Maria Helena Villas Boas Concone
Antropóloga, professora do Depto de Antropologia/PUC-SP e da Pós-graduação em Ciências Sociais/PUC-SP Nesse novo mundo moderno, digitalizado, virtual, já se proclamou muitas mortes, uma delas, das que mais me assustam, é a morte do livro impresso. Buscar informações via Internet é um recurso interessante, muitas vezes extremamente importante; mas nada pode substituir a investigação, a pesquisa em várias fontes e a leitura.
A valorização exagerada, ou melhor, exclusiva, da informação encontrada na Internet (muitas vezes impressa diretamente, sem retoques, críticas ou comparações) pode prestar um desserviço à educação e ao conhecimento. É a substituição do conhecimento pela informação. Informação muitas vezes superficial e descartável, respondendo a uma necessidade imediata, como um trabalho de escola, por exemplo. Acredito, entretanto, que o livro resistirá às novidades. Por falar nisso, leiam o livro do filósofo Michel Serres, chamado “A lenda dos Anjos”. O autor fala de mensageiros e mensagens. A Internet pode ser um dos anjos?
Eu disse de início que o uso do cachimbo faz a boca torta. Gostaria de ter escrito de modo mais leve, entretanto, este é um assunto de peso. Não gostaria, todavia, de passar a impressão de que sou contrária às diversas formas de modernização ou que desprezo alguns usos da Internet. Ao contrário. Creio que todas essas inovações vieram para ficar e que podem facilitar a nossa vida. Um dos meus filhos tem um site onde expõe sua arte; com o outro, biólogo, trabalhando no Pantanal a Internet é mais um caminho de comunicação.
A preocupação é que todos nós, velhos e novos, fiquemos atentos para que essas inovações joguem a nosso favor. A favor de uma vida digna de ser vivida. Não podemos deixar morrer o espírito crítico, nem nos deixar seduzir cegamente pela técnica e pelas sociedades tecnológicas. Nunca como neste pequeno texto usei tantas palavras saídas do inglês falado nos EUA. Para alguns termos não criamos correspondentes em português (entretanto os franceses dizem “souris” para o “mouse”), alguns termos têm correspondente em português mas se dá preferência ao inglês (exibicionismo?), com outros tantos atropelamos o léxico para nos aproximar da outra língua (Para que inicialização? Início não nos basta?). Com a desculpa de uma linguagem de computador perdemos a identidade.
Há muitas formas de colonialismo. O colonialismo cultural está longe de ser o menos grave. Não podemos ser escravos da tecnologia. A Internet deve ser um instrumento nosso e não o contrário.
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