

Julho de 2007 - Nº 06 ISSN 1982-7733

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Transtornos alimentares: Até onde a Internet vai

Fabio Napchan Gomes, Fabio Pinheiro do Vale, Mariana Médici Vieira, Mariana Moraes Martins, Victória Blat Keboudi
2º ano EM Colégio Bandeirantes
São Paulo- capital

Coordenadora do Programa Cidadania do Colégio Bandeirantes: Cinília Tadeu Gisondi. Professora - orientadora: Fernanda Cantisani Zuquim, de Geografia, do Programa Cidadania. Consultoria: professora Maria Estela Benedetti Zanini (Transtornos Alimentares) e professora Cristiana Mattos Assumpção (Ética na Internet).

A internet é um meio de comunicação cuja evolução pode ser considerada gigantesca. Pode se dizer que este grande desenvolvimento está ligado à globalização, pois permite contato e troca de informações praticamente instantâneas com o mundo todo. Essa facilidade deu origem a uma enorme demanda de novos sites, tanto comercias quanto particulares.

Um exemplo desses sites é o Google, que teve o maior crescimento já visto no meio da internet, sendo hoje em dia o endereço virtual mais visitado diariamente, com as ações mais caras do mercado. Criado de maneira despretensiosa por dois universitários americanos, o Google está presente nos mais diversos ramos da internet, com mais de 23 milhões de páginas indexadas. Um desses ramos são os sites de relacionamento e também o serviço de e-mail, mais conhecido como Gmail. Para entrar e ter acesso a esses serviços no início era necessário ser convidado por outro usuário, hoje só é preciso efetuar um cadastro. Desta forma, o Google, consegue uma espécie de rede de usuários podendo ter mais controle e com isso começa jogar alto com seus investimentos, conseguindo de uma maneira inexplicável atrair uma boa parte de jovens brasileiros para a rede.

Muitas vezes pais de adolescentes se perguntam o porquê de seus filhos entrarem tanto na internet e passarem tanto tempo nela. O que acontece é que o jovem encontra na rede dois fatores importantíssimos, os quais suprem as necessidades essenciais nesta fase de suas vidas. A primeira é que ao entrar em contato com muitas pessoas de culturas e formas de agir e pensar diferentes, o adolescente pode desenvolver aspectos que o levam à idade adulta. A segunda é que na adolescência ele busca certa afirmação social, além de estar passando por uma série de mudanças corporais e de pensamentos e, até mesmo, o questionamento dos valores impostos e sempre ensinados com sendo “certos” pelos adultos, principalmente a família. Neste contexto, o jovem vê na internet um meio, no qual pode discutir com outros que vivem e passam pelas mesmas angústias. Neste momento, podendo superar a timidez já que não está fazendo parte de um mundo “real”, o adolescente se sente participante de um grupo, exatamente o que mais busca naquele momento.

A questão é que o jovem, por muitas vezes não se sente à vontade para conversar sobre certos assuntos com as pessoas que o cercam e o ambiente virtual acaba se tornando o mais propício para discutir temas polêmicos nessa faixa etária. Assim, em comunidades do orkut, por exemplo, encontram o seu grupo e passam a trocar idéias com pessoas que partem da mesma opinião, ou até mesmo, problema semelhante. Deste modo as comunidades e blogs se tornaram fenômenos da internet.

Dentre os diversos assuntos debatidos na rede, os mais comentados são os transtornos alimentares (anorexia e bulimia). Os jovens que sofrem de bulimia e anorexia costumam buscar amparo em espaços, onde podem manter o anonimato. Exemplos desses refúgios são as 60 comunidades no site de relacionamento Orkut e 160 mil blogs no Google que falam do tema abertamente. A maioria deles é voltada para aqueles que acreditam que a anorexia não é uma doença, mas um estilo de vida, são sites que disponibilizam dietas e orientações de como se comportar como uma anoréxica, fazendo com que os jovens enfrentem a doença como uma identidade. Nos blogs e comunidades, modelos como Kate Moss, que quase faleceu de anorexia, são apontadas como ícones de beleza e força, pois conseguiram o sucesso, a fama e a riqueza graças aos seus corpos magérrimos. De certa forma também há tanto comunidades quanto blogs que fazem campanhas contra a anorexia e que, ao contrário dos outros, sugerem tratamentos contra a doença.

Muitos jovens, tanto do sexo masculino quanto do sexo feminino, sofrem transtornos alimentares e como já citamos, eles buscam a internet como refúgio, mas podemos notar que nem todos buscam a internet da mesma forma e que seus perfis são diferentes, pois nem todos apresentam o mesmo transtorno sendo assim sendo afetados de diferentes formas. De modo que a anorexia e a bulimia consistem em distúrbios alimentares com princípios psicológicos, os quais têm base essencialmente em fatores como: padrão de beleza imposta pela nossa sociedade, influência da mídia e também problemas com os pais, dentre outros. Tanto um quanto o outro visam a magreza, fazendo a pessoa que sofre de tal distúrbio se tornar tão obsessiva quanto a isso, que passa a enxergar sua imagem distorcida, ou seja, mais gorda ou feia do que realmente é. Porém as duas divergem quanto ao modo, pensamentos e conseqüências. Enquanto a anorexia se resume ao fato de que a pessoa pára de comer, a bulimia é a ação de comer excessivamente e após profundo arrependimento, vomitar. A primeira pode chegar ao definhamento do corpo, já a segunda terá sérios problemas de estômago e enormes úlceras no esôfago, devido a grande quantidade de ácido que volta ao cometer o ato de rejeitar o alimento ingerido.

Partindo para a questão do quanto afeta a mente, nos dois casos, após um tempo, a pessoa não verá mais graça em se sociabilizar, afinal não é interessante sair para jantar com um grupo de amigos, ou até mesmo com os próprios pais, e não comer. Deste modo, por muitas vezes, será necessária a criação de algumas pequenas mentiras como: “já comi antes”, as quais, mesmo que inconscientemente, acabam contribuindo para uma maior isolação. Sentindo-se só e cada vez mais afastada, por não encontrar no mundo “real” pessoas semelhantes, por vontade própria ou (inconscientemente) automaticamente, sem perceber, a pessoa acaba encontrando na internet um meio onde pode discutir se abrir e trocar informações ao perceber que existem outras passando pela mesma situação que a sua. Assim, pode-se concluir que quem passa por este tipo de distúrbio, encontra na internet uma “escapatória”, um esconderijo, no qual pode dividir seus segredos e suas aflições, não sendo necessário se expor para quem não faz parte deste mundo que criaram e que está restrito para si mesmo.

Deve-se ressaltar que há cura, por mais difícil que seja. No caso da bulímica pode ser mais fácil, pois seu problema é causado apenas pela baixa estima. Já a anoréxica, tem alta estima, pois não precisar se alimentar causa nela uma sensação de superioridade, acreditando possuir controle principalmente sobre sua alimentação, dentre outros fatores, e, inconscientemente tendo como objetivo controlar todos que estão à sua volta. Esse sentimento de controle torna a anoréxica mais inatingível, dificultando o processo de reabilitação, pois esta acredita estar controlando a si e aos outros, se sentindo dominadora da situação.