Julho de 2007 - Nº 06    ISSN 1982-7733
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Será que eu sou um ‘viciado’ em computadores?


Por Rosa Maria Farah

Psicóloga, professora da Faculdade de Psicologia da PUC-SP, coordenadora do NPPI*.

Como diferenciar o uso adequado e criativo dos computadores (ou da Internet) da ‘compulsão’, ou seja, do uso abusivo e possivelmente patológico dessas novas tecnologias ? Nos últimos tempos essa tem sido uma das perguntas mais freqüentes nas mensagens enviadas à nossa equipe, tanto pela mídia de forma geral, quanto pelos visitantes da página do nosso serviço de orientação à população, realizado pelo grupo do NPPI* junto a Clínica Psicológica da PUC-SP.

Com a crescente ampliação do acesso da população a esses equipamentos, mais e mais pessoas têm nos escrito demonstrando grande preocupação com os usos excessivos dessas novas ferramentas colocadas à disposição do ser humano, bem como com os seus efeitos, possivelmente danosos para as rotinas das suas vidas, ou dos seus relacionamentos. Porém, nem sempre é o próprio internauta ‘viciado’ quem nos procura. Mais frequentemente quem nos procura é alguém preocupado com uma pessoa do seu convívio (um filho, amigo ou cônjuge, etc.) pessoa essa que, segundo nosso remetente, estaria ‘viciada’ em algum dos diversos tipos de atividade on-line: jogos, sala de bate-papo, sexo virtual, entre outros.

De forma geral nossos remetentes começam suas mensagens fazendo referência ao graNde número de horas passadas junto ao computador, seja por ele mesmo, seja por essa pessoa sobre a qual nos fala. Em seguida aparecem os relatos das várias queixas sobre os prejuízos observados nas diversas áreas da vida do personagem em questão: isolamento, perdas afetivas, prejuízos para a vida escolar ou profissional, etc.

Frente a essa crescente demanda, nossa equipe se interessou em refletir com maior atenção sobre essa questão, visando fornecer acolhida e ajuda a essas pessoas na forma de um programa de orientação psicológica especialmente dirigido às pessoas que se defrontam com essas dificuldades. 

Iniciamos essa tarefa pela busca de resposta a algumas questões essenciais: Nos perguntamos, por exemplo, como poderíamos avaliar se a preocupação presente nos relatos recebidos realmente procedia. Como identificar, com maior clareza e isenção, se os relatos feitos sobre o uso dessa ferramenta realmente poderiam ser considerados patológicos, ou seja, como podemos diferenciar o ‘uso criativo’ do ‘vício’ em computadores? Finalmente, nossa pergunta principal: de que forma poderíamos ajudar essas pessoas a lidar com suas dificuldades?

Resolvemos buscar na literatura o que já se sabia a respeito do tema, e constatamos que no Brasil ainda são raras as pesquisas nessa área, até porque a Internet aberta demorou certo tempo a chegar até nós. Porém, percebemos que no exterior alguns pesquisadores já se ocupavam dessa questão, e já haviam estabelecido alguns critérios para a avaliação dos efeitos gerados pelo uso intensivo das novas tecnologias sobre a vida dos seus adeptos. E esse foi, então, o nosso ponto de partida. 

Uma das pesquisadoras pioneiras dessa área – a Dra. Kimberly S. Young - selecionou uma lista de questões para serem respondidas pelo usuário que queira fazer uma auto-avaliação sobre o seu próprio uso dos computadores. Antes de apresentarmos essa questões, cabe aqui salientar que esta autora não usa o termo ‘vício’, pois prefere usar a expressão ‘dependência da internet’. Assim, com base nas suas observações estabeleceu que a pessoa que responda ‘sim’ a cinco ou mais das perguntas abaixo pode ser considerada como dependente da internet:

  

  1. Você se sente preocupado com a Internet: pensa sobre as suas conexões anteriores ou antecipa as suas próximas conexões?
  2. Você sente necessidade de usar a Internet com crescentes períodos de tempo de conexão para poder atingir satisfação?
  3. Você já fez tentativas repetidas de tentar, sem sucesso, controlar, diminuir ou parar de usar a Internet?
  4. Você se sente inquieto, mal-humorado, depressivo ou irritado quando tenta diminuir ou parar o seu uso da Internet?
  5. Você fica on-line mais tempo do que tinha planejado?
  6. Você desafiou ou colocou em risco a perda de relacionamentos significativos, trabalho, escola ou oportunidades de carreira por causa da Internet?
  7. Você já mentiu para membros da família, terapeuta, ou outros para esconder a extensão de seu envolvimento com a Internet?
  8. Você usa a Internet como uma forma de escapar de problemas ou para se aliviar de um mau humor (ex.: sentimento de solidão, culpa, ansiedade ou depressão)?

