Julho de 2007 - Nº 06    ISSN 1982-7733
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Modernidade: encantamento e armadilhas


Maria Helena Villas Boas Concone

Antropóloga, professora do Depto de Antropologia/PUC-SP e da Pós-graduação em Ciências Sociais/PUC-SP

Vivemos hoje um mundo de mudanças aceleradas. Tecnologias que foram fruto de amplas mudanças técnicas e não técnicas provocam novas mudanças – técnicas e não técnicas. Diz Balandier, antropólogo francês, que a modernidade contemporânea, a “sobre-modernidade”, significa “movimento e incerteza”.

Idéias, coisas e até pessoas são rapidamente descartadas porque são vistas como ultrapassadas Para ficar nas “coisas”, pen-drives tornam obsoletos os disquetes, o LP substituiu as antigas gravações em rolo, o CD substituiu o LP, a reprodução ótica substituiu as anteriores; os aparelhos de som encolheram e ganharam  qualidade. Tornaram-se portáteis. Armazenar músicas em CDs gasta menos espaço que tê-las em LPs; mas pode-se armazenar músicas num pen-drive e ouvi-las confortavelmente  com um fone de ouvido ... Música para um só. Seria impossível (ou, no mínimo, tremendamente desconfortável) ter, por exemplo, no nosso carro, um rádio de válvulas, seria quase um outro passageiro. Um Alien silencioso.

Na euforia da renovação da modernidade, no encantamento do novo, uma certa atenção às armadilhas deve ser percebida. Alguns exemplos ligeiros podem ajudar. Especialistas  afirmam que algumas alterações técnicas na indústria fonográfica, não levaram necessariamente a uma maior qualidade e fidelidade das gravações. Ao que parece, as gravações em rolo eram de excelente qualidade. Os ganhos na inovação tecnológica foram de outra natureza e sem dúvida levaram a uma democratização no mercado musical, isto é, possibilitaram um acesso mais generalizado à produção fonográfica.

Indo para outro extremo, mas sem abandonar o universo das comunicações on-line, podemos lembrar que todos os Bancos põe hoje à disposição dos clientes serviços como o “banco eletrônico” e no próprio espaço físico, terminais eletrônicos. São sem dúvida facilidades apreciáveis; tiram-nos de muitos apertos. A contrapartida são os riscos eventuais pelos quais o responsável é o próprio usuário que deve estar atento aos procedimentos para sua segurança. Na boca do caixa, quando “cai o sistema” ficam todos imobilizados; não há procedimentos manuais substitutos.

Outra conseqüência, esta social, é o corte de  funcionários. Tomemos o exemplo de um cliente que queira programar pagamento automático, mês a mês, de um IPTU; ele precisa se converter momentaneamente em bancário, pois a programação deve ser feita por ele num dos terminais.   Menos empregados, mais desempregados e, nós ainda pagamos uma taxa pelo serviço realizado (por nós). Tudo isso é apresentado apenas como um benefício ao cliente.

Falou-se muito também do trabalho on-line realizado em casa e não num escritório. Vantagens: “você faz o seu horário; não perde contato com a família, etc., etc.”. De fato, há vantagens e desvantagens: o profissional deve cumprir um montante de tarefas para ter um salário que compense e para isso pode ficar debruçado no computador muito mais horas do que suspeitaria; não separa a casa do escritório o que acaba fazendo com que o trabalho invada os momentos de convivência; não tendo contato direto com outros profissionais do ramo seguramente fará parte de uma categoria pulverizada na qual as reivindicações serão mais difíceis de serem atendidas.

Voltando ao bate-papo: ele amplia virtualmente as relações e com freqüência elimina ou diminui as relações face a face. Num momento de vida em sociedade onde os valores propriamente comuns são praticamente descartados em nome de um individualismo exacerbado (fica-se entre “salve-se quem puder” e “Mateus, primeiro os teus”), a pseudo  socialização via Internet pode ser perigosa se  transformada em única opção. Sem dúvida as salas de bate-papo, os “chats”, podem dar origem a relações face a face. Muitos namoros foram iniciados via Internet, alguns resultaram em encontros, alguns em casamentos e outros estacionaram no “namoro virtual”.

Para muitos, “navegar na Internet” é quase um vício, um comportamento compulsivo, para outros, supre de modo que consideram seguro (à distância) a necessidade de contatos; há ainda os que por comodidade ou por fobia de espaços abertos usam a Internet para suprir necessidades materiais (super-mercado, farmácia, pizza, etc,etc.).

Finalizando, quero lembrar que na última Revista da Folha (domingo, 27 de maio de 2007) vários artigos chamam a atenção. O destaque de capa diz: “muito mais gente do que você imagina ainda escreve cartas no Brasil”. Segundo o artigo correspondente, “cerca de 850 milhões de cartas – cartas mesmo, de pessoa física para pessoa física – passam pelos postos dos Correios”. De acordo com a articulista, “em 1994 quando a Internet começava a se alastrar por aqui, os Correios circulavam  4,6 bilhões de objetos postais. Hoje esse número dobrou. Ou seja, mesmo com o advento do e-mail as pessoas não deixaram de postar a correspondência, comercial é claro, mas também a pessoal”. Claro que, como os tais objetos postais incluem também encomendas, pode-se supor que parte dessas encomendas foi feita via Internet; Internet e Correio se completam. Mas as cartas pessoais segundo dados do artigo crescem progressivamente. Os exemplos apresentados de missivistas incluem idosos, adultos e jovens, todos acreditando no valor afetivo da palavra escrita a mão, encerrada num envelope e enviada pelo Correio. A MPB guarda exemplos saborosos de cartas de amor ou de rompimento; o filme Central do Brasil foi também uma verdadeira poesia, resgatando a figura da “missivista de aluguel”, redigindo cartas para analfabetos ou “de poucas letras”.

Ouvi de um aluno a história de um homem apaixonado que escrevia por mão de terceiro, já que era analfabeto, cartas e cartas para a amada, ela também analfabeta. Casaram-se depois de algum tempo da separação costurada por cartas ditadas, guardadas carinhosamente numa caixa de sapatos, mais de 20 anos depois.

Voltando à Folha. A mesma Revista fala das modificações sofridas (“alterações na sua fisiologia”)  pelo polegar humano graças ao uso de celulares e vídeo-games, fato descoberto  por pesquisa realizada na “Unidade para o Estudo da Cultura Cibernética, da Universidade de Warwick no Reino Unido”. Não preciso dizer que as alterações no polegar foram fundamentais no processo de evolução da espécie. Ao que parece teremos um novo conjunto de mutantes aptos às solicitações modernas ... Finalmente, na mesma Revista fala-se da “febre” das câmeras digitais e do surgimento em 2004 “do álbum de fotos on-line Flick” (o título introduz o neologismo:”flick –se”).

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