Julho de 2007 - Nº 06    ISSN 1982-7733
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JJ entrevista profª. Olgária Matos


Olgária Matos é professora de Filosofia Política do Departamento de Filosofia da FFLCH-USP e autora, entre outros, de Os Arcanos do Inteiramente Outro ­ A Escola de Frankfurt, a Melancolia, a Revolução (Brasiliense), Filosofia: a Polifonia da Razão (Scipione)

JJ - Como a ética se vincula às relações virtuais?

A palavra ética provém de ethos que significa caráter (e de uma maneira mais ampla, um caráter adquirido). Então se criam comportamentos pautados em valores comuns compartilhados ao longo da História, tanto em nível individual como coletivo. Ética diz sempre respeito ao bem viver das pessoas em sociedade, supõe laços afetivos. Se nós transferirmos esses valores para o mundo virtual, temos que, embora a presença física seja insubstituível, se consegue na Internet algum nível de relacionamento em que uma presença é distante e uma distância é próxima. Isso indica uma mudança na percepção de tempo de espaço que afeta diretamente os valores de convívio real. Logo, pode existir uma ética virtual, mas é uma ética que já não compartilha elementos comuns. Podemos criar regras que são ou não cumpridas na Internet, mas eu não acredito na produção de uma nova ética.

JJ - E como fica a questão do anonimato?

Como é que nós vamos ser éticos se estamos protegidos pelo anonimato? Vivemos um impasse. A assimilação de valores éticos de comportamento não está dada, portanto, não adianta forçar com elementos autoritários e repressivos porque de nada isso servirá. Aqui no Brasil, entendemos o público como não sendo de ninguém, enquanto, na realidade, o termo originalmente significa aquilo o que é de todos. Há uma completa inversão.

JJ - Como é pensar na Internet como criadora de grupos que partilhem de um mesmo padrão de comportamento, se valendo, por exemplo, do I-Doser?

Isso que você diz é uma coisa que pode acontecer na Internet, mas antes já estava fora dela. Embora atraia e possa ampliar esse espectro, eu não entendo que a Internet aja de maneira autônoma ao que já está pregado a ela, uma vez que quem não está predisposto a isto, vai olhar outras coisas na rede e passar longe do I-doser, por exemplo. Para mim, as mesmas personalidades que entrariam no mundo das drogas fora do computador, é que estão sujeitas à essa tendência do universo virtual também. Isto é, não parece claro que seja a Internet quem produz esse tipo de comportamento, ainda que ela endosse. Lógico que ela é facilitadora, ainda mais dentro de uma sociedade que funciona por mimetismo direto; pela instantaneidade de repetição de comportamentos. E por que se dá essa repetição instantânea? Por não haver pensamento envolvido mediando o que é oferecido na internet. Essa cognição não existe mais, esse é o ponto.

JJ - Qual o papel da mídia nisso tudo?

A mídia, pela sua própria natureza, está ligada essencialmente ao comércio e à publicidade. Então ela pode minimamente agir indiretamente, mas o que deve prevalecer é o lucro. Não há como associar mídia e civilização enquanto não houver uma autonomia relativa da política  com respeito ao lucro. Não há. A natureza dela é assim. O que adianta você ter um aperfeiçoamento progressivo da mídia digital se a sua programação continua de péssima qualidade? Em que nos interessa? E os lugares onde encontramos informação de qualidade são inacessíveis para a maioria, e ainda assim, se fossem acessíveis, não seriam compreendidos porque ela faz uma comunicação de massa, pra que seja assimilada por todos. Ao que tudo indica, dado o iletrismo no Brasil e a falta de tradição letrada para a massa, é a televisão que acaba educando o povo, haja vista o que as novelas da globo inserem como temas em debate, como aborto, racismo, etc. Daí você imagina que a educação nacional está na mão da Rede Globo. Então ela é neste sentido e contraditoriamente e até certo ponto civilizatória nesse país, sim.

JJ - Onde a Igreja entra nesse processo civilizatório?

As grandes religiões ocidentais como o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, juntamente ao seu sentido de atender a necessidades afetivas, medos e esperanças, constituem experiências literárias. De que maneira? Os livros sagrados são altamente elaborados. Eles têm tradição, sabedoria, valores e formas de escrita, além de serem documentos históricos, hermenêuticos e antropológicos. Contêm ensinamentos em medicina e propõem, dessa forma, um conhecimento do mundo, uma sabedoria prática que ensina um “viver” e isso deve ser transmitido de geração para geração, permeado, logicamente, pela experiência espiritual. Essas religiões só são grandes porque dão respostas não-paranóicas para a morte, para o desconhecido, para o outro. Resta dúvida de que elas exercem grande papel civilizatório? Entretanto essas religiões também estão meio perdidas. As coisas andam muito confusas e transpassadas pelo papel da mídia. Mas mesmo assim ela ajudam a coibir a barbárie. Isso porque é absolutamente incompatível se relacionar ética ao capitalismo selvagem que vivemos. Logo, não se trata de ser a Internet, responsável, uma vez que ela é apenas uma expressão dessa desregulamentação (é a irracionalidade do capital).

JJ - Diante disso, não nos resta nenhuma saída?

Resta. E muitas. Aliás, isso é próprio da História. Esse ponto de virada. Nós estamos no apogeu da civilização técnica e no apogeu da destruição do planeta. Estamos no limiar da verdadeira democracia e da barbárie. Logo, nunca se teve tantas saídas a resolver. Resta ao homem a escolha. A criminalidade no Brasil, mas também em outros países, não são fruto da escassez, mas por uma abundância mal distribuída. Seria possível pela tecnologia, não só acabar com a fome no mundo, como ainda produzir luxo e cultura para muitos. Então, embora vivamos nessa barbárie, estamos também num momento que poderia ser civilização.

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