Tanto nas questões acima, quanto na nossa observação e nas opiniões de outros estudiosos, a quantidade de tempo passado diante da máquina não parece ser o principal fator preocupante, ainda que possa ser um dado relevante quando esse tempo for claramente excessivo. Um exemplo deste tipo de situação seria o conhecido caso, amplamente divulgado nos noticiários, dos jovens orientais que acabaram morrendo após permanecerem longos períodos de tempo conectados em atividade de jogos on-line. Porém, nos relatos que temos recebido aparecem com freqüência casos de pessoas que estão sofrendo sérios prejuízos em suas vidas, muito mais pelo tipo de uso feito durante suas navegações, do que pela quantidade do tempo de conexão.

Há um outro aspecto que merece ser destacado no estudo deste problema. Ao realizarmos a orientação das pessoas que nos procuram propomos que façam uma reflexão passo a passo sobre as queixas relatadas. Durante esse processo percebemos que ao avaliarem cuidadosamente suas formas de uso dos computadores sua percepção do problema relatado logo se amplia, ou seja: a queixa inicial, motivadora da sua procura (seu relacionamento com a máquina) logo dá lugar a uma percepção mais ampla sobre suas demais inquietações e conflitos, as quais acabam por se revelar como sendo as reais questões que parecem estar na base dos problemas expressos via máquina.

Nesse sentido o uso compulsivo da Internet e dos computadores não parece ser tão diferente dos outros tipos de comportamentos compulsivos (seja pela busca abusiva da bebida, comida, jogos, compras, sexo, trabalho, etc.). Mais do que um problema em si mesmo, estes comportamentos parecem ser, na verdade, sinais ou ‘sintomas’ de que algum outro aspecto de vida dessa pessoa clama por atenção, conscientização e possíveis reorganizações. Desse modo, quando esta tomada de consciência acontece, um primeiro passo foi dado na direção da real solução da sua dificuldade.

Por esse motivo, independentemente do tempo que alguém passe diante do seu computador, a nossa recomendação a quem deseje avaliar o seu próprio uso dessa ferramenta é no sentido de que faça uma reflexão sincera e cuidadosa sobre a forma e a qualidade com que o micro e a Internet estão sendo utilizados. Esse uso está acrescentando qualidade e criatividade à sua vida? Está servindo como um recurso que facilita a sua busca de conhecimento? Está ampliando seus contatos sociais, profissionais e afetivos? Ou o seu uso do micro está, na verdade, levando-o a restringir seus relacionamentos, preferindo – por exemplo - os contatos virtuais aos encontros presenciais com as pessoas? Sua saúde, seu sono ou sua produtividade (profissional ou escolar) estão sendo prejudicados? Em suma: A máquina está a seu serviço, ou você está se deixando escravizar pelo seu poder de fascínio e sedução?

Você já deve ter percebido que a grande questão a ser respondida é, em síntese, se a presença da informática em nossas vidas está sendo um fator que a enriquece ou que a restringe. Porém, essa avaliação nem sempre é fácil de ser feita de modo isento, apenas pelo seu usuário. Muitas vezes uma ajuda profissional externa é necessária, especialmente quando os aspectos sedutores do mundo virtual estão se prestando a servir como ‘escudos protetores’ diante das nossas reais dificuldades e conflitos.

Iniciamos esta conversa com a colocação de uma pergunta: “Será que eu sou um viciado em computadores?” Se as reflexões aqui apresentadas foram suficientes para que o leitor tenha encontrado sua resposta, ótimo: Valeu essa nossa conversa. Porém, se a sua dúvida ainda permanece, estamos à disposição para ajudá-lo a refletir sobre essa questão, de forma pessoal e individualizada. Basta que nos envie uma mensagem ao endereço do nosso serviço (nppi@pucsp.br) relatando suas dificuldades. No prazo mais breve possível nossa equipe entrará em contato com você.

NPPI – Núcleo de Pesquisas da Psicologia em Informática é o grupo responsável pelo Serviço de Informática da Clínica Psicológica da PUC-SP. Os psicólogos dessa equipe dedicam-se ao estudo das questões e problemas surgidos com a entrada das novas tecnologias no nosso cotidiano, bem como com o desenvolvimento e oferta de serviços psicológicos mediados por computadores. Mais informações na página: www.pucsp.br/nppi

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