o vigor, sobretudo pelo fato de o português ainda se encontrar enamorado pela noiva que deixara em sua terra.

Iracema, já estando grávida, não suporta a indiferença de Martim e passa a definhar aos poucos. Quando nasce o filho do casal, a índia se vê sozinha e, ao dar à luz, diz: “Tu és Moacir, o nascido do meu sofrimento”. O rebento representa a junção das raças indígena e branca e também é concebido como “o primeiro cearense”, metáfora que assinala o processo de formação do estado e da sociedade brasileira de uma maneira geral. Ainda que emocionado com o nascimento do filho, Martim continua mantendo certa frieza no convívio com Iracema, que morre por conta disso. É a fuga máxima da temática romântica, ou seja, para abreviar o sofrimento, Iracema morre de amor. Vale lembrar que Iracema é anagrama de “América”, o que demonstra o reforço do ideal nacionalista.

Depois desse breve parecer acerca da história do livro, cabe a análise apurada daquilo que faz de Iracema um romance tão singular: a preciosidade lingüística com que fora escrito. José de Alencar optou por fazer uma prosa poética, após cogitar a possibilidade de escrever em forma de versos. E esse tipo de narrativa tem como peculiaridade a preocupação estética.

Os símiles, ou seja, as comparações, são a principal figura de linguagem utilizada pelo autor. As comparações – que se dão por metáfora, justaposição ou metonímia – às vezes se prolongam: “a borrasca enverga, como o condor, as foscas asas sobre o abismo”; “então seu olhar como o do tigre, afeito às trevas, conheceu Iracema”. O uso desses recursos tem por finalidade desenvolver a precisão da descrição além de aproximar o leitor às imagens da terra, conferindo ao livro o nacionalismo inerente às obras românticas por meio da valorização da cor local. Pode-se perceber, também, a necessidade do autor em colocar a natureza como um aspecto fundamental na composição da história.

Para alguns críticos o excesso de comparações é um ponto negativo bem como o fato de José de Alencar apresentar o índio como uma figura idealizada. Mas sua intenção foi justamente colocar o indígena dentro do contexto da época sem exagerar na idealização. Em algumas passagens, entretanto, fica evidente que o escritor não fugiu muito do estereótipo: “O estrangeiro é o senhor na cabana de Araquém!”. A hospitalidade conferida ao indígena e a retratação do espírito guerreiro - com os ideais de nobreza, caráter e honra – podem parecer forçados e remeter às características do cavaleiro medieval, comparação deveras comum nas narrativas românticas.

Outro estereótipo é construído. Iracema é o padrão ideal da esposa e mãe do século XVII. Por amor ao marido, ela abandona a família, a tribo e seus campos nativos, e também a religião da qual era guardiã. Em Iracema, tem-se o típico amor cortês. Martim é um personagem histórico (Martim Soares Moreno) que esteve no Rio Grande do Norte por volta de 1608.

José de Alencar com Iracema homenageia a tradição oral, que, por muitas vezes, tende a ser mais verdadeira do que o que é contado nos livros, além, é claro de estimar a cor local por ter ligação direta ao sentimento dos povos.

Machado de Assis tem uma das melhores definições sobre a importância do livro e de sua visão pessoal acerca dele. “Poema lhe chamamos a este, sem curar de saber se é antes uma lenda, se um romance: o futuro chamar-lhe-á obra-prima”. Nota-se, assim, que Machado foi certeiro em seu prenúncio.

 

Cremilda Aguiar, 19 anos,5º semestre jornalismo/Mackenzie - São Paulo - capital

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